Desabrigados

Morre quinto morador de rua, vítima da falta de políticas públicas de abrigo

Nailson Paulo Batista, 52, morreu no Bom Retiro, região central da capital paulista

São Paulo (SP) |
Padre Julio Lancellotti:  “Cada grupo é diferente do outro, e as soluções não serão iguais"
Padre Julio Lancellotti: “Cada grupo é diferente do outro, e as soluções não serão iguais" - Rovena Rosa/Agência Brasil

Na noite desta segunda-feira (13), em que a temperatura chegou a 0ºC na zona sul de São Paulo durante a madrugada, morreu a quinta vítima da falta de políticas municipais adequadas de abrigo na cidade de São Paulo (SP). 

Nailson Paulo Batista, 52, começou a passar mal por volta das 14h na esquina da rua Amazonas com a Guarani, no Bom Retiro. O SAMU chegou apenas às 18h e a Polícia Militar foi chamada às 18h40, quando o homem já havia falecido.

Segundo a PM, Naílson era ligado ao Complexo Prates, um centro de acolhimento distante alguns quarteirões do local. Uma viatura aguardava a chegada do Instituto Médico Legal (IML) para a retirada do corpo por volta das 21h30.

Pelo menos outros quatro moradores de rua faleceram na mesma situação de exposição ao frio durante a última semana na capital paulista.

Sem burocracia

Para o padre Julio Lancellotti, coordenador da Pastoral Povo da Rua, a gestão do prefeito Fernando Haddad (PT) precisa desenvolver ações emergenciais criativas e menos burocratizadas para evitar que novas mortes ocorram. “É preciso muitas pequenas ações, construídas com cada grupo. Porque cada um é diferente do outro, e as soluções não serão iguais”, afirma.

A avaliação é que, com as exigências burocráticas dos albergues, algumas pessoas com necessidades específicas, que poderiam ser protegidas, afastam-se. É o caso de casais com crianças, por exemplo. Segundo o pároco, os acolhimentos não permitem que homem e mulher, mesmo comprovado o laço familiar, durmam juntos, e as crianças também são direcionadas para outros espaços. Confira a entrevista no vídeo.

Alternativa

Paulo Escobar, militante do Coletivo Autônomo dos Trabalhadores Sociais (Catso), a prefeitura “não tem ouvido a população”. “Eles impõe uma ‘ditadura do bem’. Decidem e põem em prática sem levar em consideração o que as pessoas pedem”, sintetizou.

Além disso, um sistema onde é registrado o comportamento dos usuários de albergue são usados para vetar a entrada deles em outros acolhimentos. “A gente chama de capivara da rua. O usuário que tem um problema em um lugar é registrado e depois vetado no outro albergue. Mas quem decide se o que ele fez é errado ou não é a pessoa que digita no computador. Não há chance de defesa”, reclama Escobar.

O Catso tem ajudado a organizar alojamentos autônomos que abrigam grupos que vivem na rua sem fazer as mesmas exigências que os espaços oficiais. Esses alojamentos ficam sob viadutos ou em espaços onde já houve equipamentos públicos fechados, como tendas.

“Eles querem gerir seus próprios espaços e moradias. A autonomia de verdade não acontece nos albergues, que são feudos”, afirma Escobar.

Segundo ele, a prefeitura não reconhece esses locais e empreende despejos contra eles. “A prefeitura diz que não se trata de população de rua, mas de traficantes. Ou seja, criminaliza essas pessoas”, lamenta.

Outro lado

Em nota, a prefeitura afirmou que “a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Assistência Social atua diariamente, das 8h às 22h, em todas as regiões da cidade realizando abordagens e encaminhamentos por meio de orientadores sociais do Serviço Especializado de Abordagem Social (SEAS). São mais de 500 profissionais envolvidos neste trabalho que consiste na identificação, aproximação, escuta e encaminhamento das pessoas que aceitam para a rede de Proteção Especial como Centros de Acolhida”.

No texto, o governo municipal ressalta que “nem sempre é possível encaminhar a pessoa em situação de rua para o Centro de Acolhida que ela quer. Ele é encaminhado para o serviço que tenha vagas disponíveis”. 

Edição: Camila Rodrigues da Silva

Atualizado às 22h25

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