Violência

Kaiowás sofrem mais um atentado em Caarapó (MS)

Três indígenas foram baleados ontem e um jovem de 17 anos está em estado grave; comunidade teme por sua segurança

São Paulo (SP) |
Jovem de 17 anos está em estado mais grave, com uma bala alojada no tórax
Jovem de 17 anos está em estado mais grave, com uma bala alojada no tórax - CIMI

Três Guarani Kaiowá foram feridos durante atentado na noite de ontem (11), na Terra Indígena Dourados-Amambaipeguá I, no município de Caarapó (MS), cidade localizada a 273 km da capital Campo Grande. Um adulto de 32 anos e dois adolescentes, um de 15 e outro de 17 anos, foram atingidos enquanto faziam uma dança ritual. As suspeitas é que fazendeiros da região tenham realizado o atentado.

O jovem de 17 anos está em estado mais grave, com uma bala alojada no tórax. Ele está sendo atendido em um Posto de Saúde dentro da reserva e não corre risco de morte.

As vítimas ainda aguardam condições de segurança para serem levados para um hospital, em Caarapó (MS). Ministério Público, Força Nacional de Segurança (FN) e lideranças indígenas estão reunidos para organizar remoção para o hospital e tentar identificar os autores dos tiros.

Em 14 de junho, há quase um mês, o indígena da etnia Kaiowá Cloudione Souza, 26 anos, foi assassinado no mesmo local. O tiroteio deixou ainda dez feridos, inclusive uma criança, segundo relatos de indígenas.

Acordo

Na semana passada, o sindicato ruralista da região, os indígenas e o Ministério Público firmaram um acordo de paz, em que os ruralistas se comprometiam a não usar mais violência, assim como os Kaiowá a não realizarem mais as ‘retomadas’, que é como se chamam as ocupações de terras tradicionais.

O acordo foi feito depois do atentado em junho. Uma semana depois, os Kaiowá foram novamente atacados, mas não houve feridos.

Apesar de estarem cumprindo o acordo, os guaranis foram surpreendidos pela ação truculenta. “Eles vinham bem devagarzinho. Na frente, a ‘concha’ [trator] com os faróis acesos. Atrás, as caminhonetes, de luzes apagadas. Aí, eles começaram a gritaram ‘sai daí, seus vagabundos!’, e vinham na nossa direção”, relatou C., um dos sobreviventes do ataque desta segunda aos missionários do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

“Aí desligou as luzes da ‘concha’, e ligou das caminhonetes. Foi aí que dois homens dentro da ‘concha’ apareceram e começaram a atirar, e outros das caminhonetes também saíram atirando, e a gente saiu tudo correndo”, continua outro indígena, R., também atingido pelos tiros.

Motivos do conflito

A tensão na região ocorre porque os Kaiowá estão tentando retomar terras tradicionais, de onde foram removidos para serem alocados em uma pequena área.

“A reserva é um quadradinho, bem superficial. Tem 3 mil hectares para cerca de cinco, sete mil pessoas. É um espaço muito pequeno, confinado. Desde que foram removidos das suas terras tradicionais, na década de 20, eles têm lutado para voltar para os territórios tradicionais.

Em 2007, um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) do Ministério Público forçou a Funai a reconhecer essas remoções forçadas”, explica Matias Rempel, missionário do Cimi que está no local.

“Finalmente, em 2016, o relatório foi concluído e a Funai publica o reconhecimento de 55 mil hectares. O que dá a tenção é que os produtores se reúnem para exigir a revogação porque ele foi publicado pela governo Dilma, como se fosse um contra golpe dela. Uma loucura deles”, afirma. Desde 2012, ocorrem 10 “retomadas”, cinco delas após o atentado de julho.

Desde o primeiro atentado no mês passado, a Força Nacional de Segurança está no local para garantir segurança. Os guarani reclamam, no entanto, que eles não atenderam o chamado por volta das 21h, quando perceberam sinais da emboscada. Os agentes de segurança só chegaram por volta das 23h, depois do tiroteio, e não teria providenciado a remoção dos feridos.

A reportagem questionou o Ministério da Justiça sobre a atuação da FN, mas não obteve resposta até a publicação dessa reportagem.

Edição: Camila Rodrigues da Silva

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