Direitos Indígenas

Famílias Guarani Kaiowá despejadas em Dourados (MS) não têm para onde ir

Um dia após reintegração de posse, indígenas voltam para a beira da estrada, onde viveram por mais de 10 anos

São Paulo (SP) |
As famílias já viveram na beira desta estrada por mais de dez anos
As famílias já viveram na beira desta estrada por mais de dez anos - Cimi

Um dia após a reintegração de posse, nove famílias Guarani Kaiowá voltaram para a beira da estrada em frente ao tekoha Apyka’i, terra de onde foram despejados, em Dourados (MS). As famílias já viveram na beira desta estrada por mais de dez anos.

A reintegração ocorreu durante chuva intensa nesta quarta (6). As famílias perderam a maior parte dos pertences, que foram levados por caminhões e os barracos onde viviam foram destruídos. Em nota, a Funai (Fundação Nacional do Índio) afirmou que está prestando apoio à comunidade enviando alimentos e materiais para que os indígenas consigam se reacomodar na beira da estrada.

Militantes da causa indígena da região também estão organizando ações para ajudar as vítimas. 

Histórico

Segundo o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), os Guarani Kaiowá viveram por mais de dez anos no local e sofriam ataques por seguranças privadas. O conselho também explica que as famílias não possuem acesso a água e precisam consumir água de córregos.

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Por outro lado, mesmo enquanto estavam no tekoha Apyka’i, os indígenas não possuíam acesso a questões básicas para a sobrevivência como a floresta para caça e produção, educação, saúde e segurança e dependiam de doações de cestas básicas por parte da Funai e de cidadãos que se solidarizam com a questão.

A Funai afirma que está intervindo para que haja a preservação do cemitério de indígenas que morreram durante os anos de ocupação, que fica na fazenda. Militantes da região pretendem denunciar a violação dos direitos dos povos para organizações internacionais de direitos humanos.

O caso

A fazenda de propriedade de Cassio Guilherme Bonilha Tecchio reincide no local reivindicado pelos indígenas como território tradicional. A área é arrendada para o plantio de cana-de-açúcar pela Usina São Fernando, propriedade de José Carlos Bumlai, preso em 2015 na Operação Lava Jato.

A operação foi conduzida pela Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Militar em cumprimento à decisão judicial de reintegração de posse da área, assinada pelo juiz substituto Fábio Kaiut Nunes, da 1ª Vara da Justiça Federal de Dourados.

A reintegração foi realizada mesmo com um pedido da Funai de suspensão de liminar no Supremo Tribunal Federal (STF). O órgão havia também iniciado estudos por grupos técnicos para chegar a uma conclusão do conflito.

Questionada pela redação sobre qual as próximas ações para atender as famílias, a Funai não respondeu até o fechamento desta matéria.

*Contribuiu Karina Vilas Boas

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