Coluna

​​​​​​​A história de Nem nos convida a refletir

Imagem de perfil do Colunistaesd
Ele subiu o morro como Antônio e desceu como o Nem da Rocinha
Ele subiu o morro como Antônio e desceu como o Nem da Rocinha - Divulgação
Se um morador escrever essa história será acusado de associação ao tráfico

A história do Nem da Rocinha contada em um livro eletrizante. É assim que eu classifico o livro “O Dono do Morro: Um Homem e a Batalha Pelo Rio (Ed. Companhia da Letras) escrito pelo jornalista e historiador britânico Misha Glenny.

Para contar a trajetória de Antônio Bonfim Lopes (o Nem da Rocinha), o escritor teve que mergulhar na história recente do crime do Rio de Janeiro. Misha visitou o Nem algumas vezes na cadeia além de conversar com policiais, moradores da Rocinha e até traficantes inimigos dele.

Eu não acredito que não temos escritores no Brasil que possam contar as histórias do nosso cotidiano. Conheço vários escritores, inclusive moradores de favelas, que poderiam dar vida aos personagens que boa parte da sociedade não faz ideia que existam ou existiram.

No entanto, o tratamento dado pela mídia a esses personagens é que são bandidos e ponto. São pessoas sem passado e sem futuro, por isso têm que ter a morte como “presente”.

Esse comportamento presta um desserviço, pois, se os brasileiros recebessem de maneira mais humana informações sobre os problemas que a proibição das drogas gera, eles refletiriam sobre a importância da legalização.

Se um morador de favela se atrever a escrever o que o Misha escreveu, será acusado de associação ao tráfico. Mas, como foi um jornalista europeu, o livro será visto como “jornalismo de verdade”.

Porém, a obra de Misha deixa uma coisa bem clara: não basta saber das histórias, tem que saber contá-las.

Edição: ---