Internacional

Eleições haitianas: os desafios de um país em crise institucional

Após o cancelamento das eleições de 2015, novo pleito está marcado para 9 de outubro de 2016, com 24 candidatos

Brigada Dessalines |
Primeiro turno de eleições presidenciais no Haiti Eem 25 de outubro
Primeiro turno de eleições presidenciais no Haiti Eem 25 de outubro - MINUSTAH

Eleições Haitianas

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O Haiti tentará realizar nesse 09 de  outubro uma eleição presidencial, que contará com a participação de 27 candidatos, sendo que apenas quatro tem chances reais de vitória.

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Desde 9 de agosto de 2015, quando se iniciou esse processo eleitoral com as eleições legislativas, o país passa por uma crise institucional, com muita fraude eleitoral, principalmente pelos partidos que apoiavam o ex-presidente Michel Martelly.

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Nesse período, a população saiu às ruas em protestos maciços pedindo um mínimo de democracia. Lembrando que, nas eleições de 9 de agosto e 25 de outubro de 2015, compareceram para votar cerca de 10% das pessoas aptas a votarem.

Em janeiro desse ano, o governo recuou e cancelou o 2° turno que estava previsto para o mesmo mês entre o candidato oficialista Jovenel Moise (PHTK) e o oposicionista Jude Celestin (LAPEH), diante da grande pressão popular.

Em 7 de fevereiro, chegou ao final o mandato do presidente Martelly, e o país ficou mais de 20 dias sem governo até o Congresso eleger por 120 dias o presidente do senado, Jocerleme Privert.

Privert, que era oposição, assumiu prometendo reformular o CEP (Conselho Eleitoral Provisório) e dar prosseguimento às eleições. Diante da pressão popular, ele convocou uma comissão para analisar o que se passou nas eleições passadas, e essa comissão pediu para que fosse feita uma nova eleição presidencial.

Assim, o CEP cancelou a eleição presidencial de 25 de outubro de 2015 e chamou novas eleições para 9 de outubro de 2016 com os mesmo 54 candidatos que estavam inscritos. Durante esse processo, muitos candidatos fizeram alianças com outros, e somente 27 se apresentaram para a disputa.

Dos 27 apenas 4 têm chances reais de vitória: Jovenel Moise (PHTK), Jude Celestin (LAPEH), Moise Jean Charles (Pitit Dessalines) e Maryse Narcisse (Fanmi Lavalas).  O voto no Haiti não é obrigatório.

Conheça os perfis:

Jovenel Moise: Empresário era desconhecido da população até o ano passado, quando o ex-presidente Martelly surpreendeu a todos e o lançou como seu candidato.

Dono de grandes terra que produz bananas orgânicas para exportação, com mercado principalmente da Alemanha, ele terminou em 1° com cerca de 35% dos votos na eleição de outubro do ano passado. Agora, algumas pesquisas o colocam entre 35% a 40% das intenções de voto.

Jude Celestin: Em 2010, tinha terminado em 2° nas eleições e foi retirado do 2° turno para colocar o Martelly, a pedido dos EUA. Quase nunca se manifesta sobre o ocorrido em 2010, e é um grande mistério o porquê de o candidato prejudicado não ter se manifestado sobre o que se passou.

Agora, é o grande favorito para ser o futuro presidente do país, com o apoio do ex-presidente Préval e da maioria dos ex-candidatos a presidente que desistiram. Nas eleições de outubro do ano passado, tinha ficado em 2° com 26% dos votos. Algumas pesquisas o colocam em primeiro colocado e outras em segundo, com cerca de 30%.

Moise Jean Charles: ex-senador, é de esquerda, formado em Cuba, já esteve na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) e também já recebeu a Brigada Dessalines em sua casa.

Durante o seu mandato de senador, destacou-se e ganhou popularidade com seus discursos contra a MINUSTAH e com a forte oposição feita ao governo de Martelly. Mas, durante todo esse processo eleitoral, quase não fez críticas a MINUSTAH, mas as tem feito sobre as ingerências dos EUA no Haiti.

É o candidato do povo e tem chances de vitória se o povo resolver sair para votar, pois muitos que disseram que votariam nele não confiam no sistema eleitoral e, provavelmente, não irão votar.

Maryse Narcisse: é médica e candidata apoiada pelo ex-presidente Aristide. Se o ex-presidente resolver entrar forte nessa campanha, ela tem grandes chances de vitória, mas, até agora, ele foi em poucos atos de sua candidata. Para se ter uma ideia, em sua primeira aparição ao lado de Maryse desde que recomeçou esse novo processo eleitoral, mais de 60 mil pessoas acompanharam-no em uma caminhada em Pétionville, cidade da burguesia haitiana que fica da região metropolitana de Porto Príncipe.

Os movimentos sociais continuam denunciando o processo eleitoral e querem o cancelamento de todo o processo eleitoral -- não só das eleições para presidente, mas também de deputados, senadores e prefeitos.

Eles criticam a não participação das mulheres no parlamento, já que todos os deputados e senadores são homens e mais de 80% deles, empresários; e também estão fazendo muitas críticas ao financiamento do processo eleitoral, em que boa parte dos US$ 55 milhões vêm dos EUA e dos bancos privados.

E também a imposição da comunidade internacional, que quer que aconteçam as eleições presidenciais haitianas a todo custo, mesmo fraudulentas. Um dos órgãos é a Organização dos Estados Americanos (OEA), que nomeou o uruguaio Juan Raul Ferreira e já declarou que essas eleições têm que sair de qualquer jeito. Só lembrando que o OEA enviou 15 missões de observação eleitoral no Haiti desde 1990, boa parte delas sem a participação popular.

Eles também querem a reformulação total do CEP e uma nova lei eleitoral, que tenha o financiamento público das campanhas e do processo eleitoral, e que permita a participação das mulheres e camponeses em todos o processo eleitoral.

(*) Luís Veríssimo é militante da Brigada Dessalines, grupo, batizado em homenagem ao libertador haitiano Jean-Jacques Dessalines, está no Haiti desde 2009 e surgiu como uma espécie de resposta à proposta de cooperação militar por meio da Missão das Nações Unidas para Estabilização no Haiti (Minustah)

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