Pós-impeachment

Provável líder de Temer na Câmara é investigado na Lava Jato

André Moura (PSC-SE), ligado a Cunha, também é suspeito de tentativa de homicídio e improbridade administrativa

Brasília |
Moura anunciou que é o líder nesta quarta-feira (18)
Moura anunciou que é o líder nesta quarta-feira (18) - Antonio Cruz/ABr

O deputado federal André Moura (PSC-SE) é o provável líder do governo Temer (PMDB) na Câmara dos Deputados. O anúncio foi feito pelo próprio parlamentar nesta quarta-feira (18), em Brasília. No entanto, a assessoria de imprensa do presidente interino ainda não confirma oficialmente a escolha, que estaria imersa numa polêmica envolvendo outros partidos, como PSDB e DEM,  também interessados em comandar a base parlamentar na Casa.  

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Bancada pelo chamado "Centrão" da Câmara, que reúne 13 partidos, a provável decisão é interpretada pela oposição como moeda de troca arquitetada entre Michel Temer e Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente afastado da Casa, de quem Moura é aliado. "O Temer, para sair temporariamente vitorioso neste impeachment fraudulento, fez uma série de acordos, e isso é mais um pagamento dele ao presidente afastado", atribui o deputado federal Sílvio Costa (PTdoB-PE).

Segundo ele, a decisão sobre a liderança do governo seria objeto de chantagem no Congresso por conta do pedido de impedimento de Temer encaminhado pelo ministro do Superior Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello. "Os líderes dos partidos estão fazendo barganha para não deixarem o processo andar. As informações que temos são de que Temer não queria indicar o Moura, mas foi ameaçado pelo Centrão, que poderia indicar os nomes para formar a comissão do impeachment de Temer. Essa foi a negociação rasteira deles", acusa Costa.

Apesar de não integrar o Conselho de Ética,  o líder do PSC na Câmara é considerado um dos principais personagens pró-Cunha na articulação que pretende barrar o processo enfrentado pelo presidente afastado. Apoiado pelo maior bloco da Casa, composto pelo Centrão e por partidos nanicos, o nome de Moura é envolvido em uma série de escândalos, incluindo três ações penais no STF sob acusação de crimes de responsabilidade e improbidade administrativa.

Pesam contra ele ainda inquéritos que apuram suposta participação no esquema de corrupção da Petrobras e uma suspeita de tentativa de homicídio ocorrida em 2007 na cidade de Parambu, em Sergipe.

Para o deputado João Daniel (PT-SE), que tem base eleitoral no mesmo estado do líder do PSC, a escolha de Moura para comandar o governo na Câmara faz parte de articulações políticas que envolvem ainda outros atores. "É a aliança Temer-Cunha-Fiesp-Rede Globo, um grupo conservador que representa a direita brasileira, os golpistas das grandes empresas e de multinacionais que vão tentar fazer manobras no parlamento para aprovar projetos que retirem garantias conquistadas com a Constituição Federal de 88 e que querem garantir governabilidade ao Temer", considera o parlamentar.

Para o deputado federal Valmir Assunção (PT-BA), a escolha de Moura não constitui uma surpresa para a oposição ao govenro interino: "Parece que se encaixa bem no perfil do governo golpista, que é formado por homens brancos, ricos e investigados", critica.

O Brasil de Fato procurou a assessoria de André Moura para rebater as acusações, mas não conseguiu contato. O deputado, em declarações à imprensa, nega envolvimento nos casos citados.

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