INVASÃO À ENFF

Fundador do Podemos, da Espanha, diz que ação na ENFF é "típica de ditadura"

Da América Latina e da Europa vieram declarações de repúdio à invasão da polícia

Brasil de Fato I Rio de Janeiro (RJ) |
Monedero, intelectual respeitado na Europa, critica ação contra o MST em São Paulo
Monedero, intelectual respeitado na Europa, critica ação contra o MST em São Paulo - Divulgação

Intelectuais, juristas, políticos e movimentos populares de várias partes do mundo reagiram a invasão à Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), espaço de formação política do Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), nesta sexta-feira (4).

Um dos fundadores do partido Podemos, da Espanha, Juan Carlos Monedero, que também é professor de Ciência Política na Universidade Complutense de Madrid, repudiou a invasão à ENFF. Em entrevista ao Brasil de Fato, Monedero manifestou preocupação com o agravamento da situação política no Brasil.

“Recebemos com enorme preocupação as notícias vindas do Brasil. Esse comportamento da polícia de São Paulo é típico de ditadura e de governos autoritários. Se o Brasil é de fato uma democracia tem que estar à altura. O que pode estar havendo no Brasil é um desmantelamento do Estado Democrático de Direito", afirma o fundador do Podemos. Ele ressalta ainda que isso afeta a imagem no Brasil no exterior. "Esse tipo de comportamento isola o Brasil da comunidade internacional. Vamos acompanhar de perto os próximos acontecimentos no país”, completou Monedero .

O vice-prefeito de Barcelona Gerardo Pisarello criticou publicamente a ação truculenta da polícia civil de São Paulo. “Esta manhã a polícia atacou a escola do MST no Brasil. Desde Barcelona, condenamos a violência e exigimos respeito aos Direitos Humanos”, disse Pisarello, em suas redes sociais.

A professora de Direito da Universidade de Carlos III de Madri, Maria José Fariñas Dulce, alertou para a possibilidade de esse ser o início de um período autoritário. “Esta é a maneira de assentar as bases do autoritarismo e do sistema antidemocrático, criminalizando os conflitos socioeconômicos. Essa é uma maneira de manipular e induzindo os cidadãos ao medo”, aponta a jurista.

Já o escritor brasileiro Leonardo Boff, conhecido internacionalmente, denunciou o uso político da força policial. “O responsável último da invasão à escola do MST é o governador Geraldo Alckmin. Ele tem cara de bonzinho, mas esconde um coração de pedra”, afirmou Boff, em suas redes sociais.

Movimentos populares

Da América Latina também vieram reações contundentes. Organizações políticas e movimentos sociais condenaram as ações violentas da polícia de São Paulo e Paraná. Um dos mais importantes movimentos populares da Argentina, o Pátria Grande divulgou um comunicado repudiando a violência contra o MST.

“O ocorrido na ENFF e os ataques ao MST em outros estados brasileiros são exemplo de criminalização dos movimentos sociais e uma consequência do golpe de estado no Brasil. O Movimento Popular Pátria Grande repudia a ação da polícia. Essa ação vem justamente daqueles que sistematicamente atacam as organizações populares”, manifestou.

A Via Campesina Internacional também publicou nota de repúdio. “A polícia invadiu violentamente a ENFF. Repudiamos a perseguição contra o MST e manifestamos nossa solidariedade internacional com o movimento”, consta na nota.

Da Colômbia, a Marcha Patriótica, uma organização que reúne diversos movimentos populares desse país, também alertou para o perigo desse tipo de ação. “Estamos vendo o retorno de velhas táticas de terrorismo de Estado, ao perseguir, criminalizar e encarcerar dirigentes de movimentos populares, principalmente opositores às políticas neoliberais que estes governos (estaduais e federal) pretende voltar a implementar no Brasil”.

A Anistia Internacional afirmou que as cenas e relatos demonstram o “uso excessivo e desnecessário da força”. A organização condenou o uso de armas de fogo e informou que os “disparos e a intimidação de militantes, lideranças e voluntários da ENFF”, não condizem com os princípios básicos do uso da força da ONU. “Os agentes de segurança pública devem utilizar a força letal e armas de fogo somente em situações em que sua própria vida ou de outras pessoas esteja em perigo. Estas regras não foram respeitadas em pelo menos umas das ações, quando a polícia invadiu a Escola Nacional Florestan Fernandes em Guararema, São Paulo, conforme mostram imagens disponíveis na internet”, declarou a Anistia Internacional.

Edição: Vivian Virissimo

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