PT e PL protagonizam as eleições de 2022 e sairão fortalecidos para o próximo ciclo de quatro anos. Os petistas elegeram mais governadores e largaram na frente na disputa pela presidência da República. Por outro lado, a sigla bolsonarista conseguiu a maior bancada no Senado e na Câmara dos Deputados.
No entanto, levantamento feito pelo Brasil de Fato mostra que proporcionalmente o PT foi o partido mais vitorioso das eleições. Os petistas elegeram 17,34% dos 1.119 candidatos que lançaram para os cinco cargos que estão em disputa neste ano: presidente da República, governador, senador, deputado federal e deputado estadual.
Em seguida, aparece o PL, sigla que mais lançou candidatos em 2022, 1.618. Do total, 14,65% conseguiram se eleger nas urnas. Petistas e liberais aparecem isolados dos demais partidos. Em terceiro, aparece o PCdoB, que apresentou 223 candidaturas e viu 24 concorrentes vencerem, 10,76% de aproveitamento.
“O desempenho do PT indica o que as pesquisas já medem, que é a preferência pelo partido que é, sem dúvida, o preferido pelo eleitor médio, entre aqueles que não rejeitam os partidos políticos. O PT é um partido orgânico, organizado e com estrutura e capilaridade nacional”, explica Vitor Marchetti, cientista político e professor da Universidade Federal do ABC (UFABC).
Para Cláudio Couto, cientista político e docente na Fundação Getúlio Vargas (FGV), “é preciso olhar o conjunto e força do partido”. “Isso tem a ver com a força que esse partido tem do ponto de vista eleitoral e organizacional, claro que a legenda fez um cálculo de quantos candidatos ele lançaria e quantos seriam eleitos”.
Para Marchetti, os dois partidos, que tiveram suas trajetórias nas eleições catapultadas pelo desempenho dos dois presidenciáveis, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), souberam utilizar os recursos financeiros que acessaram.
“Ao ser impedido o financiamento de empresas privadas, favoreceu-se os partidos mais bem colocados em 2018. Então, PT e União Brasil tiveram acesso a bons valores. O PL, além do fundo, teve a enxurrada de dinheiro que veio com o Orçamento Secreto”, explica o professor da UFABC.
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Couto acredita que, para além do aproveitamento dos recursos, existe uma ciência na escolha das candidaturas. “Falando de força eleitoral, isso pode ter a ver, sim, com candidatos que tem histórico e que são conhecidos do público. Mas enfatizo a capacidade dos partidos de fazerem um cálculo que faça sentido, do ponto de vista das suas chances. O PT foi muito bem desse ponto de vista, é o partido mais organizado do país e tem muita força. O PL também foi muito bem, soube calcular sua chance. É isso que esses números expressam.”
Ameaçados pela cláusula de barreira, PCdoB e PV, que terminaram a eleição com 10,76% e 8,36% de aproveitamento, respectivamente, se uniram ao PT e construíram uma das federações deste ano. O resultado foi positivo e a federação aumentou sua bancada federal em 17% em relação a 2018.
“PCdoB e PV estão na federação do PT, isso conta muito. O PCdoB é muito organizado e sempre calculou muito bem sua capacidade eleitoral, eles nunca lançam candidatos demais, o cálculo é sempre mais exato. Mas acho que devemos considerar a força da federação”, pondera Couto.
Desempenho ruim
Chama a atenção o desempenho ruim de partidos tradicionais, como PDT e PSDB, e também o baixo aproveitamento do PSOL. O primeiro, lançou 1.369 candidaturas e elegeu apenas 60, o equivalente a 4,38% dos concorrentes que chegaram às urnas.
O PSDB segue encolhendo, em números absolutos e proporcionalmente. O partido aparece em décimo, no cálculo por desempenho. Os tucanos lançaram 975 candidatos e elegeram apenas 67, sendo 54 deputados estaduais e 13 deputados federais, nenhum governador (até o momento, quatro disputam o segundo turno) e nenhum senador, 6,87% do total.
“O PSDB vive uma situação dramática, é um partido ultradecadente e já não existe mais, não da maneira que foi criado, se descaracterizou por completo, virou um partido muito à direita e sem qualquer traço de social democracia. O PSDB perdeu muitos quadros, os mais velhos estão abandonando o partido”, pondera Couto.
Atrás dos tucanos, estão o PDT, de Ciro Gomes, e o PSOL, que não lançou um candidato à presidência da República, fator que nacionaliza a legenda em ano eleitoral. O desempenho das duas legendas foi decepcionante, com 4,38% e 3,66% de aproveitamento.
“A queda do PDT”, explica Marchetti, “está ligada à desidratação da candidatura nacional. Ciro é um candidato que não apenas desidratou, mas que tomou decisões que prejudicaram o desempenho do partido.”
Para Couto, o aproveitamento dos pessolistas foi “decepcionante”. “O PSOL também é organizado, evita lançar candidatos demais. Mas, do ponto de vista do desempenho, ficou abaixo do PDT, não teve uma votação tão boa. Se achamos que o PDT teve um desempenho ruim, o PSOL também teve. Talvez o PSOL devesse lançar menos candidatos, mas tem uma militância muito aguerrida e isso cria uma demanda por muitas candidaturas.”
“PTB deve desaparecer”
Para além dos partidos que zeraram nas eleições, sem conseguir eleger nenhum candidato, chama a atenção o péssimo desempenho do PTB e do Novo, que terminaram com 0,66% e 1,88% de aproveitamento, respectivamente.
“O Novo tem um problema sério, surgiu na antipolítica, mas perdeu força na era do bolsonarismo, eu brinco que o Novo é o bolsonarismo que come de talheres”, analisa Couto. “O Novo é um partido que não se consolidou, perdeu rumo e direção”, conclui Marchetti.
Para ambos, as dificuldades eleitorais dos dois partidos estão associadas a uma relação umbilical ao bolsonarismo, que já tinha candidatos próprios e não precisava de genéricos em outras legendas.
“O PTB tentou fazer esse movimento de se vincular ao Bolsonaro, mas os bolsonaristas foram para o PL, onde teriam mais recursos e acesso ao Orçamento Secreto. Enfim, se aliaram muito ao bolsonarismo, mas perderam uma série de lideranças da extrema-direita”, afirma Marchetti.
Para Couto, “o PTB foi destruído por dentro pelo Roberto Jefferson, que colocou o partido na condição de linha auxiliar do bolsonarismo. Mais uma vez, é um partido que não se distingue do bolsonarismo. É um partido que deve desaparecer e perder a relevância.”
Edição: Glauco Faria