Esporte

Canal "Preto Tu" denuncia racismo no esporte com vídeos no Youtube

No vídeo de lançamento, debate foi sobre as dificuldades dos atletas negros para conquistar reconhecimento

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Gabriel Rocha, um dos idealizadores do canal Preto Tu
Gabriel Rocha, um dos idealizadores do canal Preto Tu - Reprodução Youtube

O canal do Youtube Preto Tu, cujo nome faz referência aos negros que eram insubordinados durante a escravidão, discute o racismo no esporte brasileiro. No vídeo de lançamento, disponibilizado no último dia 20, Dia da Consciência Negra, os historiadores Flávio Francisco e Renata Ribeiro, além da ex-jogadora de basquete, Marta Sobral, discutem as dificuldades que os atletas negros têm para ascender e conquistar reconhecimento.

A gravação de 14 minutos foi idealizada e produzida por Gabriel Rocha e Rafael Stédile. Rocha faz a abertura com um discurso sobre o quanto o racismo, na prática, é estruturante da sociedade brasileira, mesmo que muitos defendam que ele não existe.  

“Desigualdade social e racismo andam juntos. [..] Os negros são mais da metade da população, porém são minoria nas universidades, no Congresso, nos espaços de poder político e econômico. Os negros são maioria entre os que morrem por armas de fogo e entre os que sofrem com negligência no atendimento médico. Dizem que no Brasil a cor não importa, mas piadas racistas continuam frequentes nas escolas, nos programas de TV e até em eventos esportivos. A sociedade não se surpreende quando vê um negro sendo preso, torturado ou assassinado pela polícia, mas se surpreende quando vê um negro em uma posição social de prestígio. O tema racismo continua sendo um tabu em nossa sociedade”, diz.

Experiências

Nesse sentido, Renata Ribeiro afirma que existe “uma falsa ideia de democracia racial, de que todos somos iguais, que desfrutamos de todos os espaços e de que temos os mesmos direitos”.

“Eu já sofri preconceito sim. Comecei a jogar basquete com 14 anos em São Paulo. E quando a gente chegava para o treino, para entrar no mesmo lugar, sempre me pediam para eu entrar pelo fundos. As minhas amigas entravam pela porta principal, e eu sempre tinha que entrar pelo lado de trás. Eu não entendia. Muitas coisas que hoje eu vejo que era preconceito [na época], eu não entendia”, lembra a ex-jogadora de basquete, Marta Sobral.

Já Flávio Francisco aponta que, além do racismo, há um problema social de acesso ao esporte e à infraestrutura. “Existem modalidades que são racializadas. Por exemplo, quando se pensa na natação, devemos debater sobre a infraestrutura, porque não dá para construir uma piscina com pouco recurso financeiro. Há um debate nos Estados Unidos de que não há relação biológica com o fato de os negros não nadarem, mas por eles não terem, historicamente, acesso às piscinas”, argumenta.  

Os historiadores lembram também o caso da judoca Rafaela Silva, que levou a medalha de ouro nas últimas Olimpíadas após sofrer ofensas racistas graves quando perdeu a medalha em Londres, em 2012.

“Quando a gente pensa no caso da Rafaela e no lugar da mulher negra no esporte, nos remetemos a uma discussão anterior, que é sobre a ideia da mulher como musa do esporte. Existe sempre esse rótulo, essa projeção das mulheres a partir de sua beleza física. Rafaela é uma mulher negra que não compartilha daquela estética da mulher considerada bonita. E, a partir dessa ideia, de que ela não tem essa estética e nem um comportamento feminino, ela é rejeitada enquanto representante de seu país”, aponta Ribeiro.

Edição: Camila Rodrigues da Silva

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