Eleições 2016

Artigo: Requião Filho (PMDB), herdeiro das velhas oligarquias

Deputado estadual está entre os cinco candidatos à prefeitura de Curitiba que vêm de famílias tradicionais da política

Curitiba (PR) |
Requião Filho é candidato pelo PMDB, apresenta Jorge Bernardi (Rede) e participa da coligação entre PMDB e Rede Sustentabilidade
Requião Filho é candidato pelo PMDB, apresenta Jorge Bernardi (Rede) e participa da coligação entre PMDB e Rede Sustentabilidade - Isabella Lanave

Nove candidatos disputam as eleições pela Prefeitura de Curitiba em 2016. Além do candidato à reeleição Gustavo Fruet (PDT), concorrem no pleito o ex-prefeito Rafael Greca (PMN), os deputados estaduais Requião Filho (PMDB), Ney Leprevost (PSD), Tadeu Veneri (PT) e Maria Victória (PP), a advogada e militante feminista Xênia Mello (PSOL), o empresário Ademar Pereira (Pros) e Afonso Rangel (PRP), pró-reitor da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). 

Em geral, uma radiografia das relações de parentesco dos candidatos nos leva a uma constatação: dos nove, cinco vêm de famílias tradicionais da política. E é exatamente estes cinco candidatos que possuem as maiores coligações na disputa. Isso vale para o atual prefeito, Gustavo Fruet, como para seus principais adversários, Requião Filho, Rafael Greca, Ney Leprevost e Maria Victória Barros. Todos são herdeiros diretos e indiretos das velhas oligarquias que dominam o Paraná para tentar gerir o Estado com suas novas gerações. Os partidos não são mais do que braços dessas famílias.

Vejamos as relações de parentesco na política e a trajetória do atual prefeito Requião Filho.

Requião Filho (PMDB) 

Vice: Jorge Bernardi (Rede) 

Coligação: PMDB e Rede Sustentabilidade

Maurício Thadeu de Mello e Silva, mais conhecido como Requião Filho, nasceu no dia 24 de outubro de 1979. A carreira do pai no Senado o levou para Brasília, onde acabou se formando em Direito e conhecendo sua esposa, no segundo ano da Faculdade. Em recente entrevista, Requião Filho disse que a política nunca o distanciou do pai, pelo contrário. “Se vocês olharem as fotos, vão ver que acompanhei as campanhas do meu pai desde que era criança de colo”, diz. “Na Prefeitura, tem fotos da minha irmã engatinhando no gabinete. O meu pai sempre fez a opção de manter a família por perto”. Trabalhou nos gabinetes do primo deputado João Arruda e do pai Roberto Requião. Foi eleito deputado estadual em 2014 com 50.167 votos. 

Requião filho é um dos herdeiros políticos da família Requião Mello e Silva. 

Originária da Bahia, a família Requião destacou-se, no Paraná, no ramo comercial. Euclides Requião foi o primeiro desse nome na região. Já os Mello e Silva, também de origem nordestina, tiveram pequena notoriedade no campo da política local, tendo um maior destaque no campo intelectual. A começar por Justiniano de Mello e Silva, doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Córdoba, primeiro da família no Paraná. 

Justiniano, trisavô de Requião Filho, foi bacharel em Direito, chegou ao Paraná em 1876, dentro da itinerância do Império, com o cargo de secretário da presidência de Lamenha Lins. Exercia as profissões de jornalista, polemista e também professor do Instituto Paranaense. Fundou o Colégio Paranaense ou Liceu Curitibano, atualmente o Colégio Estadual do Paraná e mantinha uma atividade intelectual muito considerável no Estado. Foi inspiração para vários poetas simbolistas paranaenses.

Na esfera política, iniciou sua carreira como deputado estadual no período provincial de 1854-1889, e em 1878-1879 foi substituto de Lourenço T. Ribas de Andrade no vigente governo de Jesuíno Marcondes. Três anos mais tarde, também exerceu a legislatura como deputado na esfera paranaense, no então governo de Carlos Augusto de Carvalho. Em 1890, Justiniano participa da fundação do primeiro Partido dos Operários do Paraná, escrevendo o Manifesto de Legitimação do partido. 

Seu filho, o Coronel Wallace de Mello e Silva, foi camarista em Curitiba e também desempenhou a função de deputado estadual de 1914-1915, na vigência da Primeira República, durante o governo de Carlos Cavalcante de Albuquerque. No ano de 1930, o chamado Período Revolucionário, o Coronel Wallace, como era conhecido, voltou a ocupar o posto de deputado estadual no governo de Mário Alves Monteiro Tourinho. 

Por sua vez, seu neto Wallace Thadeu de Mello e Silva, que exercia a profissão de médico psiquiatra, foi indicado pelo governador Bento Munhoz da Rocha Neto para a prefeitura municipal de Curitiba em 17 de julho de 1951, e foi exonerado no dia 1º de outubro de 1951. Posteriormente disputou a eleição para a prefeitura de Curitiba, perdendo para Ney Braga. 

Como assinala Daiane Resende, a disputa de Wallace Thadeu, para a prefeitura da capital, mexeu muito com Roberto Requião, que a partir desse episódio revelou precocemente uma inclinação para a política, proferindo um discurso a carro aberto em favor da candidatura do pai. Roberto Requião foi acumulando capitais na esfera política, cultural e econômica, através de seu bisavô, avô e, principalmente, de seu pai, seu grande inspirador. Roberto Requião de Mello e Silva entrou efetivamente para a política paranaense com 41 anos como deputado estadual, no conturbado período de redemocratização, e se manteve numa seqüência ininterrupta de êxitos eleitorais.

