Brasília

Pautas difusas, da monarquia ao “Escola sem Partido”, marcam ato pró-golpe no DF

Na capital federal, protesto reuniu cerca de 5 mil pessoas; ação foi convocada pelo Vem Pra Rua pelas redes sociais

Brasília (DF) |
Manifestante quer CPI de movimentos e a volta da União Democrática Nacional (UDN)
Manifestante quer CPI de movimentos e a volta da União Democrática Nacional (UDN) - Foto: Cristiane Sampaio

Em Brasília, o protesto pelo impeachment deste domingo (31) ocorreu no final da manhã e reuniu representantes de diversos grupos de direita nas imediações do Congresso Nacional. Apesar da variedade de organizações presentes, o ato não teve adesão da população, diferentemente dos demais protestos ocorridos nos últimos meses.

Enquanto o movimento “Vem pra Rua” falava em cerca de 6 mil pessoas, a Polícia Militar afirmava que havia cerca de 5 mil manifestantes passando pela Esplanada ao longo do ato, o que se viu era um grupo bem menor do que os números projetados. No evento do Facebook que convocava nacionalmente o ato, 1,5 milhão tinham sido convidadas e 114 mil disserem que compareceriam.

Nos cartazes, nas faixas, camisas e palavras de ordem, as pautas colocadas pelos manifestantes eram muitas: desde a defesa do projeto de lei que institui o programa “Escola sem Partido” até a morte da presidenta afastada Dilma Rousseff, passando por manifestações em defesa de uma CPI da UNE, da CUT e do MST; da intervenção militar; da autonomia financeira da Polícia Federal; e até mesmo da volta da monarquia.

Apesar das diferenças de bandeiras, a maioria dos presentes bradavam em uníssono gritos de “Fora, Dilma” e “Fora, PT”, entoando versos de apoio ao juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal no Paraná, titular dos processos da Operação Lava Jato. “Ele deveria ser o nosso rei e presidente da República”, disse a farmacêutica Vivian Macedo, sem conseguir explicar como seria possível a coexistência das duas formas de governo – monarquia e república.

Entre os defensores da intervenção militar, estava a servidora pública Fernanda Pinto, que, vestida de verde e amarelo, segurava um cartaz com a frase “We want military intervention now. SOS”. Segundo ela, a participação dos militares seria “fundamental” para “moralizar o país”.

“O marxismo é uma ameaça crescente no Brasil e é uma teoria que imbeciliza a população, para que eles possam sempre manipular o povo. (...) Não podemos permitir a implantação do comunismo e a intervenção militar seria a solução, com base na Constituição Federal”, defendeu a servidora.

Questionada sobre os milhares de casos de tortura e assassinatos praticados pelos militares durante a ditadura no Brasil, ela respondeu que “não seria igual a 1964”. “Eles iriam pegar a bagunça, arrumar e liberar o país pra novas eleições. A Constituição é bem clara nisso, que todo poder emana do povo. (...) Sou de uma geração que estudou Moral e Cívica, que aprendeu a ter amor à pátria e quero isso de volta, com os militares, porque o comunismo não tem isso”, disse.

O advogado e coordenador do movimento “Escola sem Partido”, Miguel Nagib, compareceu ao ato para reforçar a luta em favor dos PLs que atualmente tramitam na Câmara e no Senado e pedem “o fim da doutrinação nas escolas”.

Questionado pela reportagem se a própria ciência e a prática documental da produção de conhecimento não são desprovidas de neutralidade, ele defendeu que “não é impossível um professor conter o impulso de falar coisas ideológicas”. “Essa é uma prática que vem sendo disseminada e ela foi piorando ao longo de 40 anos”, completou.

Já o jornalista Felipe Porto foi ao protesto com uma faixa que pedia a instalação de uma CPI da UNE, da CUT e do MST. “Enquanto a gente não limpar o Brasil desses pelegos, do PT, da UNE, da CUT e do MST, nada vai melhorar”. Questionado se a causa agrária não seria justa, ele respondeu que o MST seria uma “fraude”. “Já foi provado que mais de 550 mil lotes de terra foram entregues a pessoas que já morreram, vereadores e funcionários públicos”. O Brasil de Fato perguntou quando isso ocorreu e qual a fonte das informações, mas o jornalista não soube explicar.

“Não sou contra a reforma agrária, mas lá no meu estado, Mato Grosso do Sul, sabe o que é acampamento do MST? É gente de Hilux, que só aparece fim de semana pra fazer churrasco e bloquear as estradas. Isso é uma vergonha”, queixou-se o manifestante.

Ele cultiva ainda outra bandeira: a volta da União Democrática Nacional (UDN), legenda conservadora que foi extinta em 1965. “Foi historicamente o maior partido de direita que já houve no Brasil – anticomunista, cristão, radical e monarquista. Já registramos a refundação dele esta semana, com o estatuto protocolado em cartório. Vamos começar a colher assinaturas em todo o país e disputar as próximas eleições para trazer a célebre UDN de voltar ao poder e moralizar o Brasil”, projetou o jornalista.

Nacionalmente e agressões

Pelo país, atos de grupos de direita foram notificados em 16 capitais. Além de Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória, Belo Horizonte, Goiânia, Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, Salvador, Recife, Aracaju, Fortaleza, Manaus, São Luís e Belém. Em todas as cidades os números de manifestantes foi aquém do previsto.

Confrontos foram registrados em Belém, Rio de Janeiro e Curitiba. Na capital paraense, manifestantes de direita e esquerda se dirigiam uns aos outros com xingamentos e gritos enquanto eram mantidos afastados pela polícia. No Rio, pessoas que defendem o golpe tentaram agredir e arrancar uma bandeira vermelha de um vendedor de praia.

Em Curitiba, a atriz Letícia Sabatella passava pela praça onde ocorria o protesto da direita quando começou a ser agredida verbalmente. Ela gravou a agressão e publicou em sua conta do Instagram. No vídeo, a atriz fala: “Vocês não são democráticos". Com raiva, uma mulher grita: “Comunista, cria vergonha. Nossa bandeira jamais será vermelha. Sem vergonha, acabou a mamata pra vocês. Chora petista”. Um homem que passa vai em direção à atriz e a chama de “puta”.

*Edição: Vivian Fernandes
 

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