Manifestação

Jovens detidos pela PM no ato deste domingo são liberados

Dezenas de pessoas se reuniram desde às 12h em frente ao Fórum Criminal da Barra Funda em apoio aos jovens

São Paulo (SP) |
Jovens detidos chegam ao Fórum Criminal da Barra Funda e são recebidos por palavras de apoio contra a arbitrariedade policial
Jovens detidos chegam ao Fórum Criminal da Barra Funda e são recebidos por palavras de apoio contra a arbitrariedade policial - Júlia Dolce/Brasil de Fato

Os 18 jovens que foram arbitrariamente presos "para averiguação" antes da manifestação que levou mais de 100 mil pessoas às ruas de São Paulo (SP) neste domingo (4), foram liberados no início da noite desta segunda (5). Na audiência de custódia, realizada a partir das 18h, a prisão foi considerada irregular.

Embora o flagrante que motivou a apreensão tenha sido invalidado, a investigação continua, podendo ou não gerar processo.

Protestos

Cerca de 100 pessoas, entre amigos, familiares e ativistas, ocuparam a entrada do Fórum Criminal da Barra Funda, a partir das 12h, esperando por notícias dos jovens, que chegaram em um ônibus da Polícia Militar (PM) por volta das 16h20, e foram recebidos pelo grupo com a  palavra de ordem "Soltem nossos presos".

Outras cinquenta pessoas, em sua maioria jovens secundaristas, protestavam em frente ao portão do Fórum, após terem sido proibidas de se aproximar da entrada do Fórum pelos seguranças.

A partir das 15h, diversas viaturas e motos da PM se posicionaram em frente à entrada do Fórum, e um cordão formado por membros da PM e do Exército cercaram a entrada do prédio.

Segundo uma funcionária do Fórum, que não quis se identificar, a quantidade de policiais presentes era muito atípica. "Nem quando vem gente do PCC tem tanto policial", afirmou. 

 

Contexto

Os 18 jovens foram indiciados em flagrante sob acusação de associação criminosa e corrupção de menores pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) enquanto se reuniam no Centro Cultural São Paulo e se preparavam para a manifestação contra o golpe, na região da Avenida Paulista.

A PM alega que a presença de vinagre, gaze, máscaras e uma barra de ferro nas mochilas de parte dos jovens é prova da intenção de envolvimento em depredações durante o ato. 

Dois jovens menores de idade que também se encontravam no CCSP foram encaminhados para a Fundação Casa e vão responder por ato infracional por associação criminosa.

Outro grupo de cinco jovens, todos menores de idade, foram detidos próximo ao Parque Trianon, após a polícia revistar seus pertences durante a concentração do ato e supostamente encontrar pedras. Eles também foram encaminhados para a Fundação Casa.

Familiares

Segundo Clarissa Reche, amiga próxima de Érico Sant'anna Perrella (24), um dos detidos, os amigos e familiares do adolescente passaram a noite toda acordados procurando mais informações sobre o caso.

"Só deixaram entrar os pais dos menores de idade. Fui tratada muito mal quando cheguei no DEIC. Perguntaram de que movimento eu fazia parte, se eu era Black Bloc. Perguntei por que achavam isso e afirmaram que era por causa do meu cabelo azul", disse.

Clarissa passou a tarde no Fórum Barra Funda, convocando pessoas para se juntarem ao ato em apoio aos detidos e divulgando informações.

"Falaram que eles iriam passar a noite lá porque foram presos em flagrante como organização criminosa. As provas eram vinagre, gaze - porque uma das meninas presa era socorrista do ato - e pedras. Acharam um cano de metal. Um menino que estava presente disse que viu a polícia 'plantando' [criando prova falsa]", disse.

Segundo Rosana Cunha, comerciante e mãe de Gabriel Cunha Risaffi (18), um dos jovens detidos, ela estava acordada há mais de 24 horas sem contato com o filho. "Tinha menino que estava estudando no CCSP e mesmo assim foi preso. Quatro pessoas estavam de mochilas e a polícia alega que tinham armas brancas. Tinha uma menina com um alicate de unha que alegaram que poderia 'causar estrago".

"Eu tenho certeza que a prisão deles é política e é para avisar as pessoas para não se manifestarem. Deveriam ter vergonha do que fizeram", disse Rosana, emocionada. "Cada um tem que defender o que acredita, e a gente não está nem podendo fazer isso", lamentou Rosana.

Élio Silva Ribeiro, pai de Felipe Paciullo Ribeiro, que estava estudando no CCSP quando foi detido, afirmou não ter ainda informações concretas sobre a acusação.

"Meu filho estava na biblioteca recolhendo artigos para um trabalho da faculdade quando pegaram ele. É o que eu estou sabendo agora. Ele foi sozinho e nem participa de manifestações. Tudo isso foi um grande equívoco", disse.

Segundo Rosana, os pais dos jovens prepararam uma carta para o governador Geraldo Alckmin criticando a atuação arbitrária da PM. "Eu não acredito que o governador saiba o que aconteceu ontem. Ele tem família. Quem tem família não pode fazer uma coisa dessas".

Convicções

De acordo com Clarissa e com os pais presentes no DEIC, o delegado responsável pelo caso chegou a afirmar no domingo à noite que tem convicção de que os jovens fazem parte de uma organização criminosa, e que os está investigando há um ano.

Segundo Clarissa, os jovens detidos não se conheciam antes dos atos da semana passada. Por terem frequentado todas as manifestações anteriores, decidiram se encontrar para chegarem juntos.

"Eu tenho convicção de que o que está acontecendo é muito errado, é absurdo. Depois do editorial que a Folha de S. Paulo soltou, a polícia ficou com carta branca para fazer esse tipo de coisa, como se eles tivessem que pegar alguém", denunciou.

Segundo Thiago Rocchetti, advogado de uma das meninas detidas, foi lavrado um único flagrante para os jovens, que responderão ao processo em conjunto no final desta segunda-feira (5).

"Minha cliente ia para a manifestação e, por pedido de familiares para que ela não fosse sozinha, ela decidiu ir com o grupo. Eles nem se conheciam ao vivo. Foi tudo combinado por rede social, porque estavam se preparando para não se machucarem com as bombas", completou o advogado.

Edição: Camila Rodrigues da Silva

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