Contaminação

No Pará, pessoas relatam problemas de saúde após vazamento da bacia da Hydro Alunorte

Pesquisadora associa os sintomas a contaminação das águas causada pelas indústrias ao longo de décadas

Belém (PA) |

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casos de alterações na pele, dores abdominais, náuseas e cefaleias foram diagnostica pelos médicos nas comunidades afetadas
casos de alterações na pele, dores abdominais, náuseas e cefaleias foram diagnostica pelos médicos nas comunidades afetadas - Mácio Ferreira/Agência Pará

Moradores das regiões atingidas pelo vazamento de rejeitos de uma das bacias da mineradora Hydro Alunorte, em Bacarena, noroeste do Pará, relatam que tem sofrido com problemas de saúde. O caso ocorreu no dia 17 de fevereiro.

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Elisângela Silvia Dias, de 28 anos, reside na comunidade Bom Futuro, que fica a cerca de 50 metros da bacia que transbordou. Ela conta que depois da contaminação da água do igarapé que fica próximo da casa dela, as filhas começaram a apresentar alguns sintomas.

“Dor na barriga, coceira, está toda cheia de coceira a mais nova e a gente se coça, porque a gente utilizava a água”, detalha.

Casa de Elisângela no dia 17 de fevereiro. As bacias de rejeitos da empresa não suportaram e os efluentes transbordaram, contaminado rios e igarapés na comunidade Bom Futuro / Foto: Elisângela Dias

A moradora afirma que as meninas, uma de 10 e outra de sete anos, não tinham essas doenças antes e relaciona esses problemas ao vazamento da lama de rejeitos. Após levá-las ao hospital, a suspeita de contaminação ganhou força. O médico disse a ela que as coceiras podem ter sido provocadas pelo contato com a água.

Temendo pela saúde das filhas, Elisângela se mudou para outro local na mesma comunidade. A família passou a consumir água mineral que a empresa Hydro Alunorte e a Prefeitura do município tem distribuído.

Em nota, a Prefeitura afirmou que durante quatro dias, a equipe de assistentes sociais visitou 629 famílias e entregaram 1.415 garrafões de água potável. Essas medidas já haviam sido praticadas pela gestão local em outros episódios de vazamentos, como recorda Janilda Gonçalves, coordenadora da Associação de Mulheres do Campo e da Cidade de Barcarena.

“Esse não é o primeiro acidente que acontece dentro do município de Barcarena e sempre as pessoas tratam naquele momento, tentam dar o suporte de água e alimentação, mas depois vão embora e essas pessoas continuam com os mesmos problemas, com as mesmas mazelas, pior, as pessoas continuam doentes”, pontua.

A Prefeitura de Barcarena também afirmou por meio de nota que durante as visitas realizadas nas comunidades afetadas no último final de semana, os profissionais de saúde diagnosticaram “casos de alterações na pele, dores abdominais, náuseas e cefaleias”. Mas a gestão alegou que não é possível associar esses casos ao vazamento de rejeitos químicos da bacia da empresa norueguesa.

O Instituto Evandro Chagas (IEC) coletou amostras de águas de rios e igarapés das comunidades Bom Futuro, Vila Nova e Burajuba e foi verificado a existência de elevados níveis de nitrato, chumbo, sódio e metais tóxicos, substâncias nocivas à saúde humana e animal.

Histórico de contaminações

O município de Barcarena já teve outros registros de crimes ambientais e contaminação. Em 2004, a Universidade Federal do Pará (UFPA), realizou uma pesquisa que concluiu que a água consumida pela população em 26 localidades estava contaminada por metais pesados causados pelas indústrias.

A pesquisa foi desenvolvida pela professora Simone Pereira, coordenadora do Laboratório de Química Analítica e Ambiental (LAQUANAM) da UFPA. Ela explica que em algumas localidades a presença do chumbo estava em níveis acima do recomendado pelo Ministério da Saúde.

“Vila Nova, Burajuba, Distrito Industrial são as três localidades onde você tem um nível muito alto de chumbo chegando no caso de Vila Nova a 12 vezes maior que o máximo permitido pela Resolução 2.914 de 2011 do Ministério da Saúde”, explica.

Ela esclarece que a contaminação por metais pesados, como chumbo, ocorre com o despejo feito no meio ambiente ao longo de décadas. Os mais expostos são trabalhadores em fábricas e pessoas que bebem a água e comem alimentos contaminados.

Edição: Camila Salmazio