democracia

Em meio a filas de três horas para votação, brasileiros em Dublin relatam desejo de mudança

Votação do primeiro turno na Irlanda terminou com ampla vantagem de Lula

Dublin |
Uma multidão de eleitores espera sua vez de votar; brasileiros buscam dialogar com o TSE para melhorar a estrutura da votação em Dublin - Natalia Campos

O primeiro turno da votação para presidente do Brasil na Irlanda aconteceu em um inesperado dia de sol que fugiu aos padrões do outono irlandês. Um dia sem chuva e muita, muita espera para uma aparentemente inesperada multidão de brasileiros que foi votar no domingo. Embora o número de eleitores tenha aumentado em 500% de 2018 para 2022, o local escolhido para recebê-los não parecia apropriado para os mais de 12 mil aptos a votar no primeiro turno. 

Foram dezesseis urnas para 12.719 eleitores. Cada urna recebe em média, 700 eleitores. As pequenas salas da escola de inglês são capazes de acomodar no máximo, quinze estudantes por turno de aula, de manhã e de tarde.

Com 8065 votos nominais, 25 brancos e 56 votos nulos, o comparecimento dos residentes no país ficou acima da média dos votantes no exterior. O primeiro colocado foi Luiz Inácio Lula da Silva, com 6037 votos. Jair Bolsonaro veio bem atrás e teve 1112 votos. Ciro Gomes que em 2018 ficou em primeiro lugar, terminou em terceiro lugar com 334 votos. Simone Tebet recebeu 164 votos e Felipe D’Ávila, 94. 

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O dia transcorreu sem incidentes. A Garda (polícia irlandesa) teve que chamar reforço para desviar o trânsito do local. Um dos policiais que fazia ronda de bicicleta reagiu com bom humor diante da multidão: "Parada gay em outubro?"

Embora o clima fosse de carnaval, festa em que todos os problemas são deixados para depois, alguns eleitores manifestaram sua preocupação e ansiedade em votar para resolver os problemas do Brasil o quanto antes. Muitos expressaram o entendimento de que a eleição era uma aguardada possibilidade de mudança. "Isso é muito forte, podemos decidir com essa eleição o nosso futuro, vamos cumprir o nosso dever!" declarou a eleitora Bruna Alves enquanto esperava pacientemente pela sua vez. Centenas de eleitores chegaram a esperar 3 horas para depositar o seu voto na urna eletrônica. O quarteirão ficou pequeno e o zig zag humano que se formou em frente ao prédio causou uma fila de 8km de extensão. 

Aline dos Santos disse "que se fosse preciso, ficaria 5 horas para poder votar". Em março de 2021, ela teve que deixar Dublin às pressas para estar com o pai, Gilson dos Santos, no Brasil. Em meio ao então elevado índice de contágio da pandemia com voos para o Brasil reduzidos, ela conseguiu embarcar em um fretado de repatriamento que decolou de Portugal.

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"A vacina chegou tarde para o meu pai" contou. "Ele foi infectado uma semana antes da data marcada para receber a primeira dose. Meu pai tinha boa saúde, era atleta, nadava. Ele foi perseguido durante a ditadura, era um homem ativo politicamente", relatou ela. 

Aline aguardava o início da apuração com ansiedade enquanto relembrou os últimos dias se seu pai na UTI.  "Foi muito doloroso acompanhar o processo de avanço da doença, com meu pai na UTI e recebendo todos aqueles tubos e aparelhos respiradores". 

Como descrever o sentimento ao assistir o presidente da república imitando as dificuldades de respiração dos doentes? Aline silenciou. Uma longa pausa seguida de um desabafo de tristeza e indignação. "Meu pai foi diretor da Caraíba metais, perseguido durante a ditadura, um homem que lutou pela democracia. Ele lutou a vida inteira para morrer sufocado em uma cama de hospital. Ele faleceu no dia do seu aniversário, 9 de maio de 2021. Meu pai estava lutando para respirar! Quando eu penso em Bolsonaro e em tudo que ele fez, é difícil de acreditar. Fico imaginando a alegria do meu pai festejando essa eleição".

Ao final da votação, que teve que receber eleitores até as 19h30 (horário local), apoiadores de Lula se reuniram em um pub na região próxima ao colégio para aguardar o resultado.

Para o segundo turno, vários grupos de brasileiros estão se organizando pelo WhatsApp e enviando mensagens ao TSE para que se mude o local de votação para um espaço mais adequado.

Edição: Thalita Pires