Justiça

Mulheres protestam em defesa de ex-ministra processada por Alexandre Frota

Eleonora Menicucci foi intimada por Frota após criticar apologia ao estupro feita pelo ator

São Paulo (SP) |
Grupo de mulheres protesta em frente ao Fórum do Juizado Especial Cível Central, em defesa da ex-ministra Eleonora Menicucci, processada por danos morais pelo ator Alexandre Frota
Grupo de mulheres protesta em frente ao Fórum do Juizado Especial Cível Central, em defesa da ex-ministra Eleonora Menicucci, processada por danos morais pelo ator Alexandre Frota - Júlia Dolce/Brasil de Fato

Cerca de trinta mulheres, em sua grande maioria idosas, se reuniram na tarde desta terça-feira (6) em frente ao Fórum do Juizado Especial Cível Central, em São Paulo (SP), para se manifestar em defesa da ex-ministra da Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, que passou por uma audiência de conciliação com o ator Alexandre Frota.

Eleonora está sendo processada por danos morais pelo ator, após ter criticado o atual ministro da Educação, Mendonça Filho, por ter recebido Frota para uma reunião sobre o projeto "Escola sem Partido".

Segundo a ex-ministra, o ator "não só já assumiu ter estuprado, mas fez apologia ao estupro", fazendo referência à fala de Frota no programa "Agora é Tarde", da Rede Bandeirantes de Televisão, quando ele assumiu em tom jocoso já ter estuprado uma Mãe de Santo enquanto ela estava desmaiada.

A ação de Frota pede R$ 35 mil para "alentá-lo" do "sofrimento atroz" gerado pelas criticas feitas por Eleonora. O ator também está processando um colunista da Folha de S. Paulo e a própria Folha por críticas à sua fala, que, segundo ele, não passava de uma piada contada em seu show de humor "Identidade Frota".

A audiência definitiva foi marcada para o dia 11 de outubro.

Audiência

Segundo Eleonora, que chegou por volta das 14h30 e foi recebida com palavras de solidariedade pelas companheiras e ativistas, não haverá reconciliação da sua parte.

"Eu quero dizer para vocês que estou firmíssima. É por vocês que eu sou isso, tenho orgulho de estar com vocês. Desistir jamais. O simples fato de ele estar me processando por eu ter falado que ele fez apologia ao estupro é profundamento articulado, vai além do ato em si: é uma representação dos setores conservadores no poder, da cultura fascista que cada vez mais estamos vivendo no Brasil", disse para as mulheres presentes.

Já Alexandre Frota foi recebido ao som das palavras de ordem "Machistas, facistas, não passarão", e respondeu sorrindo e reproduzindo o sinal da "paz e amor" em ironia.

As mulheres aguardaram o fim da audiência até às 15h30, após terem sido barradas na entrada do Fórum por funcionários e policiais militares.

Logo no início do ato, ao se deparar com cerca de seis senhoras que gostariam de assistir a audiência em apoio a ex-ministra, uma policial militar afirmou que iria fechar a sessão "por prevenção e segurança", pois havia uma "muvuca" em frente ao Fórum.

Quando questionada sobre a legalidade da proibição e sobre o motivo de barrar as senhoras que no momento não se manifestavam, ela respondeu que "a função da Polícia Militar (PM) é antecipar possíveis danos".

Durante a sessão, as mulheres, que carregavam cartazes e um megafone, foram expulsas do corredor da entrada do prédio e tiveram que se manifestar na rua. Duas viaturas da PM foram chamadas como reforço. Em resposta, as mulheres cantaram palavras de ordem contra a repressão policial e pelos direitos das mulheres.

A militante Leda Aparecida, do grupo Promotoras Legais Populares, destacou que ouviu muitos funcionários do Fórum desmerecendo e ridicularizando a manifestação.

"Um deles disse 'Não aguento mais essa frescura'. Ele tinha que nos ouvir, porque todas e todos podem ser estuprados. Não é só o Frota, diversos famosos já fizeram apologia ao estupro e estupraram", completou, revelando que já foi vítima de abuso sexual há oito anos e, sem ter podido denunciar, hoje luta contra a cultura do estupro e por Delegacias da Mulher que funcionem 24 horas.

Golpe e violações

Para a secretária municipal de Políticas Públicas para as Mulheres, Denise Motta Dau, que estava presente, Frota fortaleceu e valorizou a violência contra a mulher no país ao assumir em público e se divertir com o caso de estupro.

"Por mais que tenhamos a Lei Maria da Penha, se não prevenirmos não conseguiremos erradicar a violência contra as mulheres. Nós estamos aqui em solidariedade à Eleonora, que foi deposta pelo golpe parlamentar que aconteceu no país e está sendo processada por reiterar a agressão de Frota, e esperamos conseguir reverter essa ação. Quem tem que ser processado é ele, porque divulgar e reforçar a cultura do estupro é crime no Brasil", afirmou.

A ativista Maria Amélia Teles, que também esteve presente na manifestação, opinou que acredita ser absurdo o Judiciário ter aceito a denúncia de Frota e o fato do ator pretender "inverter a situação para se transformar em vítima".

"Não consegui entrar na audiência porque parece que o Frota pediu para ser sigiloso, mas sei que ele queria um acordo. Não será possível, porque ele realmente fez apologia ao estupro, foi amplamente divulgado, e é um crime contra os direitos das mulheres. Ele atingiu e ofendeu todas as mulheres", disse.

Comparações

Assim como a ex-ministra Eleonora, Maria Amélia, conhecida como Amelinha Teles, também foi presa política torturada pela ditadura, e comparou a situação política atual com o golpe e regime militar.

"Nesse contexto político atual parece que a lei não está valendo de forma igual para todo mundo. Um homem como o Frota dando opinião no Ministério da Educação para o governo golpista é muito grave, mostra o retrocesso político institucional que o Brasil está vivendo. Eu estou vivendo meu segundo golpe. Isso aqui é um golpe, um Estado de Exceção", denunciou a ativista.

"Temos que nos organizar e nos manifestar para impedir seu maior avanço, porque já está desmedido e descabido. Frota fez apologia ao estupro, banalizou a violência e, no mínimo, tinha que dar uma resposta política e pedir desculpa às mulheres. Agora, a ministra fez a defesa das mulheres, que é o papel político dela, e querem colocar ela no banco dos réus? Isso é uma grande violência", concluiu.

Edição: Camila Rodrigues da Silva

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