Pernambuco

Cultura Popular

“Eu sou uma preta cirandeira, cantando no meio da multidão"

Lia de Itamaracá é patrimônio vivo da história pernambucana e vive há 72 anos na beira do mar

Recife |
Lia morou toda a vida em Itamaracá
Lia morou toda a vida em Itamaracá - PH Silva

Maria Madalena Correia do Nascimento ou Lia da Ciranda, 72 anos vividos e cantados. É dela, que nunca abandonou a Ilha de Itamaracá, o título de rainha da ciranda. Começou a cantar ciranda aos 12 anos e em 1978 gravou o seu primeiro LP. Viajou o mundo espalhando o ritmo pernambucano pelo mundo. Em entrevista ao BdF PE ela conversa sobre música, cultura, Itamaracá. Confira!

Lia
Meu nome é Maria Madalena Correia do Nascimento, mas eu atendo por Lia da Ciranda, comecei a cantar com 12 anos de idade, com 19 anos eu assumi a responsabilidade de me apresentar em Itamaracá e depois em Recife. Depois disso começou a procura dos jornais, televisão, pra saber se Lia existia mesmo porque muita gente não sabia que eu existia… quem é a Lia, se a Lia é uma lenda… Mas eu existo e estou aqui bem tcham, cantando e cantarolando pro povo. Em 1977 gravei um LP, Lia de Itamaracá, rainha da ciranda. O primeiro CD é Eu sou Lia e o segundo é Ciranda de Ritmos… daí comecei a fazer meus shows e seguir pro exterior e pro mundo.

Itamaracá
Nasci e me criei em Itamaracá, minha família sempre foi de Itamaracá. Nunca pensei em sair, faço meus showzinhos, ganho meu dinheirinho e é Itamaracá de volta. Itamaracá é minha praia. O dom que eu tenho quem me deu foi Deus. Eu vivo esse sonho de ser cantora aqui em Itamaracá. Adoro fazer ciranda, adoro cantar.

Turnês
Pra mim mudou muita coisa quando eu passei a ser conhecida, porque se não fosse a propaganda ninguém sabia que eu existia e teve muita reportagem porque eu fiquei mais conhecida. É bom você ter um trabalho pra ser reconhecida, sair pro mundo, pro povo lhe ver e saber que você existe. As turnês internacionais foram muito boas, para mim foi maravilhoso. Eu já perdi a conta de quantos países eu conheci. As pessoas gostam muito da cultura que a gente representa, parece que estou em casa.

Trabalho
Trabalhei como merendeira numa escola, por 28 anos. Era bacana, eu adoro cozinhar e adoro crianças, então, sempre gostei muito desse trabalho. Eu sempre conciliei o trabalho e a música… isso nunca atrapalhou, eu adoro o trabalho de merendeira. Nunca vivi só de música. Sempre vivi do meu trabalho de merendeira, mas é claro que a música também ajuda. Ciranda não tem todo dia, você também não tá gravando todo dia.

Música
Eu tenho que estudar música. Eu me inspiro na onda do mar e vou embora. Eu gosto de ouvir Roberto Carlos, Reginaldo Rossi, Agnaldo Timóteo, Bartô Galeno. Eu sou uma preta cirandeira, cantando com um ganzá na mão, cantando ciranda animada no meio da multidão. Eu sou Lia de Itamaracá, filha de Iemanjá. As duas filhas de Baracho também cantam comigo, as duas são cirandeiras, Bia e Dulce. É maravilhoso trabalhar com elas.

Cultura
O incentivo à cultura de Pernambuco tá fraco. Da cultura de Pernambuco a gente quase não vê mais nada… porque não tem incentivo, não tem ajuda. O povo quer agora é Safadão…. a juventude de hoje nem conhece a ciranda, o coco, o maracatu, o frevo. O espaço cultural caiu no dia 9 de janeiro de 2014. Tô esperando uma emenda parlamentar do Deputado Guilherme Uchoa pra reerguer o espaço. Nesse espaço, tínhamos oficinas e tínhamos shows todos os sábados, era Lia e um convidado… lá tocaram Selma do Coco, Durinha, tocou Glorinha. O espaço cultural sempre lotava de gente.

Golpe
A presidenta é que sabe o que tá passando, o que eu sei é que estamos comendo feijão a 11 reais o quilo.

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