Rio Grande do Sul

DEFESA DA EDUCAÇÃO

Estudantes preparam nova ofensiva contra os cortes e a reforma da Previdência

“Somente a nossa luta muda a vida”, defendem os estudantes que convocaram nova manifestação para dia 30 de maio

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Depois de reunir milhões nas ruas do Brasil no dia 15, estudantes chamam novos protestos contra as ofensivas do governo federal
Depois de reunir milhões nas ruas do Brasil no dia 15, estudantes chamam novos protestos contra as ofensivas do governo federal - Foto: Marcelo Ferreira

Com ânimo redobrado, após as mobilizações do dia 15, que tiveram milhões de pessoas nas ruas do país protestando contra as ofensivas do governo federal, estudantes conclamam uma nova manifestação em defesa da educação. Assim como aconteceu no ato anterior, convocado pelos professores, a do dia 30 promete reunir novamente estudantes, trabalhadores, docentes, técnicos, e população em geral.

Enquanto milhões saiam às ruas no último dia 15, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) usava as redes sociais para taxar os manifestantes de "imbecis" e "massa de manobra". Frente à intensa repercussão do ato, o Ministério da Educação (MEC) decidiu liberar mais verbas para a área. A esperança do governo é fazer com que o movimento perca força, enfraquecendo os novos atos marcados para a próxima semana e a grande greve geral do dia 14 de junho. 

“Desde o anúncio do MEC no dia 29 de abril sobre cortes brutais na educação, uma onda de muita coragem e resistência dos estudantes tomou conta do nosso país”, avalia a presidente da União dos Estudantes de Novo Hamburgo (UENH), Pristini Eugênia da Silva Kolás Silveira. Ela lembra que o governo federal anunciou um recuo nos cortes de verba na véspera das manifestações do dia 15 de maio, que ”por óbvio, e assim como tudo nesse governo, foi uma cortina de fumaça para desmobilizar todos aqueles que sairiam às ruas em defesa da educação”, ressalta.

Diferente do que esperava o governo, de que o recuo e o anúncio da liberação de verbas fosse arrefecer o movimento, as manifestações continuaram mobilizadas, aponta Bernadete Menezes, Integrante da Coordenação Geral do Sindicato dos Técnicos Administrativos da UFRGS, UFCSPA e IF-RS (Assufrgs) e da Frente Povo Sem Medo no RS.

“Mudou a situação do movimento depois do dia 15, aumentou o ânimo dos estudantes, o ânimo dentro das universidades. Agora, esse início de recuo do governo mostrou que é possível, com unidade do movimento, começar a impor derrotas a esse projeto, impor uma nova pauta. Queremos discutir não só esses cortes, queremos discutir a Emenda 95. Essa sim, com cortes profundos, causadas pelos 20 anos de congelamento. Queremos a revogação dessa emenda, que está acabando, restringindo a universidade, os institutos federais, a educação pública, a saúde, todos os serviços públicos atingidos por ela”, defende Menezes.

Para Elisabete Búrigo, presidente do Sindicato Nacional de Docentes (ANDES/UFRGS), além de ser uma continuidade do dia 15, a importância da manifestação vai além dos cortes na educação, abarca também a defesa da liberdade de ensinar e aprender e a defesa do investimento na educação pública.

“Estamos hoje muito distantes das condições necessárias para a oferta de uma educação de qualidade. A inclusão no ensino superior público brasileiro é muito pequena, enquanto alguns países chegam a ter 50% dos jovens estudando, o Brasil tem cerca de 4% das pessoas entre 18 e 25 anos no ensino superior. Não podemos apenas resistir a esses cortes, ou a essas ameaças de censura na escola, temos que defender o investimento na educação como um investimento da sociedade brasileira no seu futuro”, argumenta. 

Para além dos cortes na educação

Estudantes foram protagonistas no ato do dia 15 de maio e chamam novo protesto para dia 30 / Foto: Fabiana Reinholz 

Na avaliação do vice-presidente do Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior de Porto Alegre (ADUFRGS-Sindical), Lúcio Olímpio de Carvalho Vieira, o governo tem atestado uma incapacidade de gestão no campo da educação. Para ele, “tudo que tem demonstrando são políticas que visam impedir que a educação pública avance, melhore, cortando recursos, impedindo a seleção de novos professores, impedindo a expansão da rede, dificultando muito que essas universidades e institutos federais consigam manter inclusive seu custeio”.