Roberto Requião

Roberto Requião de Mello Silva iniciou sua vida estudantil no Colégio Belmiro César, onde foi alfabetizado pela professora Maria Augusta Juve. Prosseguiu seus estudos no Instituto de Educação do Paraná, Grupo Escolar ‘19 de Dezembro’ e no Internato Paranaense, sendo estas escolas públicas e tradicionais de Curitiba. Seus estudos superiores foram realizados na Universidade Federal do Paraná, na qual obteve o título de bacharel em Direito, no ano de 1966, e na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, onde concluiu o curso de Jornalismo no ano de 1964. 

No período da graduação, Roberto Requião participou da militância estudantil como membro de centros acadêmicos, diretórios estudantis e no teatro universitário. Em sua juventude trabalhou na Fundação de Assistência ao Trabalhador Rural no Projeto Ponto Quatro e liderou o movimento estudantil com ideais de esquerda. Casou-se com Maristela Quarenghi de Mello e Silva, com quem tem dois três filhos: Maurício, Roberta e Ricardo. 

Roberto Requião entrou na política em 1982, quando eleito deputado estadual. Depois foi prefeito de Curitiba (1986-1988), ocupou a Secretaria de Desenvolvimento Urbano no governo Álvaro Dias governador do Paraná por três mandatos (1991-1994, 2003-2007, 2007-2011) e senador pelo mesmo estado (1995-2003, 2010-2018). 

Maurício Requião de Melo e Silva nasceu em Curitiba no dia 19 de setembro de 1954, filho de Wallace Tadeu de Melo e Silva e Luci Requião de Melo e Silva. Em sua cidade natal, diplomou-se em psicologia na Universidade Federal do Paraná (Ufpr) em 1979. Estudou também psicologia social na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, de 1982 a 1983.

Na prefeitura de Curitiba, foi secretário especial da Coordenação de Programas, de 1986 a 1987, e, entre 1987 e 1989, secretário das Administrações Regionais. Entre 1991 e 1994, presidiu a Fundação Educacional do Estado do Paraná (Fundepar). Filiado ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) desde 1980, foi integrante do diretório regional de seu estado, candidatando-se a deputado federal no pleito de outubro de 1994. Eleito, foi empossado em fevereiro do ano seguinte, tendo participado dos trabalhos legislativos como titular da Comissão de Educação, Cultura e Desporto.

Em junho de 2000 Maurício licenciou-se do cargo de assessor de gabinete de seu irmão para disputar a convenção do PMDB de Curitiba que escolheria o candidato para disputar as eleições à prefeitura da cidade no pleito de outubro do mesmo ano. Na ocasião, sua candidatura foi fortemente apoiada por Roberto Requião, descontentando lideranças na cidade e as bases do partido, que preferiam o deputado federal Gustavo Fruet como concorrente ao cargo de prefeito.

O fraco desempenho de Maurício Requião no pleito eleitoral, obtendo apenas 10,0% dos votos válidos, descontentou setores ligados a Fruet que começaram a afastar-se de Requião e de seu grupo político. Neste pleito elegeu-se prefeito de Curitiba o candidato do Partido da Frente Liberal (PFL), Cássio Taniguchi, apoiado pelo governador Jaime Lerner, que derrotou Ângelo Vanhoni do Partido dos Trabalhadores (PT) no segundo turno das eleições, o qual contou com o apoio de Maurício Requião. Nas articulações para a prefeitura de Curitiba de outubro de 2004, Maurício Requião liderou a corrente do partido que defendia o apoio à candidatura de Ângelo Vanhoni (PT), combatendo a facção liderada por Gustavo Fruet que defendia a candidatura própria.

A derrota da tese da candidatura própria na convenção partidária realizada em junho de 2004 determinou o progressivo afastamento de Fruet em relação a Requião e seu grupo político, culminando com seu pedido de desfiliação do PMDB em setembro do mesmo ano. No pleito de outubro, Fruet declarou seu apoio ao candidato eleito no segundo turno das eleições, o ex-deputado estadual Beto Richa (PSDB), que venceu o candidato Ângelo Vanhoni (PT), apoiado pelo PMDB, com 54,5% dos votos válidos.

Outros familiares fizeram parte dos governos de Roberto Requião entre 2003 e 2010. Heitor de Mello e Silva (primo) foi diretor de investimentos da Sanepar, Daniele de Mello e Silva (sobrinha) foi diretora de secretaria de Saúde, João Arruda (sobrinho) foi diretor da Companhia de Habitação do Paraná, Maristela Requião (esposa) foi diretora do Museu Oscar Niemayer, Paikan de Mello e Silva (sobrinho) da Paraná Educativa e Wallace de Mello e Silva, também com cargo no governo.

Requião Filho aparece com o terceiro maior patrimônio entre os nove candidatos a prefeito, com R$ 1,9 milhão declarados. O bem de maior valor é uma unidade em um condomínio (R$ 1,4 milhão). 

*Fernando Marcelino Pereira é graduado em Relações Internacionais pela UniCuritiba, Mestre em Ciência Política e Doutorando em Sociologia pela UFPR

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