Crise Política

Quem são os deputados que votaram contra o Semiárido?

116 dos deputados do Semiárido brasileiro votaram a favor do impeachment

Recife |
Seção da Câmara dos Deputados que decidiu pela admissibilidade do pedido de impeachment de Dilma Roussef
Seção da Câmara dos Deputados que decidiu pela admissibilidade do pedido de impeachment de Dilma Roussef - J. Batista / Câmara dos Deputados

Na votação que aprovou a continuidade do processo de impeachment de Dilma Rousseff, no último dia 17 de abril, 367 deputados votaram pelo afastamento da presidenta e 137 contra. No Semiárido brasileiro, o número de deputados que votou a favor do impeachment também superou o número dos que foram contrários: 116 votaram sim e 73 votaram não. Qual o perfil desses deputados que votaram contra o povo do Semiárido?

Em Minas Gerais, Leonardo Quintão (PMDB), teve sua candidatura financiada pelo setor de mineração. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o deputado recebeu R$ 1,8 milhão de empresas desse setor. Quintão foi relator do Código de Mineração em 2013 e também é relator do atual. De acordo com denúncia da BBC, o documento oficial do projeto de lei sofreu alterações em computadores do escritório de advocacia Pinheiro Neto, que presta serviços as mineradoras Vale e BHP. Enquanto isso, Minas Gerais sofre devastações como o crime-tragédia provocado pela Vale (Samarco-BhP) na Bacia do Rio Doce, em novembro de 2015.

Em Pernambuco, Fernando Bezerra Coelho Filho (PSB) faz parte de uma família dona de diversos veículos de comunicação na região de Petrolina, congregadas no Grupo Grande Rio de Comunicação. Esse é mais um conglomerado que está no caminho para as alternativas de democratização da comunicação. Ele é filho do senador Fernando Bezerra Coelho (PSB), que atuou na implementação das cisternas de plástico no Semiárido. Isso trouxe problemas para as famílias do ponto de vista da fragilidade da infraestrutura da tecnologia.

Família dona de meios de comunicação também é o caso do deputado do Rio Grande do Norte, Felipe Maia (DEM). A TV Tropical, retransmissora da Record na região, desde o início, sofre forte influência política no conteúdo de sua programação e, ainda hoje, são frequentes as inserções de pronunciamentos inteiros de seus proprietários. Felipe Maia é filho do senador José Agripino (DEM), que é alvo de um inquérito que apura se o parlamentar negociou o pagamento de propina da empreiteira OAS durante a construção da Arena das Dunas, em Natal. A procuradoria aponta indícios de pagamento de propina ao senador, uma vez que foram identificadas operações suspeitas de lavagem de dinheiro na época de campanhas eleitorais, em 2010 e 2014.

O deputado baiano Antonio Imbassahy (PSDB- BA) foi prefeito de Salvador em 1999, quando as obras do metrô foram superfaturadas por empreiteiras que estão sob investigação na Operação Lava Jato. O Tribunal de Contas da União (TCU) identificou acréscimo de cerca de R$ 166 milhões, em valores da época, nos preços dos serviços.

A lista de acusações do deputado de Sergipe, André Moura (PSC), é vasta. Ele foi responsabilizado por fraude em licitações, fracionamento de despesas e inscrição irregular de beneficiários no programa Bolsa Família. É réu em três ações penais no Supremo Tribunal Federal, que envolvem crimes conexos - apropriação, desvio ou utilização de bens públicos do Município de Pirambu (SE); alvo de inquérito que apura crime contra a Lei de Licitações e peculato; alvo de inquérito que apura crime eleitoral de transporte em dia de eleição; e réu em ação civil pública por improbidade administrativa, movida pelo Ministério Público Estadual.

Na Paraíba, o deputado Manoel Junior (PMDB-PB) é visto como um dos braços direitos de Eduardo Cunha, líder da Câmara dos Deputados. Manoel foi citado na CPI da Pistolagem e é acusado de envolvimento no assassinato do vereador José Barros, no ano 2000, em Pedras de Fogo. O relatório da CPI foi feito pelo deputado Luiz Couto (PT-PB) e testemunhas atestam sua participação em grupos de extermínio no estado. Esses motivos levaram a presidenta Dilma Rousseff a vetar seu nome para o Ministério do Turismo, em 2011.

Genecias Noronha (SD), do Ceará, foi condenado em segunda instância por improbidade administrativa com dano ao erário. O parlamentar realizou uma doação irregular de imóvel público para servir a interesses privados. A Justiça o condenou ao pagamento de multa no valor do imóvel doado. Além disso, é alvo de inquérito que apura captação ilícita de votos.

No Piauí, Heráclito Fortes (PSB) foi condenado em ação popular por improbidade administrativa. Quando era prefeito de Teresina, ele fez uso de publicidade institucional para promoção pessoal. A Justiça determinou ressarcimento aos cofres públicos. O deputado recorreu ao Supremo Tribunal Federal, mas a condenação foi mantida. Também teve reprovada a prestação de contas da sua campanha eleitoral de 2014.

Cleber Verde (PRB), do Maranhão, ex-secretário da Pesca do mesmo estado, é acusado de usar a estrutura da Secretaria para comprar votos. O esquema de corrupção envolve a cooptação de lideranças dos pescadores, emissão de carteiras falsas de registro da atividade e retenção de parte do seguro defeso.

Em Alagoas, o deputado Cícero Almeida (PMDB) é acusado por processo conhecido como Máfia do Lixo, que desviou R$ 200 milhões dos cofres públicos. O dinheiro desviado veio a partir de empresas contratadas sem licitação para prestar serviço de limpeza à Superintendência de Limpeza Urbana da Prefeitura de Maceió (Slum), em 2005.  O parlamentar nega a acusação e afirma nunca ter participado do esquema.

No geral, o perfil dos deputados que votaram pelo afastamento da presidenta Dilma e contra o Semiárido brasileiro apontam que estes governam para empresas e por interesses próprios e não para o povo brasileiro.

 

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