Crise política

Dilma: "Eu enfrento um golpe de Estado"

Em coletiva, a presidenta criticou Cunha, Temer e disse que irá enfrentar o processo do impedimento até o final

São Paulo |
“Ao contrário do que anunciaram, nós não estamos no fim, mas só no início da luta", diz Dilma
“Ao contrário do que anunciaram, nós não estamos no fim, mas só no início da luta", diz Dilma - Valter Campanato/Agência Brasil

Em pronunciamento ao vivo, a presidenta Dilma Rousseff (PT) comentou, nesta segunda-feira (18), a aprovação da abertura do processo de impeachment pela Câmara dos Deputados. Com indignação, ela apontou que há um desrespeito à democracia e caracterizou o resultado da votação como um golpe. “Eu sempre lutei pela democracia e vou continuar lutando. No passado, na minha juventude, enfrentei por convicção a ditadura; e, agora, eu também enfrento, por convicção, um golpe de Estado”.

Para explicar as acusações que sustentam o pedido de impeachment, Dilma afirmou: "não há crime de responsabilidade". "Os atos pelos quais me acusam foram praticados por outros presidentes da República antes de mim e não se caracterizaram como atos ilegais ou criminosos. Foram considerados legais. Os atos que me acusam foram praticados baseados em pareceres técnicos, nenhum deles beneficia a mim, pessoalmente. Não são atos praticados para que eu me enriqueça indevidamente", argumentou.

A presidenta ainda avaliou que a abertura do processo de impeachment é motivada por “vingança”, baseada no fato de o governo “não ter aceitado negociar os votos dentro da Comissão de Ética”. Sem citar o nome de Eduardo Cunha (PMDB), ela ironiza a situação jurídica do presidente da Câmara. “Não há contra mim nenhuma acusação de desvio de dinheiro público, nem de enriquecimento ilícito. Eu não fui acusada de ter contas no exterior. Por isso eu me sinto injustiçada. Porque aqueles que praticaram atos ilícitos, que têm contas no exterior, presidem a sessão que trata de uma questão tão grave como é o impedimento de um presidente da República”, afirmou.

Com críticas também ao vice-presidente, sem citar o nome de Michel Temer (PMDB), Dilma acusa: “É extremamente estranho, estarrecedor, que um vice-presidente no exercício do seu mandato, conspire contra a presidenta abertamente. Em nenhuma democracia do mundo, uma pessoa fizesse isso seria respeitada”. E ainda caraterizou que se trata de “um golpe que usa de uma aparência de processo legal e democrático”.

Diante de tal cenário, Dilma afirmou que não planeja recuar e irá enfrentar todo o processo de impeachment se defendendo junto ao Senado. “Eu tenho ânimo, força e coragem suficientes para enfrentar – apesar que com um sentimento de muita tristeza – essa injustiça. Eu não vou me abater, não vou me deixar paralisar por isso. E vou continuar lutando, como fiz ao longo de toda minha vida (…). Não vão matar em mim a esperança, porque eu sei que a democracia é sempre o lado certo”, disse.

“Ao contrário do que anunciaram, nós não estamos no fim, mas só no início da luta, que será longa e demorada”, encerrou a fala, ao retomar que não é só uma luta pelo mandato e pelos 54 milhões de votos que recebeu na última eleição, mas por manter a democracia no Brasil.

Perguntas de jornalistas

Após o pronunciamento, a presidenta respondeu a perguntas de jornalistas. Questionada se o resultado da votação na Câmara foi provocado por algum ressentimento de parlamentares, ela ironizou: "Eu não vi bem estes argumentos na votação de ontem. Eu vi vários argumentos, geralmente pela família, por Deus, por várias outras causas, mas não vi a respeito de ressentimento".

"Qualquer governo pode cometer erros, mas ressentimento, propriamente dito, não é justificativa para nenhum processo de impeachment. Nós, no Brasil, temos que procurar um padrão de seriedade maior quando se trata da democracia", disse, completando a resposta.

Sobre a afirmação de que o processo do impeachment votado pelos deputados não teria base jurídica, Dilma explicou que as decisões processuais do Supremo Tribunal Federal (STF) não têm a ver com o conteúdo da denúncia. "O fato de o Supremo decidir ou não decidir (...) que o andamento do processo será 'assim ou assado', não significa que ele decidiu sobre o mérito. Aliás, a única decisão sobre o mérito é no sentido de dizer que o processo de impeachment em andamento não pode ser acrescido de outros adendos. Ele tem que se ater à denúncia original, ou seja, aos decretos e ao que eles chamam de 'pedaladas fiscais'. A grande decisão para nós foi esta", explicou.

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