Para Lúcio, essas medidas em relação a educação tem gerado descontentamento, “portanto é mais do que justo essa manifestação, esse movimento dos estudantes”. O dirigente recorda também o desrespeito manifestado na última quarta-feira (22) pelo ministro da Educação durante a audiência da Comissão de Educação da Câmara de Deputados. Convocado para apresentar as razões pelas quais o governo federal decidiu fazer cortes no orçamento, o ministro recusou dialogar com os estudantes Marianna Dias, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), e Pedro Gorki, o presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES).

“Nessa semana a voz de milhares de estudantes foi silenciada quando os presidentes da UNE e da UBES foram agredidos dentro da comissão de educação, porque o ministro da Educação não quis ouvi-los. A nossa mensagem diante disso é sermos o pesadelo do governo Bolsonaro. Nós vamos atormentar a vida daqueles que querem tirar os nossos sonhos. Ainda não sabemos porque o ministro não quis ouvir os estudantes, mas ficou nítida a forma como os nossos governantes nos enxergam e tratam”, assegura Pristini. 

Pela educação e a Previdência Social 

Dia 30 será de preparação para Greve Geral chamada para 14 de junho / Foto: Fabiana Reinholz

Para a presidente do CPERS, Helenir Aguiar Schürer, a mobilização do dia 30 é fundamental para a resistência e está intimamente ligada à greve geral do 14 de junho, em defesa da Previdência. “O governo sequestrou os recursos da educação para chantagear a sociedade a aceitar o fim da aposentadoria. A Reforma da Previdência e os cortes fazem parte do mesmo projeto: enriquecer bancos e condenar a população à pobreza e à ignorância. Como professores e professoras estaduais, estamos entre os mais atingidos pela reforma e não temos como deixar de falar dos ataques à universidade pública. Nós trabalhamos para que os alunos acessem o ensino superior e o povo precisa entender que estão atacando o futuro dos seus filhos”. 

Helenir chama atenção para a situação do Estado do Rio Grande do Sul. “Além dos cortes determinados por Bolsonaro, o governador Eduardo Leite (PSDB) bloqueou 30% dos repasses das verbas de autonomia financeira para os investimentos em escolas, sucateando a estrutura que atende mais de 80% dos estudantes do estado”, afirma. 

De acordo com a dirigente, o governo segue a política de asfixia do seu antecessor, José Ivo Sartori (MDB). “Estamos em situação de miséria, acumulando empréstimos impagáveis para sobreviver aos 42 meses de salários atrasados e parcelados, e quatro anos e meio sem qualquer reajuste ou reposição da inflação. Colegas estão sem dinheiro para ir trabalhar e escolhendo entre comer ou pagar as contas. Pedimos apoio da sociedade para barrar os ataques à educação no Rio Grande do Sul’, finaliza. 

Na avaliação de Lúcio, assim como acontece com a proposta da reforma da Previdência, o ministro da educação trabalha na perspectiva de que a educação, especialmente a educação superior, se transforme em um grande negócio. “É necessário que a sociedade reaja de forma muito forte para evitar isso, que irá colapsar o país. O Brasil deixará o seu caminho de desenvolvimento, sua independência tecnológica e melhorias das condições cidadãs para se tornar cada vez mais um país dependente, portanto cada vez mais miserável”, denuncia.

A luta é a mesma

Para o presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo, a luta contra a reforma da Previdência não é uma luta isolada. “Os cortes na educação, os mesmos mecanismos que patrocinam esse corte são os que querem liquidar com a aposentadoria da classe trabalhadora. Estaremos no dia 30 junto com os estudantes e professores defendendo o futuro dessa geração toda, que está sendo cortado e roubado com esse brutal corte do financiamento da educação pública”. 

“Só tem um jeito de constranger o fascismo, a violência e essa visão truculenta do presidente e sua equipe. É povo na rua! Eles não são sensíveis a nenhum outro nível de diálogo, de argumentação, de fundamentação ou estatísticas. Eles não estão preocupados com nada disso”, argumenta Claudir. 

“A ação do movimento sindical, dos estudantes e da sociedade como um todo, de repúdio a medidas do governo, tem que ser muito forte para que a gente consiga reverter essa situação, que é muito grave, que abala inclusive os princípios democráticos consagrados na nossa Constituição. O governo tem agido de uma forma perigosa para os direitos humanos”, finaliza Lúcio.

Edição: Marcelo Ferreira