Luto

Milhares de pessoas vão à praça da Revolução, em Havana, para dar adeus a Fidel

Foram disparados, simultaneamente em Havana e Santiago de Cuba, 21 tiros de canhão em homenagem a Fidel

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Fila para se despedir de Fidel Castro em Havana
Fila para se despedir de Fidel Castro em Havana - Camilo Toscano / Opera Mundi

Interrompendo o silêncio que dominou as ruas de Havana desde o anúncio da morte de Fidel Castro, milhares de moradores da capital cubana acordaram cedo nesta segunda-feira (28/11) e foram em massa para o Memorial José Martí prestar sua homenagem à memória do líder revolucionário.

Desde as primeiras horas do dia, o afluxo de gente é crescente e constante. A variedade é grande: idosos, jovens e crianças, com as mais diversas formações e atividades profissionais. As pessoas estão tranquilas, falam abertamente do momento histórico e fazem questão de reforçar: Fidel se foi, mas o caminho deve seguir o mesmo.

"Não se pode prever o futuro, mas Fidel já não estava à frente do governo. Não vai acontecer nada de diferente", diz Michel Carles, 46, médico ortopedista, que faz questão de dizer que a liberação do trabalho para poder prestar a homenagem não foi impositiva. "Ninguém está aqui hoje por obrigação, se não por vontade própria", conta.

A papiloscopista militar aposentada Yolanda Carrera, 86, que conheceu Fidel em uma oportunidade e esteve por duas vezes em missões em Moçambique nos anos 1980, corrobora a avaliação. "Agora é Raul que comanda o país. Depois, o povo vai eleger quem vai ser o presidente, mas tem muitas pessoas com capacidade para isso, que se prepararam para isso", afirma.

Segundo os que esperam na fila que se formou na Av. Paseo e se estendia por volta das 11h (14h de Brasília) até o cruzamento com a Zapata, as primeiras pessoas chegaram às 7h ao local – há ainda outros dois pontos de acesso. A abertura para o adeus a Fidel se deu pontualmente às 9h, como previsto, depois da salva de 21 tiros, uma marca das honras militares.

Há forte esquema de segurança, mas nenhum registro de tumulto ou problemas até o momento. A reportagem não conseguiu confirmar o número de funcionários que dão suporte médico aos que, com o sol intenso, sentem algum mal-estar. Muitos trouxeram guarda-sol e podem contar com distribuição de água depois que cruzam a grade inicial que fecha a avenida. Além dos caramelos, dados especialmente aos mais novos.

"Para o bem e para o mal, Cuba é um país distinto. Não passamos fome, apesar das dificuldades. Isso por causa do que Fidel fez pelo país", diz Rosa Viene, 60, que trabalha na aviação civil e veio acompanhada de duas colegas de trabalho. "O povo cubano está nas ruas para dizer que cabe a cada um de nós seguir este caminho", conclui.

As homenagens a Fidel Castro fazem parte das atividades dos nove dias de luto nacional. As cubanas e os cubanos de Havana terão até as 22h desta segunda-feira (28/11) e amanhã das 9h às 12h para darem seu último adeus ao comandante. A partir da quarta-feira (30/11), uma caravana fúnebre com as cinzas de Fidel parte da capital até a Província de Santiago, no extremo leste da ilha, onde Fidel nasceu. O trajeto relembra a Caravana da Liberdade, de 1959, que marcou a ascensão ao poder do movimento revolucionário. O ato final acontece no próximo domingo (4/12).

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