Redação RBA
O candidato a prefeito de São Paulo Guilherme Boulos (Psol) defende que “São Paulo é uma cidade rica e dinheiro não falta, o que falta é a prioridade em investimentos sociais”. Boulos participou de debate com os quatro candidatos à frente das pesquisas eleitorais, na manhã desta quarta-feira (11). Participaram também o atual prefeito, Bruno Covas (PSDB), Celso Russomanno (Republicanos) e Márcio França (PSB). Durante a discussão, os concorrentes tentaram criticar a “inexperiência” de Boulos, que respondeu as acusações sobre falta de recursos para suas propostas.
O evento foi realizado pelo UOL e Folha de S.Paulo, em um formato diferenciado para a discussão. O modelo adotado foi com um banco de tempo, na qual cada candidato teve 15 minutos para responder e fazer perguntas, realizar comentários e apresentar suas propostas.
Atualmente, o prefeito Covas lidera as pesquisas. A última Datafolha, publicada no dia 5 deste mês, mostra que o tucano tem 28% de intenções de voto. Já Russomanno aparece em segundo lugar, com 16%. Guilherme Boulos está em terceiro, mas empatado tecnicamente com Russomanno, com 14% dos votos. Marcio França segue atrás, com 13
No debate, Russomanno foi questionado por “negar a realidade”, ao censurar uma nova pesquisa Datafolha, além de minimizar os efeitos da pandemia de covid-19. “O Datafolha me colocou com 29% na primeira pesquisa, mas no máximo eu tinha 26%, segundo minhas pesquisas internas. A metodologia estava errada”, respondeu.
Inexperiência x experiência
Em diversos momentos do debate, o candidato do Psol foi ironizado pelos concorrentes por não ter experiência em cargos públicos. Covas questionou Boulos sobre como realizaria suas propostas, diante de um possível rombo orçamentário da cidade, com a reforma tributária em tramitação no Congresso Nacional. O atual prefeito diz que, caso seja aprovada, a reforma irá tirar R$ 10 bilhões da capital paulista nos próximos dez anos.
Leia mais: Brasil de Fato lança “Prefeitômetro” para ajudar eleitor a encontrar seu candidato
Em seguida, Boulos afirmou que todas suas propostas representam um gasto de R$ 29 bilhões, em quatro anos, diante do orçamento de R$ 70 bilhões da cidade. “Vou criar a renda solidária para atender um milhão de famílias pobres e que custará R$ 14 bilhões. Vamos implementar gratuidade no transporte com um custo de R$ 1 bilhão ao ano. Além de contratar mão de obra dentro da cidade, zerar a fila de creches e contratar profissionais de saúde.
Marcio França ironizou a resposta e disse que “sempre quis ser jogador de futebol no Santos”, mas não conseguiu. “Muitas vezes, você tem boas ideias, mas não consegue colocar na prática, pela falta de experiência”, disse. Em seguida, Covas disse que “entre vender sonho e ilusão, é preciso ter conhecimento e responsabilidade fiscal”.
Em outra resposta, o candidato do Psol criticou a “falta de ambição” dos concorrentes. “Sou tratado como inexperiente, mas tenho compromisso de vida, atuando há 20 anos na periferia, sem tratar as pessoas como estatísticas. Vejo histórias de vida, vendo lugares onde a prefeitura nunca chegou. É o que me diferencia de vocês.”
Saúde
No segundo bloco, os candidatos fizeram perguntas entre si, com tema livre, em ordem definida por sorteio. Cada candidato teve uma pergunta, que foi dirigida a qualquer concorrente, com comentários realizados pelos demais. Em sua vez, Boulos questionou a campanha de Covas que exalta o Programa Corujão da Saúde e a construção de oito hospitais.
Ele lembrou que as filas para atendimentos de saúde aumentaram 70%, entre 2016 e 2020. “Os números precisam refletir a realidade. Você incluiu o Sorocabana na campanha, onde abriu apenas um andar e manteve sete fechados. Incluiu o da Brasilândia que só tem 12 leitos abertos, que começou a construção antes da sua gestão. O hospital Brigadeiro também não foi entregue. Está maquiando números”, criticou o psolista.
O tucano se defendeu. “O Corujão cumpriu um papel de reduzir a fila e o tempo médio para a realização de um exame caiu para 35 dias. Estamos inaugurando oito novos hospitais, que não eram entregues desde 2007. No momento da pandemia, não deixamos ninguém sem atendimento. Nós contratamos 10 mil profissionais só neste ano, mas você não sabe nada de São Paulo, porque nunca governou nada.”
Leia mais: Gestão Covas é alvo de inquérito por contratação irregular de terceirizados
Russomanno discordou da ideia de Covas sobre implantar a telemedicina na rede pública. Já França, por sua vez, afirmou que os R$ 90 milhões gastos nos hospitais de campanha foram mal investidos. “Poderiam ser aplicados nos hospitais em obras para adiantá-las. Montaram os hospitais de campanha sem deixar um legado”, acrescentou.
Ideias para a cidade
No terceiro bloco, cada candidato respondeu uma pergunta enviada por líderes sociais. França falou sobre o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e criticou a falta de isenção do imposto, durante a pandemia de covid-19. Em abril, Covas se colocou contrário ao projeto de lei que previa a criação de medidas econômicas para mitigar os efeitos da crise, como a isenção do imposto.
“Faltou sensibilidade da prefeitura, no momento atual, principalmente com comerciantes e empresários, para não cobrar o IPTU. A gente quer dar uma carência de um ano para que essas pessoas recuperem o fôlego”, defendeu o candidato do PSB.
Celso Russomanno respondeu uma pergunta sobre a infestação de pernilongos e mosquitos em São Paulo. Ele acusou a prefeitura de não realizar a limpeza nos rios Tietê e Pinheiros, porém, a tarefa é do governo estadual. “O prefeito também deixou de fazer a dedetização da cidade”, acrescentou o republicano.
Já o atual prefeito Bruno Covas foi questionado sobre a falta de tratamento humanizado em despejos e a não utilização dos imóveis abandonados na cidade. O tucano disse que sua gestão entregou 25 mil unidades habitacionais, com a ideia de chegar a 50 mil, até 2024. “Será com recursos da prefeitura e também privados. Seremos a primeira cidade a firmar uma parceria com o setor privado”, prometeu.
Por fim, candidato do Psol respondeu sobre a falta de participação popular na definição das rotas do transporte público nas periferias. Boulos defendeu a criação de um conselho participativo, entre suas propostas. “Durante essa gestão (Covas), foram cortadas muitas linhas e a comunidade reclamou. Ajudei movimentos a retomarem linhas cortadas no Capão Redondo. Nós não vamos fazer cortes e vamos dialogar com a população para entender a demanda das rotas, sem tomar decisão dentro de uma sala com ar-condicionado”.