Ditadura militar

OPINIÃO: Falar na volta da ditadura é passar diploma de covarde

Querer o retorno do período ditatorial é não querer construir uma sociedade mais justa

Rio de Janeiro |

O período de chumbo da ditadura militar, que durou de 1964 a 1985, trouxe muitas sequelas. Porém, quando nos debruçamos sobre ele, percebemos nitidamente dois blocos. Um é o da massa trabalhadora, o outro é dos trabalhadores engajados. 

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Parece estranho querer dividir um do outro. O que se quer mostrar é que a grande massa sempre lutou pela sobrevivência de uma vida sem esperança, de sonhos cada vez mais escassos. Para eles, a vida sempre foi uma rotina, como um trem que segue e volta abarrotado.

Estes trabalhadores não apresentavam perigo para a ditadura, que não dava a mínima por eles. Até porque a religiosidade conservadora contribuía para que houvesse cada vez uma distância maior entre massa e fermento.

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Quanto aos trabalhadores engajados, sedentos por liberdade, estes, sim, sofreram o “pão que o diabo amassou”. Privados do lazer, do convívio familiar, das rodas de samba e até do uso de seus próprios nomes, tiveram suas vidas divididas entre sonhos e medos. 

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Os empregos eram arrancados nos sequestros de esquinas. Muitos foram lançados nas masmorras dos quartéis, deixando amores órfãos. Sem contar com a covarde dor imposta aos seus corpos e mentes. 

O absurdo neste período chegava a tanto que o simples fato de se reunir com amigos era motivo para alguém ser tachado de subversivo, passível de prisão, interrogatório e tortura. Contavam para isso com a assistência dos norte-americanos, que enviavam instrutores de tortura.

Era preciso destruir qualquer forma de oposição. Com isso, os trabalhadores engajados em ideias libertárias tiveram que praticá-las às escondidas. Suas vidas eram cercadas de esquemas de segurança, com consequente abandono de suas relações familiares. 

Hoje, falar na volta da ditadura é passar diploma de covarde. É reconhecer a incapacidade de buscar caminhos para o entendimento e soluções dos problemas. É não querer construir uma sociedade mais justa.

Na verdade, este sombrio período ditatorial deveria ser matéria escolar, em seus mínimos detalhes.

João Carlos Matheus é líder comunitário. Foi preso político durante a ditadura militar.

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