SAÚDE PÚBLICA

A Democracia é Antimanicomial, por Camila Castro

A luta antimanicomial é contra a exclusão, o encarceramento e a intolerância às diferenças.

Recife |
Castro é terapeuta ocupacional e militante do Núcleo Estadual de Luta Antimanicomial Libertando Subjetivida
Castro é terapeuta ocupacional e militante do Núcleo Estadual de Luta Antimanicomial Libertando Subjetivida - Arquivo pessoal

 

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Parece simples dizer que a luta antimanicomial é defender uma sociedade sem manicômios; porém ela vai além do manicômio físico no qual o pensamento se remete, indo contra todas as figuras de exclusão, encarceramento, intolerância às diferenças e violências das diversas ordens. Exige-se a liberdade como direito fundamental e o cuidado da pessoa em sofrimento psíquico em seu território, onde sua vida acontece, afirmando-os como sujeitos de direitos, capazes de serem protagonista da sua própria história, sem as amarras das correntes do isolamento.

No Brasil, este movimento se iniciou durante a redemocratização no final dos anos 1970. No II Congresso do Movimento de Trabalhadores em Saúde Mental, em 1987, surge o lema “Por uma sociedade sem manicômios” e é definido o dia 18 de maio como dia Nacional da Luta Antimanicomial. Também se formaliza o compromisso com os demais movimentos populares e a classe trabalhadora organizada, rumo à mudanças estruturais na sociedade, onde a lógica manicomial se instala.

Pela força da identidade com o momento histórico em que surge, o Movimento se pauta pela exigência de uma sociedade democrática e a garantia de direitos. Este ano o tema da IV Semana da Luta Antimanicomial será “Vozes por liberdade: a democracia é antimanicomial”. A luta pela democracia é destacada pela não aceitação radical da nomeação de Valencius Wurch, ex-diretor do maior manicômio privado da América Latina, fechado por violações aos Direitos Humanos para gestão da Política de Saúde Mental do país; pela bandeira da Reforma do Sistema Político; pela denúncia dos constantes assassinatos de companheiros e companheiras pelas mãos das elites, do agronegócio, da propriedade privada, da mercantilização da saúde e dos manicômios trazendo a homenagem a Marcus Vinicius, militante social assassinado em fevereiro deste ano.

As nossas pautas mais constantes são a ampliação de serviços territoriais (públicos e laicos), diversidade de dispositivos, integralidade e intersetorialidade no cuidado. Estas pautas avançam quando há o aprofundamento da democracia e retrocedem à medida que ela é ameaçada.

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