Debates

“Como mulheres rurais, temos uma busca por cidadania", diz Atiliana Brunetto, do MST

Militante participou da mesa de debates sobre a violência contra a mulher do Festival Cultural da Reforma Agrária

Belo Horizonte (MG), do Mídia Ninja, em especial para o Brasil de Fato |
Debate aconteceu nesta sexta-feira, 22, no Centro Cultural da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Debate aconteceu nesta sexta-feira, 22, no Centro Cultural da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) - Luiz Fernando

“Como mulheres rurais, temos uma busca por cidadania", pontuou Atiliana Brunetto, coordenadora da questão de gênero do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Atiliana participou, ao lado de Lucinéia Freitas, também do MST e Juliana Bavuzo das Brigadas Populares, da mesa de debates sobre a "Questão de Gênero: violência contra a mulher", realizada nesta sexta-feira, 22, no Centro Cultural da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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A mesa faz parte de uma série de paineis realizados nesta sexta, durante a programação do Festival Nacional de Artes e Cultura da Reforma Agrária, que acontece na cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais, de 20 a 24 de julho. Para Atiliana, a estrutura social, como um todo, deve ser transformada e isso também precisa acontecer dentro dos movimentos sociais. “Só vamos conseguir transformar a sociedade se nos transformarmos também, para deixarmos de viver nessa sociedade patriarcal, machista e racista”. 

A violência contra a mulher, além de física, pode vir de diferentes maneiras, como sexual, institucional, estrutural, estatal e psicológica, aponta Juliana, militante das Brigadas Populares. Ela lembra que “a violência é usada como forma de dominar uma pessoa, para mantê-la no padrão. Quem é que dita as normas? É quem tem o poder e usa a violência como forma de dominação”, completa. 

Para Juliana, que comemorou a iniciativa do Festival Nacional em realizar este debate e colocar em pauta a questão da violência contra a mulher e da igualdade de gênero, existe uma expectativa de que as mulheres sejam “seres plenos”. “Somos classificadas nas políticas, nos direitos de acordo com nosso contrato civil, que é o casamento. Somos incompletas para a sociedade se a gente não casar”, disse

“Somos vistas como propriedade, no casamento, que todas choramos quando o pai entrega a filha para o futuro marido, mas ela está sendo tratada como posse, passando o 'fardo’ do pai para o marido”, completa Lucinéia Freitas.

A abertura da mesa de debates foi marcada pela leitura da poesia “Sobreviva”, de Gustavo Garcia Palermo, militante do MST. O texto, que emocionou a todas e todos presentes, destaca em seus versos o destino imposto a muitas mulheres: 

“Aos 17 anos engravidei, me mantive puta, exposta, me mantive sozinha
Algum tempo depois me casei com o homem dos sonhos
Me mantive mãe, cuidadosa, me mantive proibida
Fui impedida de trabalhar fora, além de estudar
Me mantive dependente, dona de casa, escondida
E por fim, com esse meu marido, com essa vida
Me mantenho como quando nasci
Ensanguentada
mas respirando
Me mantenho viva
Me mantenho sobreviva”

Ao final do debate, os presentes na mesa de debate foram presenteados com uma bandana do MST,  que trazia esclarecimentos da vida da mulher camponesa e de como a mulher busca uma cidadania plena.

Edição: José Eduardo Bernardes

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