Mobilização

MST ocupa fazenda de empresa envolvida na Lava Jato

Sócio da Argeplan, segundo depoimento, exigiu propina em nome de Temer

São Paulo (SP) |
Vice-presidente teria utilizado o local para fazer articulações políticas
Vice-presidente teria utilizado o local para fazer articulações políticas - Comunicação MST

Cerca de mil famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam a fazenda Esmeralda, no município de Duartina, interior de São Paulo. A ação ocorreu na manhã desta segunda-feira (9). O terreno pertence a João Batista Lima Filho, sócio da Argeplan, empresa mencionada na Lava Jato. Lima teria atuado como emissário do vice-presidente Michel Temer (PMDB) no recebimento de propina no valor de R$ 1 milhão.

O valor estaria relacionado à licitação de operação da usina nuclear Angra 3 – no valor de R$ 162 milhões. O edital da Eletronuclear foi vencido em 2012 pela Argeplan, pequena empresa de arquitetura de São Paulo, associada à Engevix. O engenheiro José Antunes Sobrinho, um dos donos da Engevix, disse, em proposta de delação premiada, ter pago o valor a Lima como forma de agradecimento.

Esmeralda

De acordo com o MST, que afirma que o terreno pertence a Temer, a ação visa denunciar “as conspirações golpistas de Temer, muitas vezes articuladas de dentro da propriedade, ao mesmo tempo que recolocam a necessidade da reforma agrária”. A fazenda tem cerca de 1500 hectares, entre os municípios de Duartina, Fernão, Gália e Lucianópolis.

“Nós estamos ocupando esta fazenda do Temer para denunciar a intervenção do agronegócio na articulação do golpe. A reforma agrária deve ser recolocada na agenda política do país”, disse Kelli Mafort, da direção nacional do MST. “É um local usado para fazer as articulações políticas do PMDB e funcionou como uma espécie de QG [quartel-general] do golpe. [Por outro lado,] o nosso principal objetivo é a luta pela terra, pela reforma agrária. Estamos denunciando esse latifúndio”, completou.

É de conhecimento dos moradores do município, de acordo com Mafort, que a fazenda é utilizada por Temer. O vice-presidente teria estado lá recentemente, segundo habitantes da cidade, no 1º de Maio. Além disso, o vice-presidente também receberia correspondência no local. Nos prédios da fazenda, o MST encontrou material político de campanhas passadas do peemedebista.

“Nós queremos alertar a população brasileira para o que representa o projeto do Temer, Ponte Para o Futuro, mas que na realidade é um atalho para sentar na cadeira presidencial e impor regras muito duras do ponto de vista dos direitos das trabalhadoras e dos trabalhadores”, apontou Mafort.

Segundo o movimento, áreas da fazenda, próximas à antiga estação ferroviária Esmeralda, pertencem à União e foram griladas. Os manifestantes denunciam também que a fazenda cultiva eucalipto, que chamam de “deserto verde” por provocar malefícios ao solo, retirando seus nutrientes.

O movimento afirma que se prepara para ficar no local, já tendo iniciado as atividades cotidianas da ocupação, com trabalho coletivo, montagem das cozinhas, espaço infantil, entre outras coisas.

Resposta

Michel Temer, por meio de sua assessoria, nega envolvimento com negociações referentes à Angra 3. Além disso, afirma que “não tem propriedades rurais”. A Argeplan, em nota, afirma que "as propriedades rurais em questão foram adquiridas de maneira regular, a partir de 1986, sendo produtivas" e que "estuda providências a serem adotadas". Os questionamentos sobre a relação da empresa com o vice-presidente MIche Temer, bem como as citações da empresa em depoimentos à operação Lava Jato não foram esclarecidos.

Edição: Simone Freire.

Edição: ---