Educação

Nova escola atende alunos de assentamentos na BA e inclui agroecologia no currículo

Comunidade batalhava desde 2013 por melhorias no espaço, que agora tem capacidade para 720 estudantes

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Comunidade do MST durante reinauguração da Escola Estadual do Campo Anderson França - Camila Souza/GOVBA

A estudante Anthonelly Jesus dos Santos, de 13 anos, estuda desde os 4 na Escola Estadual do Campo Anderson França, no Assentamento Agroecológico Jaci Rocha, localizado no município de Prado (BA).

Desde 2013, a unidade vinha sendo motivo de uma intensa luta da comunidade por melhorias no espaço, que, nos últimos anos letivos, já não atendia mais à demanda da região, marcada pela presença de assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST).  


Escola é destinada a estudantes dos ensinos fundamental e médio. Após as obras, em breve, deverá passar a oferecer também cursos técnicos. / Divulgação

Depois desse longo percurso, na volta às aulas, na próxima segunda-feira (17), Anthonelly irá se deparar com um novo prédio, que vai receber os 490 alunos em meio a um conjunto de boas novas.   

A unidade conta agora com seis salas de aula climatizadas, dormitório, cozinha, refeitório, biblioteca, laboratórios de ciência e informática e ainda uma quadra poliesportiva com vestiários feminino e masculino.

Valeu a pena porque, desde que o MST se formou, um dos principais objetivos de luta é a educação

Mesmo durante as férias escolares, Anthonelly já espiou as instalações e conta que se surpreendeu com o resultado das obras.

“Eu sabia que ia ser bom, mas tanto assim não. Valeu a pena porque, desde que o MST se formou, um dos principais objetivos de luta é a educação, e a gente tem lutado muito. Tem nove anos de luta aqui, e ter uma escola com essa estrutura pra gente é muito gratificante.”

Patrimônio da comunidade

Com o primeiro prédio construído em 2010 pelos trabalhadores e trabalhadoras da comunidade, a escola é local de afeto para quem mora na região. “Como eu estudo lá desde os 4 anos, pra mim, ela representa tudo porque é o lugar onde aprendi a ler e escrever”, afirma Anthonelly.  

O espaço é destinado a estudantes dos ensinos fundamental e médio. Após as obras, em breve, deverá passar a oferecer também cursos técnicos.

“A gente está muito feliz porque nós, trabalhadores do campo, sempre sonhamos com a estrutura que tem essa escola. Geralmente, no campo, as estruturas são precárias”, disse ao Brasil de Fato a militante Eliane Oliveira, do setor de educação do MST da Bahia.  

Administrado por meio de uma parceria entre governo estadual e prefeitura, o colégio conta ainda com outra novidade que aguarda os estudantes na volta às aulas: a Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto, fundada e gerida pelo MST, passou a fazer parte das instalações e, partir deste ano, vai funcionar como anexo da escola. Além de sem-terra, a unidade atende também indígenas e quilombolas.  

Tem tudo a ver com o trabalho que o MST faz, e nós não podemos abrir mão da relação com a educação do campo, que tem também a educação indígena, quilombola, de ribeirinhos, etc.

“Pra nós, é muito importante isso porque a gente não será mais um anexo de uma escola lá da cidade, e sim de uma escola de dentro do assentamento. A direção e a gestão são de companheiras do próprio MST, que compreendem a luta e a pedagogia do movimento”, celebra Eliane Oliveira.  

Segundo o secretário de Educação da Bahia, Jerônimo Rodrigues, a pasta pretende discutir, entre outras coisas, a melhoria dos indicadores da escola.

A nova estrutura tem capacidade para receber um total de 720 estudantes. Uma das modalidades de curso técnico cuja oferta está em fase de discussão pela comunidade junto ao governo do estado é a de educação profissional em agroecologia.

“Tem tudo a ver com o trabalho que o MST faz, e nós não podemos abrir mão da relação com a educação do campo, que tem também a educação indígena, quilombola, de ribeirinhos, etc. No caso da educação pra reforma agrária, ela tem uma característica especial porque existe, na Bahia, um movimento de luta muito bem organizado, e não só pelo MST”, afirma Rodrigues.

Edição: Rodrigo Chagas