Nesta segunda-feira (4) teve início, em Petrolina, a Caravana Popular em Defesa da Democracia. A cidade sertaneja foi a primeira a receber o evento da Frente Brasil Popular, que vai passar por 12 cidades pernambucanas até chegar ao Recife, em 13 de julho. Na plenária de abertura, realizada na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), foi marcada pela necessidade de pautar a reforma do Sistema Político. À tarde, a Praça do Bambuzinho recebeu um ato público de denúncia do golpe.
Na mesa de abertura que deu largada à Caravana o presidente estadual do Partido dos Trabalhadores (PT), Bruno Ribeiro, e o presidente estadual da Central Única de Trabalhadores (CUT), Carlos Veras, destacaram a necessidade de reformar o sistema político para conseguir mudar o Brasil de maneira mais profunda. Ribeiro analisou que mesmo que a pressão das ruas mude a posição de alguns senadores, resultando na volta de Dilma, a população vai continuar sofrendo ataques por parte do Congresso Nacional. "Mesmo que Dilma volte, o golpe continua. Sem Reforma Política não dá para mudar o País. Com um Congresso desse não dá. E sem essa história de que o povo não sabe votar. A culpa não é do povo, mas do Sistema Político", afirmou.
A posição do presidente do PT em Pernambuco foi endossada por Carlos Veras. "Nós defendemos um Plebiscito por uma Constituinte Exclusiva do sistema político. Também não podemos fugir da questão eleitoral, mas no momento temos que reforçar a narrativa do golpe. E para o retorno ao Estado democrático de direito só há uma forma: o retorno da presidenta Dilma", pontuou o presidente da CUT. Veras disse que assina em baixo do artigo "Não desviar o foco: derrotar o golpe!", escrito pela presidenta da CUT de Minas Gerais, Beatriz Cerqueira, e publicada no Brasil de Fato. Antes de sua fala o líder sindical homenageou a educadora, líder sindical e ex-deputada Isabel Cristina (PT), natural de Petrolina e que faleceu aos 62 anos no dia 22 de junho.
O desmonte de políticas públicas nessas semanas de governo interino também foi tema recorrente nas falas durante a plenária. Felipe Senna, da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), destacou as ameaças da gestão Temer às políticas voltadas para o convívio com a seca. "O mapa da fome, há 20 anos, denunciava que o povo do semiárido todo passava fome. Há 13 anos isso começou a mudar. Essa mudança de cenário é o que está em jogo com o golpe. O governo interino de Michel Temer acabou com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e cortou projeto de R$ 20 milhões voltado para o semiárido. Existe a possibilidade de que essa população volte a passar fome", lamentou.
Carlos Veras chamou atenção para a possibilidade de fusão entre o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). "Fundir o BNB com a Sudene é tirar o papel social do BNB. Isso coloca em risco programas como o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar)", disse. O presidente da CUT afirmou que o objetivo do grupo que ocupa interinamente o Governo Federal é rasgar a Consolidação das Leis do Trabalho. "Eles querem rasgar a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) para reduzir os custos que as empresas têm com os trabalhadores e trabalhadoras. Eles querem aumentar seus lucros em cima da exploração do trabalhador, com aumento da idade de aposentadoria. Todas essas questões estão conectadas".
Membro da Articulação de Mulheres Brasileiras, Aline Fagundes, chamou atenção para as possibilidades de retrocesso na Lei Maria da Penha e criticou a falta de compromisso do governo interino com as políticas para mulheres. "As mulheres já estavam mobilizadas e vimos como o ministério interino é simbólico e revelador de que os golpistas são também machistas e racistas", disse. A militante do Levante Popular da Juventude, Vanessa Gonzada, chamou atenção para os desmontes às políticas de inclusão social na educação superior. "Sob gerência do golpista pernambucano Mendonça Filho, que é contra a política de cotas, o Ministério da Educação suspendeu o FIES, Prouni e Pronatec", criticou. Ela destacou que é preciso retomar o trabalho de base e reforçar a Frente Brasil Popular como instrumento da unidade da esquerda.
Apesar dos constantes ataques aos direitos dos trabalhadores, o presidente do PT se mostrou motivado com a construção política da Frente Brasil Popular. "Aparentemente a conjuntura é adversa, com articulação de forças conservadoras e golpistas para derrubar uma presidenta legítima. Mas o cenário está favorável à unidade das esquerdas sociais, sindicais e partidárias. Temos muitos mais resultados positivos que negativos nessa conjuntura - e ela será revertida", pontuou.
Membro da coordenação da Frente Brasil Popular em Pernambuco, Anderson Girotto, alertou que só a mobilização das bases pode barrar o processo de desmonte da Constituição de 1988. "A Frente Brasil Popular é o espaço de unidade das esquerdas e a Caravana quer resgatar esse trabalho de base e também interiorizar as lutas, que até agora estiveram muito centradas nos grandes centros urbanos", informou. A Frente quer chegar ao número de 500 comitês em Pernambuco. Dia 11 de julho Petrolina terá um ato com a presença do ex-presidente Lula na Praça do Bambuzinho, às 15h.
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