Crise

Tentativa de golpe na Turquia deixa 265 mortos, diz governo

Primeiro-ministro voltou a acusar clérigo Fethullah Gülen, líder do movimento Hizmet, de ser responsável pelo golpe

Redação |
Insurreição militar é um ato de traição e os responsáveis “pagarão caro”, afirma Erdogan
Insurreição militar é um ato de traição e os responsáveis “pagarão caro”, afirma Erdogan - Reprodução

A tentativa de golpe militar na Turquia, que começou na noite de sexta-feira (15/07), deixou 265 mortos, afirmou o primeiro-ministro do país, Binali Yildirim. Como consequência das ações - no que é visto como o início de um "expurgo" - o governo afirma ter demitido 2.745 juízes, que acusa estarem envolvidos na ação que tentou derrubar o presidente Recep Tayyip Erdogan.

"A situação está sob controle. Não se preocupem pelos comandantes (retidos); estarão em breve em serviço", afirmou o primeiro-ministro. "Os cérebros do golpe foram todos detidos. Estamos buscando outros; estamos detendo. Os promotores começaram com seu trabalho judicial.” “Os membros deste grupo estão agora em mãos da nação turca e vão receber a pena que merecem", acrescentou. Segundo o premiê, os envolvidos na tentativa serão expulsos das Forças Armadas.

Ao retornar a Istambul, no fina da noite de sexta (madrugada de sábado na Turquia), Erdogan disse que a insurreição militar é um ato de traição e que os responsáveis “pagarão caro”. Segundo ele, que diz continuar no poder apesar da reivindicação dos militares, esta é uma oportunidade para “limpar” as Forças Armadas do país. 

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Yildirim voltou, neste sábado (16/07) a acusar diretamente o clérigo Fethullah Gülen como responsável pela tentativa de golpe na Turquia. Gülen, líder de um movimento social-religioso chamado Hizmet – que o governo de Erdogan afirma ter montado um “Estado paralelo” no país – vive em um autoexílio nos Estados Unidos e condenou os acontecimentos desta madrugada. O Hizmet foi classificado pelo governo turco, em maio, como uma organização terrorista.

“Qualquer país que proteja Fethullah Gülen será um inimigo da Turquia e será considerado em guerra com a Turquia”, afirmou o primeiro-ministro, lembrando que o país é um membro da Otan.

Na sexta, Erdogan havia feito a mesma acusação. De acordo com o presidente, esta tentativa de golpe foi realizada por uma “minoria” dentro das Forças Armadas que não tem capacidade de unir o país e que tem sido orientada por Gülen.

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, pediu que Turquia enviasse evidências de que Gülen esteja envolvido na tentativa de golpe. Kerry, de acordo com a emissora britânica BBC, está em Luxemburgo e afirmou não ter recebido nenhum pedido de extradição vindo de Ancara.

Por meio de comunicado oficial, o Hizmet negou as acusações de Erdogan e rechaçou a tentativa de golpe militar no país. A nota diz que o movimento tem mais de 40 anos de "compromisso com a paz e a democracia". "Condenamos qualquer intervenção militar na política interna da Turquia", diz a nota. "Comentários de círculos pró-Erdogan são altamente irresponsáveis."

Grécia

O governo grego afirmou neste sábado que um helicóptero Blackhawk pertencente ao governo turco pousou na cidade fronteiriça de Alexandroupolis com oito militares, que pediram asilo. Acredita-se que estes militares tenham feito parte da tentativa de golpe.

De acordo com o jornal britânico The Guardian, Atenas afirmou que irá devolver o helicóptero a Ancara “o mais rápido possível”, mas que vai avaliar as leis internacionais de asilo para determinar o que será feito com os militares – já sinalizando que talvez o pedido deles não seja aceito.

“O governo grego está em contato com as autoridades turcas para combinar o retorno, o mais rápido possível, do helicóptero militar”, afirmou a porta-voz do governo grego, Olga Gerovasili. “Em relação aos oito presos, os procedimentos previstos pela lei internacional serão tomados, mas está sendo levado seriamente em conta o fato de que, no país deles, os detidos são acusados de violar a Constituição e de tentar derrubar a democracia”, completou.

Tentativa de Golpe

No começo da noite desta sexta-feira, membros das Forças Armadas turcas fecharam as pontes de Bósforo e Fatih Sultan Mehmet, em Istambul, em meio a jatos e helicópteros voando baixo sobre a cidade e em Ancara e de relatos de tiros na capital turca.

Os militares também cercaram o Parlamento turco, em Ancara, para onde também se encaminharam civis se manifestando contra o golpe, segundo a BBC. Em Istambul, os militares abriram fogo contra civis em uma das pontes bloqueadas e na praça Taksim.

O grupo de militares divulgou um comunicado em que diziam que as Forças Armadas "tomaram integralmente a administração do país para reinstaurar a ordem constitucional, os direitos humanos e liberdades, o Estado de direito e a segurança geral que foi deteriorada". "Todos os acordos internacionais [da Turquia] continuam valendo. Esperamos que todas as nossas boas relações com todos os países prossigam assim."

Antes de chegar a Istambul, Erdogan apareceu via webcam no canal CNN Turk e pediu que a população saisse às ruas para tentar impedir que os militares tomem o poder no país.

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