Saúde

Senado debate uso de pulverização aérea de agrotóxicos para combater Zika

Audiência pública tratou sobre o uso de aviões agrícolas para dispersar pesticidas sobre regiões afetadas

Saúde Popular |
Fumacê em bairro residencial
Fumacê em bairro residencial - Reprodução/ Saúde Popular

O uso de pulverização aérea de pesticidas para conter a procriação do mosquito Aedes Aegypt foi tema de debate na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), no Senado, nesta quinta-feira (9).

Porém, a temática gerou polêmica entre especialistas. De um lado, Júlio Augusto Kampf, vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (SINDAG), argumentou que o uso da técnica consegue atingir várias regiões num curto espaço de tempo, além de terrenos baldios que o fumacê (pulverização) terrestre não consegue alcançar, o que ajudaria no combate em regiões afetadas por epidemias de Zika ou Dengue.

Por outro lado, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) rebateu a proposta lembrando que até 80% do total de pesticida despejado por pulverização áerea é perdida durante o processo, o que pode atingir outras regiões.

“Isso porque, na prática, não é possível ter precisão para atingir determinados locais, consequentemente, para se atingir terrenos baldios e áreas abandonadas, as habitações ao redor também seriam contaminadas pelo veneno aplicado por aviões”, argumentou a nota.

Além disso, duas substâncias apontadas pelo SINDAG para serem testadas num projeto piloto tem as utilizações proibidas na União Europeia (fenitrotiona e nalede). Outra substância, o malation, é considerada cancerígena pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Favorável à aplicação aérea, o engenheiro agrônomo e consultor do SINDAG, José Carlos Christofoletti, afirmou que este tipo de pulverização não faz mal à saúde se aplicado conforme orienta a OMS, e mostrou como exemplo os Estados Unidos, que se utiliza desse método.

No entanto, a própria autoridade regulatória dos Estados Unidos, a USEPA (Agência Estadunidense de Proteção ao Meio Ambiente, em tradução livre), afirma que a pulverização pode “atingir residências, escolas, praças, agricultores das redondezas da zona [de dispersão], animais selvagens, plantas e fontes de água causando danos à saúde”, conforme relatou a nota da Abrasco, divulgada em abril deste ano.

Projeto Piloto

Durante a sessão no Senado, o senador Waldemir Moka (PMDB-MS) também sugeriu a necessidade de iniciar um projeto piloto que examine a possibilidade da utilização de aviões agrícolas no combate ao mosquito. Moka argumentou que “o governo não pode esperar a próxima epidemia para começar a testar novas tecnologias” de combate ao mosquito.

A Abrasco, por outro lado, apontou que o teste não seria satisfatório para encontrar os possíveis efeitos na saúde das pessoas, já que algumas das substâncias podem apresentar seus efeitos somente anos após as pessoas serem expostas aos químicos.

Novos métodos

A coordenadora-geral dos Programas Nacionais de Controle da Dengue e da Malária da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, Ana Carolina Santelli, disse que desde o começo do ano a pasta busca novas alternativas no combate ao aedes aegypt.

Ela lembrou que o relatório da OMS avalia que para conter o “mosquito da dengue”, a melhor forma é a eliminação dos criadouros do inseto.

Santelli também comentou sobre a dispersão dos pesticidas pulverizados por aviões, ressaltando que o aedes costuma “se esconder” dentro de casas e ambientes, e que isso faria com que eles não fossem impactados diretamente pela técnica.

“Quando a gente faz uma ação de BV [pulverização], uma ação de aspersão aérea de inseticida, a gente pode ter um impacto naquele momento, naqueles mosquitos que estão voando ali e são atingidos pelas gotículas, mas a gente tem a questão da reposição desses mosquitos que estavam escondidos e não foram atingidos ou que os [mosquitos] que vêm de regiões vizinhas”, explica a coordenadora.

Outras técnicas para o combate do mosquito também já tinham sido debatidas no começo do ano, como a disseminação de mosquitos infectados pela bactéria Wolbachia, que além de impedir que o mosquito transmita o vírus para humanos, impede que o zika seja passado de um aedes para outros.

Outra, que implicaria baixo custo ao Estado, infecta o mosquito em criadouros contaminados por larvicidas. Estes vetores, ao tentarem depositar ovos em outros criadouros escondidos (como em terrenos abandonados ou ainda não detectados por agentes de saúde) contamina a água para que a espécie não consiga procriar.

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