Mobilização

Petroleiros votam indicativo de greve em protesto aos ataques à Petrobras

Paralisação deve ocorrer em 10 de junho e durar 24 horas; o novo presidente, Pedro Parente, também é alvo de críticas

São Paulo (SP) |
Em 2001, quando ocupava a chefia do Ministério de Minas e Energia, Pedro Parente foi apelidado como “ministro do apagão”
Em 2001, quando ocupava a chefia do Ministério de Minas e Energia, Pedro Parente foi apelidado como “ministro do apagão” - Arquivo/Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Dirigentes da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e da Sindipetro Unificado de São Paulo se reuniram nesta terça (31) e tiraram um indicativo de paralisação no dia 10 de junho, que deverá durar 24 horas. O objetivo é demonstrar a insatisfação da categoria com a "preocupante" escolha do novo presidente da Petrobras, Pedro Parente, com o processo de sucateamento da empresa e com o andamento do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. A decisão sobre a greve ainda será submetida a assembleias nos próximos dez dias.

Para o coordenador de comunicação da regional Campinas do Sindipetro Unificado de São Paulo, Gustavo Marsaioli, a indicação de Parente evidencia a retomada de políticas de gestão que haviam sido adotadas nos anos 1990, quando a Petrobras estava enfraquecida nacional e internacionalmente. Ainda que houvesse dificuldades em dialogar com o ex-presidente Aldemir Bendine, a chegada de Parente e de José Serra (atual ministro das Relações Exteriores) ao time do governo interino traz preocupação.

“Existem aqueles vazamentos bastante conhecidos do WikiLeaks em que Serra aparece trocando e-mails com a Chevron, petroleira americana. A presença dele no ministério aponta a uma guinada [à direita] da nossa diplomacia. Vínhamos construindo uma política junto ao Mercosul, com a participação da Venezuela, que é a segunda maior reserva do mundo; e com o Brics, onde está a Rússia, que é grande produtora de gás natural, e a China, que é a maior detentora de títulos da dívida americana. Então estávamos em um bloco que poderia questionar o petrodólar, porque hoje todas as comercializações de petróleo passam pelo dólar americano. Mas quando se tem um ministro de Relações Exteriores que tem o histórico de Serra, há muita preocupação. É um outro alinhamento diplomático, para nós, bastante grave e que fere a soberania do país”, analisa Marsaioli.

Histórico de Parente

Parente é lembrado como o “ministro do apagão”, por ter sido coordenador do plano de emergência do racionamento de energia durante o governo Fernando Henrique Cardoso, quando ocupou a chefia do Ministério de Minas e Energia, em 2001.

Uma de suas soluções para a crise foi a construção de termoelétricas, parte delas, com recursos da Petrobras. Segundo João Antônio de Moraes, diretor de relações internacionais e movimentos sociais da FUP, a estratégia causou prejuízos a estatal. “A saída encontrada foi exaurir os cofres da Petrobras para construir termoelétricas e termodutos e depois transferir a gestão deles para a iniciativa privada. Em suma, usar os recursos públicos para dar lucro à iniciativa privada”, afirma.

Moraes enfatiza que os problemas causados por Parente quando era ministro, além de afetarem diretamente a Petrobras, trouxeram prejuízos ao país e aos acionistas privados da petroleira.

Carta à CVM

Em carta enviada à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão que disciplina e fiscaliza a relação entre agentes do mercado de valores, a FUP detalha ação: “Sob a chancela de Pedro Parente, a Petrobras teve que assinar contratos de parceria com o setor privado para a construção de usinas termoelétricas, se comprometendo a garantir a remuneração dos investidores, mesmo que as empresas não dessem lucro. O valor das usinas equivalia a um terço das chamadas 'contribuições de contingência', que geraram prejuízos de mais de US$ 1 bilhão à Petrobras”.

Como a Petrobras tem parte de seu capital à venda em bolsa de valores, a carta será tratada como comunicação de fato relevante. “Esperamos que a CVM se manifeste de alguma forma”, pontua Moraes.

O texto ainda relembra que Parente responde por improbidade administrativa por ter socorrido financeiramente, em dezembro de 1994, dois bancos privados que estavam em processo de falência na época, o Econômico e Bamerindus, quando era Secretário Executivo do Ministério da Fazenda. “A ajuda que ele e outros ministros de FHC deram aos banqueiros causou um prejuízo de R$ 2,9 bilhões ao Estado, que, corrigidos em valores atuais, equivalem a mais de R$ 15 bilhões”, afirma a nota.

“Não é com gestores que têm esta trajetória que a Petrobras vencerá a crise que atravessa. O perfil de Pedro Parente o descredencia por completo a assumir o comando de uma empresa estratégica para o desenvolvimento nacional”, conclui o documento.

Edição: Camila Rodrigues da Silva

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