CUIDADO

Ciranda do MAB: cuidado e educação para a luta

Criada para facilitar a participação das mulheres no movimento, Ciranda reúne crianças atingidas

Mariana (MG) |
Mais de 30 crianças participaram do Encontro de Atingidos da Bacia do Rio Doce, em Mariana (MG)
Mais de 30 crianças participaram do Encontro de Atingidos da Bacia do Rio Doce, em Mariana (MG) - Isis Medeiros

Cuidar, educar e formar politicamente as crianças são preocupações que o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) também possui. Em todas suas atividades – inclusive no Encontro dos Atingidos da Bacia do Rio Doce, que acontece em Mariana até sábado (5) – o movimento busca construir um espaço específico para os pequenos. Com o nome de Ciranda, esse espaço permite que mães e pais fiquem liberados para participar da programação do evento.

“A Ciranda do MAB começou a acontecer a partir da necessidade das mulheres, que começaram a se organizar no movimento. Para elas poderem participar das atividades, é necessário existir um lugar para deixar seus filhos”, explica Jéssica Portugal, do Coletivo Nacional da Ciranda do MAB.

Aos 11 anos, Dandara Andrioli participa da Ciranda desde que nasceu. Ela é atingida de Minas Gerais e afirma que a Ciranda é muito importante para ela e para sua família. “A gente aprende sobre o que está acontecendo no mundo, sobre o que nossos pais estão discutindo na plenária. Se não tivesse a Ciranda, os pais teriam que deixar as crianças em casa ou levar para a reunião, mas aí eles iam ficar desconcentrados”, relata.

A Ciranda no Encontro tem mais de 30 crianças atingidas, de 0 a 12 anos.

 

Mais que uma creche

A perspectiva do MAB é que as crianças também são sujeitos da luta dos atingidos por barragens e, por isso, a Ciranda também é um espaço de educação ampla e conscientização sobre a necessidade de transformação da sociedade. Jéssica conta que os temas abordados em cada Ciranda variam conforme o evento.  

“Aqui em Mariana, por exemplo, nós trabalhamos temas que estão sendo discutidos nas plenárias, ou seja, o rompimento da barragem de Fundão, a contaminação do Rio Doce e a situação das comunidades atingidas”, conta.

O rio que era doce

A avaliação positiva da Ciranda é unânime entre os pequenos participantes. Lorena de Souza, de 9 anos, é atingida no Rio de Janeiro e só tem a dizer coisas boas. “O que eu mais gosto são as brincadeiras, as músicas. A gente cantou, fez trabalho e brincou na quadra”, afirma.

Atingido pela lama da Samarco (Vale-BHP Billiton), Tiago Vieira, do Espírito Santo, tem 7 anos e conta que desenhar é sua atividade preferida. “Eu gostei de pintar a barragem no papel. Nós fizemos o Rio antes e depois da lama. Antes era limpo, bonito. Depois ficou cheia de barro, tinha peixe morto e ninguém tomando banho”, conta, fazendo referência a uma atividade que abordou o tema da tragédia.

Dandara também adorou essa dinâmica, mas lamenta o quanto a lama deixou o Rio Doce feio e poluído. “Foi muito triste o que aconteceu, com lama não pode mais pescar e nadar”, comenta.

 

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