Trabalho escravo

App “Moda Livre”, que denuncia marcas de roupas, inclui 25 grifes em nova atualização

Ferramenta avalia responsabilidade trabalhista de grandes lojas em toda sua cadeia produtiva

São Paulo |
Oficinas de costura são alvos constantes de fiscais do Ministério Público do Trabalho
Oficinas de costura são alvos constantes de fiscais do Ministério Público do Trabalho - Divulgação/ Ministério Público do Trabalho

O aplicativo para celular “Moda Livre”, criado pela organização Repórter Brasil para incentivar o consumo consciente de roupas, incorporou 25 novas marcas em sua última atualização, realizada neste mês de abril.

A ferramenta, que pode ser baixada em celulares com sistemas iOS e Android, traz atualmente um catálogo com 77 grifes e varejistas da moda sinalizados de acordo com o comportamento de cada uma delas em relação ao respeito a direitos trabalhistas. As informações são coletadas junto ao Ministério do Trabalho.

Se a empresa tem mecanismos de acompanhamento da cadeia produtiva e não tem histórico de uso de mão de obra escrava, é sinalizada em verde. Se ela monitora seus fornecedores, mas de forma insuficiente ou se já foi flagrada anteriormente com mão de obra escrava, é sinalizada em amarelo. Mas se a marca não controla as condições laborais das fábricas, já foi autuada por trabalho escravo ou se negou a responder o questionário, é sinalizada em vermelho.

Grandes marcas do varejo, como 775, Colcci, Centauro, Demillus, Forum, Gregory, M.Officer e Triton estão com o sinal vermelho, ou seja, são muito mal avaliadas. Ao clicar em uma das 77 empresas disponíveis, é possível saber quais foram os crimes cometidos, qual o nível da transparência na informação das condições de seus trabalhadores, qual a qualidade do monitoramento de sua rede de fornecedores, e se não há nenhum flagrante de mão de obra escrava em seu histórico.

Cadeia produtiva

As grifes estão organizadas de acordo com seu faturamento e a avaliação leva em conta o comportamento de toda a cadeia produtiva delas no Brasil, incluindo empresas terceirizadas e prestadoras de serviço. 

“O aplicativo entende que as empresas devem ter responsabilidade em toda a sua cadeia produtiva. Então, se ela contrata um fornecedor e terceiriza a produção de roupa, ela também é responsável por isso. Esse é o entendimento do Ministério Público, do Ministério do Trabalho e também da Repórter Brasil”, afirma Carlos Juliano Barros, que coordena o aplicativo “Moda Livre” em parceria com o jornalista André Campos. 

Opinião pública

“No começo algumas empresas importantes não deram muita bola para o aplicativo. Mas quando ele foi divulgado e repercutiu na mídia, principalmente em blogs de moda e sites que falam sobre o tema, aquelas que não tinham respondido o questionário nos procuraram, porque entenderam que não participar era um dano muito grande à imagem delas”, explicou Carlos Juliano.

O jornalista da Repórter Brasil destaca que “o consumidor final tem se mobilizado”. “A gente tem recebido avaliações positivas. As pessoas dizem que usam o aplicativo na hora de escolher a marca ou a loja onde vão comprar”, comemorou.

Futuro precarizado?

Centenas de trabalhadores, principalmente imigrantes de países da América Latina, como Bolívia e Peru, foram encontrados trabalhando em oficinas terceirizadas de costura em regime de escravidão nos últimos 10 anos. As principais denúncias são relacionadas a pequenas empresas, instaladas na cidade de São Paulo, que muitas vezes produzem para grifes renomadas. 

Segundo Carlos Juliano, fiscais do Ministério Público de São Paulo conseguiram ampliar os trabalhos nos últimos anos, desvelando diversos casos de trabalho escravo. Ele avalia, porém, que os planos de um futuro governo do PMDB, caso o impeachment da presidenta Dilma Roussef seja confirmado pelo Senado Federal nos próximos meses, devem acelerar os projetos de terceirização e precarização do trabalho. 

"Todas as propostas da oposição, que vão se concretizar em um governo Temer (aparentemente inevitável), vão na linha de derrubar proteções do trabalho. A tendência é que essa precarização seja, inclusive, institucionalizada. Essa farra das terceirizações vai ser só o começo da história”, comenta Carlos.

Edição: Camila Rodrigues da Silva

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