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No Museu da Gente Sergipana, a riqueza da produção popular

Aberto há cinco anos, o "primeiro museu de multimídia interativo do Norte e Nordeste" mostra riqueza cultural brasileira

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O museu funciona no prédio do antigo Colégio Atheneu Dom Pedro II, conhecido como Atheneuzinho, erguido em 1926
O museu funciona no prédio do antigo Colégio Atheneu Dom Pedro II, conhecido como Atheneuzinho, erguido em 1926 - Márcio Garcez

Ao longo da Avenida Ivo do Prado, região central de Aracaju, estende-se o Rio Sergipe, que percorre mais de 200 quilômetros desde Nossa Senhora da Glória, no sertão sergipano, até desaguar no Oceano Atlântico, entre a capital e o município de Barra dos Coqueiros, do outro lado. Um pouco adiante, fica a Ponte do Imperador, na verdade um ancoradouro construído em 1860 para receber Dom Pedro II­ e sua comitiva. Mais à frente, estão os mercados municipais. É nesse perímetro que se localiza o Museu da Gente Sergipana, que está completando cinco anos de instalação, após longo processo de restauração no prédio do antigo Colégio Atheneu Dom Pedro II, conhecido como Atheneuzinho, erguido em 1926.

O museu já é uma das principais atrações do estado. Foi criado, segundo o então governador Marcelo Déda, para elevar a autoestima da população. “Para que possamos perceber a grandeza da contribuição que o menor estado do Brasil ofereceu à nação brasileira”, escreveu o governador, que morreu em dezembro de 2013 e agora dá nome ao local. Segundo estimativa divulgada em setembro pelo IBGE, Sergipe tem pouco menos de 2,3 milhões de habitantes – 1,1% da população do país – e sua capital, 645 mil.

A inauguração do museu coincidiu com a concessão, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), do título de Patrimônio Cultural da Humanidade à praça São Francisco, em São Cristóvão, uma das cidades mais antigas do Brasil e primeira capital do estado. Aracaju foi promovida em 1855.

Multimídia

Assim como o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, o da Gente Sergipana se caracteriza pelo uso da tecnologia – apresenta-se como o “primeiro museu de multimídia interativo do Norte e Nordeste”. Não é coincidência. Seu curador é Marcello Dantas, ex-diretor artístico do congênere paulistano. “Esse encontro entre a tradição e as novas linguagens tem o poder multiplicador de criar consciência e afetividade sobre identidade para as próximas gerações”, diz Dantas, na apresentação.

A interatividade é notada a cada passo. Logo depois da entrada, no átrio, o visitante anda sobre um mapa de Sergipe, dividido por territórios – agreste central, alto e médio sertão, baixo São Francisco... É possível escutar o sotaque dos habitantes de cada um. Acima do mapa, pendurada, uma enorme rede de pesca armazena produtos típicos.

Os nomes dados às áreas permanentes do museu enfatizam que os protagonistas, ali, são as pessoas: Nossos Pratos, Nossos Cabras, Nossas Festas, Nossos Leitos (em que os ecossistemas são projetados em 360 graus)... Os “cabras” que aparecem nas telas nem sempre são nascidos lá: Lampião era de Pernambuco, mas morreu no sertão de Sergipe, em 1938. Perto dos personagens históricos, há um “jogo da memória” interativo, para ligar, por exemplo, um objeto a um letra de música, ou a um verbete. Há várias mostras da produção local, em couro, palha ou madeira, instrumentos musicais, artefatos de pesca.

Subindo a escada, a primeira parada é na instalação conhecida como Josevende. Diversos produtos no balcão e nas prateleiras mostram a variedade do comércio local, e é possível “negociar” o preço dos produtos com um vendedor virtual. Saindo da “feira”, a caminho do local em que conhecerá os ecossistemas da região, o visitante verá nas paredes, em letras grandes, nomes e expressões populares, com suas respectivas “traduções”. Tarimba é... Uma cama desconfortável.

Repente

Em um salão amplo, fica a midiateca, com o acervo do museu e publicações para consulta e pesquisa. Ali também está a “Renda do Tempo”, um painel com datas e fatos históricos, expostos em uma renda irlandesa, típica do artesanato local. Em 2008, a técnica, tendo como referência a cidade de Divina Pastora (a 40 quilômetros de Aracaju), foi reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Quase no fim da visita, no andar de cima, também é possível criar um repente ou um cordel, nas cabines destinadas a essas manifestações culturais, em meio a uma infinidade de folhetos pendurados nas paredes, com histórias sobre Antônio Conselheiro, Ariano Suassuna e até Michael Jackson, entre muitos personagens e fatos. Dá para gravar e mandar para o Youtube.

Gerido pelo Instituto Banese (o banco público do estado), o museu organiza visitas guiadas, especialmente para escolas, mas é possível percorrer suas instalações sozinho. Há monitores em cada setor. O local tem ainda uma loja e um café – ambos “da gente”.

Da abertura até setembro, o museu atingiu a marca de 395.622 visitantes. A maioria, como esperado, é de Sergipe, mas a procedência é variada. No ano passado, por exemplo, foram 45 mil sergipanos, 34 mil pessoas de outras regiões e quase 500 do exterior. Vem gente de todo canto para conhecer, ver e ouvir o que tanta gente já fez e faz.

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