Política

“Corrupção não é algo somente do PT”, diz "Pepe" Mujica em encontro com jornalistas

Ex-presidente uruguaio se encontrou com blogueiros e mídias alternativas no Centro de Mídias Barão de Itararé

São Paulo |
“Pepe” Mujica analisou conjuntura da política brasileira e os rumos dos governos progressistas da América Latina
“Pepe” Mujica analisou conjuntura da política brasileira e os rumos dos governos progressistas da América Latina - José Eduardo Bernardes/Brasil de Fato

O ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica analisou a conjuntura da política brasileira e os rumos dos governos progressistas da América Latina durante coletiva com blogueiros e mídias alternativas na manhã desta quarta-feira (27), em São Paulo. Agora senador, Mujica lembrou que “a corrupção é velha como o Brasil e não é algo somente do PT. Ela está em todos os partidos”. O encontro aconteceu no Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, no centro da cidade.

“A direita se aproveitou dos erros que cometemos e da complicada conjuntura econômica”, disse o ex-presidente. Mas, segundo ele, não há tempo para esmorecer. “Estive preso durante 14 anos. Não me diga o que é derrota. Agora é tempo de lutar, não de achar desculpas”, encorajou.

Ele analisa que os governos progressistas da América Latina, que durante os últimos 14 anos alcançaram importantes avanços populares, estão atualmente contra a parede. Além da ameaça de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, a crise na Venezuela e a eleição de Mauricio Macri como presidente na Argentina estão entre os fatos que têm colocado em risco os direitos sociais conquistados no continente nos primeiros anos do século 21. 

Para Mujica, neste momento, os partidos progressistas devem aprofundar sua democracia, serem mais horizontais e menos piramidais. "É preciso falar com todos para que todos entendam”. O senador uruguaio afirmou, porém, que “não há derrota definitiva, nem triunfo definitivo”, em referência ao processo de impeachment no Brasil, e destacou que “derrotados são os que baixam os braços, os que se resignam à derrota”. 

“A vida é uma luta permanente, com avanços e retrocessos. Por isso, devemos aprender com os erros que cometemos, voltar e começar. Deve ser permanente. Mas também não achar que, quando triunfamos, tocamos o céu com a mão e que temos chegado em um mundo maravilhoso”, explicou Mujica.

Lei dos Meios de Comunicação

Quando foi presidente da República, Mujica conseguiu aprovar no congresso a Lei dos Serviços de Comunicação Audiovisual, que evitava a concentração econômica do setor e fomentava a diversidade e a pluralidade de conteúdos. Ele ponderou que a aprovação da Lei não impediu que as empresas de comunicação continuassem agindo de forma corporativa, defendendo apenas seus próprios interesses.

“Em toda parte existe concentração dos meios de comunicação, e as mídias internacionais sempre tentarão crescer ainda mais”, apontou. O ex-presidente pediu que a mídia alternativa faça o contraponto dos discursos da grande mídia. “Não existe neutralidade, isso é mentira. Mas nós podemos ser verdadeiros na hora de transmitir o que vemos”. 

União dos trabalhadores

“Os trabalhadores, como em todas as partes do mundo, podem ter diferenças. Mas não deveriam cometer o erro de rachar ou de não ter uma frente comum de luta”, declarou Mujica. O senador uruguaio reforçou que a capacidade de resistir é maior quando os trabalhadores estão juntos. "E para estar junto, temos que nos bancar”, concluiu. 

“Se pretendemos que todos pensem igual, nunca conseguiremos. Mas tem um interesse comum de defender as conquistas trabalhistas em um momento que, seguramente, a própria economia e o avanço da direita vão tentar destruí-las. Este filme a gente já viu várias vezes na história da América Latina. Vocês brasileiro também viram”. 

Legalização do aborto

Outra medida importante deixada por Pepe Mujica no governo uruguaio foi a aprovação da legalização do aborto. Mesmo com críticas de conservadores ao redor do mundo, o projeto demonstrou sua eficácia. Segundo dados divulgados pelo do Ministério da Saúde do Uruguai em 2015, o número de mulheres que desistiram de interromper a gravidez após iniciar o processo de aborto legal aumentou 30%.

"É o único país que preserva todas as cadeias de exploração do petróleo. A telefonia está nas mãos do Estado. É um país socialista? Não! É o Uruguai. O aborto foi aprovado nesse rastro. Para salvar as vidas de mulheres pobres, que não têm como pagar um aborto privado. Foi uma ação contra a discriminação das mulheres pobres. Sabemos que essa política se vai impor no mundo todo”, disse Mujica.

Além da coletiva desta quarta-feira, a passagem do senador uruguaio pelo Brasil incluirá encontros com movimentos sociais e uma participação no Congresso da Confederação Sindical das Américas, que acontece entre os dias 26 e 29 de abril, em São Paulo (SP).

Edição: Camila Rodrigues da Silva

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