Memória

Morre Waldemar Rossi, militante da Oposição Sindical

Liderança do movimento operário paulistano contra a ditadura faleceu nesta quarta-feira (4)

Redação |
Rossi combateu interventores do regime militar no Sindicato dos Metalúrgicos
Rossi combateu interventores do regime militar no Sindicato dos Metalúrgicos - Eduardo Cota/Acervo CSBH

“Há os que lutam toda vida, e estes são imprescindíveis”, escreveu o dramartugo alemão Bertolt Brecht. Waldemar Rossi, falecido nesta quarta-feira (4) aos 82, era um dos imprescindíveis. Liderança do movimento operário na capital paulista, foi referência na luta contra a ditadura militar e suas intervenções nos sindicatos.

Nascido em Sertãozinho, interior de São Paulo, em 17 de agosto de 1933, chega em São Paulo em 1960 para trabalhar na coordenação da Juventude Operária Católica. Logo torna-se dirigente da Pastoral Operária.

Resistência

Três anos após o golpe militar, em 1967, encabeça uma chapa de oposição aos interventores da ditadura que dirigiam o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Se candidataria mais duas vezes: em 1972 e 1981.

Foi preso e torturado durante meses junto a dezenas de militantes operários em 1974, o que inviabilizou sua disputa pelo sindicato em 1975. O Movimento de Oposição Sindical dos Metalúrgicos de São Paulo (Momsp) jamais conseguiu conquistar a diretoria de sua entidade representativa.

Sebastião Neto, companheiro de Rossi na Oposição Sindical, afirma que o movimento realizou um trabalho paciente “montando grupos de fábrica”, culminando no processo mais amplo de greves operárias no final da década de 70. Segundo ele, Rossi foi um dos grandes nomes do movimento operário brasileiro.

“Ele é o cara que faz a primeira chapa da oposição depois da [instauração] da ditadura. Aí se cria o conceito de oposição metalúrgica, oposição sindical. Ele vira referência. Claro que há outros companheiros, mas ele era a pessoa principal", relembra Neto.

Redemocratização

Em 1980, Rossi foi escolhido por dom Paulo Evaristo Arns para falar em nome dos trabalhadores em um encontro com o papa João Paulo II no estádio do Morumbi, no qual estavam presentes 80 mil operários.

A convergência da fé com a militância e com justiça social, processo impulsionado por parte da Igreja Católica, foi parte importante do processo de redemocratização e na queda da ditadura.

“É o momento em que, com o apoio da igreja, o movimento de massas acaba ganhando um relevo e um papel na política. A visão da integração dos cristãos à luta social estava fortalecida: a Teologia da Libertação, as comunidades eclesiais de base e as pastorais sociais passaram a ganhar muita relevância”, explica o advogado Aton Fon Filho, que participou de outra dimensão da luta contra a ditadura, na Ação Libertadora Nacional (ALN).

Rossi ajudou na construção da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Partido dos Trabalhadores (PT). De outro lado, durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, foi um duro crítico das gestões petistas no Executivo federal.

Segundo Fon, mais do que seus possíveis erros e acertos, “é importante reconhecer o fato de que ele permaneceu na militância durante tanto tempo. Estamos falando de alguém que foi fiel à luta dos trabalhadores. São coisas que temos de valorizar e incentivar”.

Despedida

Waldemar faleceu devido a um câncer intestinal. Seu velório ocorre nesta quinta-feira (5) na quadra do Sindicato dos Metroviários, das 10h ao 12h. Após, uma missa ocorre na Catedral da Sé, às 13h30. A cremação de seu corpo acontece às 17h na Vila Alpina.

Edição: Simone Freire.

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