Megaeventos no Rio

"Remoções forçadas não aconteciam no Rio desde a década de 1960", diz pesquisadora

Marilene de Paula publica dossiê explicando os gastos excessivos e as violações que acompanham megaevento no Rio

Rio de Janeiro (RJ) |
"Remoções forçadas não aconteciam no Rio de Janeiro desde a década de 1960", afirma pesquisadora
"Remoções forçadas não aconteciam no Rio de Janeiro desde a década de 1960", afirma pesquisadora - Tomaz Silva/ Agência Brasil

As Olimpíadas e a Copa do mundo geraram um gasto aproximado de R$ 25 bilhões ao Rio de Janeiro. Para entender um pouco mais sobre o que o dinheiro despendido com esses megaeventos representa, o Brasil de Fato entrevistou a pesquisadora Marilene de Paula, da Fundação Heinrich Böll.

Marilene preparou um dossiê detalhando os gastos (publicado no site da Fundação), as violações causadas por esses eventos no Rio, além de uma fundamental análise crítica sobre o tema. Na entrevista, a pesquisadora alerta que, em nome da mobilidade, algumas atrocidades foram perpetradas para agradar cartéis.  

“As remoções forçadas não aconteciam no Rio de Janeiro desde a década de 1960. O que as pesquisas apontam é que na maioria dos casos as pessoas foram removidas para áreas mais distantes do seu local de origem e com condições ainda mais precárias do que as anteriores. A própria Vila Autodromo, vizinha ao Parque Olímpico, é o exemplo mais emblemático”, afirma Marilene.

Confira alguns trechos da entrevista:  

Brasil de Fato: A senhora pôs em xeque os investimentos em transporte visando às Olimpíadas. Poderia explicar por que resolveu fazê-lo?

Marilene de Paula: É necessário que a sociedade discuta e faça pressão junto ao poder público porque a mobilidade urbana é responsável por gastos em torno de 20% do orçamento familiar no Brasil, além de consumir horas preciosas da vida das pessoas em engarramentos e estações. No Rio de Janeiro, por conta de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, 25 bilhões de reais foram gastos em obras, mas projetos como os dos BRTs já estão saturados em menos de três anos de uso.

Na sua opinião, há uma associação entre mobilidade e segregação no Rio de Janeiro, já que, em nome das Olimpíadas, milhares de pessoas foram removidas para dar passagem as linhas segregadas planejadas pela prefeitura?

As remoções forçadas não aconteciam no Rio de Janeiro desde a década de 1960. O que as pesquisas apontam é que na maioria dos casos as pessoas foram removidas para áreas mais distantes do seu local de origem e com condições ainda mais precárias do que as anteriores. Pelo menos um dos terrenos encontra-se sem uso. A própria Vila Autodromo, vizinha ao Parque Olímpico, é o exemplo mais emblemático, no qual aqueles que tinham a intenção de permanecer foram coagidos a aceitarem a proposta do poder público. Os Jogos Olímpicos poderiam ter sido importantes para urbanizar e valorizar outras áreas da cidade e criar legados reais. A opção pela Barra da Tijuca para construção dos principais equipamentos esportivos reforça a especulação imobiliária nessa área e não contempla outra demandas na cidade que beneficiaria mais pessoas e como impactos mais significativos para a vida do carioca.

As inovações quanto à mobilidade no Rio mantiveram a Fetranspor [ Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro] com grande protagonismo. Isso mostra o quanto o Rio está refém de um modal que não é transporte de massa?

Soluções como os BRTs são paliativos para uma metrópole complexa como o Rio de Janeiro. Segundo estudo do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], seriam necessários mais R$42 bilhões em investimento em mobilidade para que de fato fizesse diferença para a população da região metropolitana do Rio. As decisões técnicas e políticas que vêm sendo tomadas ainda são baseadas nos interesses dos cartéis. 

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