Reforma agrária

MST promove ocupações contra o agronegócio em toda a Bahia

Ações denunciam problemas socioambientais e fazem parte da Jornada Nacional de Lutas do movimento

São Paulo (SP) |
No município de Bom Jesus de Lapa, os trabalhadores saíram em marcha pelo centro da cidade até a sede local da Codevasf
No município de Bom Jesus de Lapa, os trabalhadores saíram em marcha pelo centro da cidade até a sede local da Codevasf - MST/ Divulgação

Uma série de ocupações foram realizadas pelo Movimento do Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), na madrugada desta segunda-feira (13), na Bahia. Cerca de 1.500 famílias do movimento ocuparam a fábrica da Suzano Papel e Celulose, no município de Mucuri, extremo sul do estado. Também foram ocupadas as oito sedes regionais do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Salvador, Bom Jesus da Lapa e Itabuna, e três sedes da Companhia de desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), em Juazeiro e em Bom Jesus da Lapa.

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Segundo o MST, as ações são uma resposta contra o modelo de produção do agronegócio e em defesa da Reforma Agrária e do desenvolvimento social, cultural e ambiental da região.

Além das pautas históricas do movimento, as ocupações questionam o governo interino de Michel Temer, considerado ilegítimo e golpista. Entre as reivindicações do MST estão a volta do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), extinto pelo presidente interino no dia da posse de seu governo.

Eucalipto

A Suzano faz parte de um grupo de transacionais que implantou a monocultura do eucalipto na região, o que, de acordo com a nota publicada pelo MST, supriu a diversidade de produção existente no território.

“As poucas áreas cultivadas pelas famílias camponesas têm suas produções afetadas por causa da utilização indiscriminada de agrotóxicos. Além disso, a monocultura do eucalipto está provocando o êxodo rural de milhares de famílias camponesas e povos originários”, diz o texto. Uma atual proposta de ampliação da fábrica, com o objetivo de triplicar a produção, é criticada pelo movimento.

Segundo Sebastião Lopes, do setor de comunicação do MST, o primeiro objetivo das ocupações é denunciar o modelo de agronegócio que gera concentração de renda e desigualdade social na região.

“Mais especificamente as empresas de eucalipto, que trazem diversos prejuízos e perdas sociais. Em 25 anos, a Suzano causou o inchaço e superpopulação de cidades sem qualquer planejamento, e, como consequência, deu-se o surgimento de diversos fenômenos sociais, como o aumento dos índices de violência e desemprego, e essas empresas não se responsabilizam por todos esses danos”, afirmou Lopes.

Além das questões sociais, o MST protesta contra a destruição ambiental nas áreas afetadas pelas empresas. “No âmbito ambiental, a Suzano é uma das responsáveis pela maior destruição da Mata Atlântica aqui na região, fruto do monocultivo de eucalipto e da seca de várias nascentes e afluentes do Rio Mucuri. Essa empresa tem jogado toneladas de químicos nesse rio, acabando com a fauna e a flora. Isso está causando a morte do rio”, destacou Lopes. O Rio Mucuri, que cerca o município e outras cidades da região, encontra-se no nível mais baixo de sua história.

As ocupações também pautam o não cumprimento dos acordos feitos entre a Suzano, o MST e o governo do estado há quatro anos, quando a empresa ficou responsável por ceder parte de suas áreas para as famílias do movimento. Elas continuam vivendo em acampamentos de lona.

Uma assembleia realizada nesta tarde decidiu suspender a ocupação nas áreas da Suzano, uma vez que a empresa concordou em realizar uma reunião com representantes do movimento e com o presidente nacional do Incra, Leonardo Goes, na sexta-feira.

“Pedimos o reassentamento das 750 famílias, como foi combinado há quatro anos. Caso essa pauta não seja atendida, montaremos um acampamento definitivo dentro da empresa”, explicou Lopes. O Brasil de Fato entrou em contato com a assessoria de imprensa das empresas Suzano Papel e Celulose e Codevasf, mas não obteve resposta.

Incra

As ocupações nas sedes do INCRA são uma reação às mudanças de competência do Instituto, realizadas pelo governo interino. O Incra, responsável pela demarcação de terras para a reforma agrária, já foi transferido do antigo MDA para o novo Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário, de acordo com a Medida Provisória 762, publicada no dia da posse de Temer (12/05), e finalmente para a Casa Civil, onde se encontra atualmente, segundo o Decreto 8.780, publicado no dia 27 de maio.

“A Jornada Nacional de Lutas do MST denuncia o governo ilegítimo de Michel Temer e suas ações anti-populares, seja a extinção do MDA ou, mais especificamente, o avanço do agronegócio, uma das principais pautas do governo interino”, destacou Lopes. Segundo Cintia Melo, assessora regional do INCRA na Bahia, o instituto tem tentado dialogar com o movimento e negociar a desocupação dos prédios. “Houve uma reunião na quinta-feira com a superintendente regional, mas estão pedindo um encontro diretamente com o presidente do INCRA. Estamos tentando agendar essa reunião”, afirmou.

Edição: Camila Rodrigues da Silva

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