Coluna

Sem surpresas, uma entrevista com golpista no  gênero convescote

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Convescote: gênero em que os entrevistadores levantam a bola para o entrevistado

A entrevista de Michel Temer (PMDB) no programa Roda Viva deve ser analisada a partir do engajamento da mídia conservadora no esquema atual dos ocupantes do governo golpista.

Dos entrevistadores estavam presentes, além da própria TV Cultura, as representações de o Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e O Globo

Na verdade, a partir do momento em que o governo golpista de Michel Temer abriu as comportas das verbas publicitárias governamentais para tais veículos, os entrevistadores se comportaram tendo em vista essa evidência. É claro que isso fica tão evidente que nem é preciso maiores aprofundamentos para se chegar à conclusão, que parece até óbvia.
O tom da entrevista foi para contemplar o sistema vigente e os entrevistadores se comportaram seguindo os parâmetros de interesse do mercado. As perguntas foram feitas para contemplar o próprio entrevistado e também os setores econômicos que apóiam o projeto que o governo golpista coloca em andamento.

Daí a entrevista ser catalogada como mais um convescote, um gênero em que os entrevistadores levantam a bola para o entrevistado colocar o que lhe interessa. E isso ficou mais do que claro.  

Não faltou na política externa a questão da Venezuela. Ficou também evidente que a pergunta teve o objetivo de criar desentendimento entre os dois países. O medíocre presidente golpista procurou subestimar até o Vaticano, que conseguiu fazer com que as duas partes, o governo constitucional de Nicolás Maduro e a oposição, sentassem a mesa para negociar. 

Temer deve ter sido instruído por sua assessoria, tão ou mais medíocre que o presidente golpista, para falar o que falou, priorizando eventuais desentendimentos. Seguiu o que interessa ao governo estadunidense, seja o atual que está chegando ao fim ou o que vem por aí com Donald Trump.

O golpista se declarou parlamentarista, mas ninguém lembrou que o povo brasileiro nos últimos 53 anos rejeitou essa proposta, por maioria absoluta, em duas oportunidades. Na primeira consulta popular, os brasileiros repudiaram o regime parlamentarista instituído para contemplar os antigos golpistas que rejeitavam a posse do vice-presidente como presidente constitucional.

No fundo, a recente mudança de opinião, explicada pelo próprio golpista-2016, que até bem pouco tempo era presidencialista, pode ser até uma forma de adiantar uma mudança de regime na atualidade para evitar a continuidade do presidencialismo em 2018.

Em outras palavras, o atual apoio ao parlamentarismo, que poderia ser adotado desta vez sem consulta popular, contemplaria os setores que querem evitar surpresas numa eleição para presidente da República. Surpresa para os golpistas seria uma derrota eleitoral que pode acontecer se o Brasil continuar adotando a atual política econômica de favorecimento ao capital em detrimento dos trabalhadores. 

A conversão de Temer ao parlamentarismo pode ser também uma forma de dar o recado para os setores que já ensaiam uma eleição indireta em 2017 para levar adiante com ainda maior rigor o projeto que o então presidente FHC não conseguiu finalizar em seus dois mandatos, de redução do Estado brasileiro e entrega do que ainda resta de nossas riquezas.

Temer se esforça ao máximo para agradar os seus parceiros do PSDB, que depois de quatro derrotas eleitorais seguidas para a presidência, não pretendem deixar o poder de forma alguma até levar adiante o projeto da entrega. 

A “ponte para o futuro”, lembrada por Temer na entrevista com os sabujos, é um esforço para alcançar esse objetivo, mas os seus aliados ainda querem muito mais. Querem o Estado brasileiro servindo apenas ao capital. O PMDB se esforça para não perder apoio.

O tempo vai dizer o que acontecerá no Brasil nos próximos meses e com a entrada do ano 2017, quando o povo brasileiro vai entender ainda mais o que está sendo feito no país por este governo golpista, usurpador e ilegítimo.

Esse realmente é o receio dos que ocupam o governo brasileiro e seus apoiadores, daí o próprio Temer já admitir o apoio ao parlamentarismo.

Indagado por um dos entrevistadores visivelmente fazendo o jogo do sistema, Temer admitiu que uma prisão de Lula (conforme desejo de setores apoiadores do golpe) pode “criar problemas”, porque poderá haver reação dos movimentos sociais indo para as ruas.

Para atender a segmentos apoiadores do governo golpista, Temer assinalou que "se houver acusações contra o ex-presidente, que sejam processadas com naturalidade".

No final da entrevista, uma das perguntas, formuladas com muitos sorrisos, foi para questões pessoais, inclusive sobre Marcela e até para que Temer falasse de um romance que pensa escrever. Aí Temer, sem um pingo de humildade, como se o poder que conquistou através de um golpe parlamentar lhe subisse a cabeça, se superou na matéria, citando o escritor José Saramago, como se ele Temer pudesse em algum momento se comparar ao Prêmio Nobel de Literatura.

Em suma, assim caminha o Brasil sob o controle de golpistas com o apoio da mídia conservadora

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