Saúde

Espanor traduz vocabulário nordestino para termos médicos em espanhol

Aplicativo foi criado para auxiliar médicos cubanos em suas consultas na região cearense

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Captura de tela do aplicativo Espanor.
Captura de tela do aplicativo Espanor. - Espanor

Apesar do Programa Mais Médicos, do governo federal, oferecer curso de português para os médicos cubanos que atendem no Brasil desde o seu lançamento, em 2013, termos como “bucho”, “venta” ou “fininha”, não são abordados nas aulas.

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As palavras, típicas do vocabulário cearense, agora são explicadas pelo dicionário Espanor, um aplicativo lançado em novembro e criado para facilitar as consultas entre os médicos falantes de língua espanhola. O dicionário foi construído ao longo dos últimos nove meses em uma parceria entre a médica cubana Leidis Devora Cruz Fernandez e as estudantes Charlene Santana Xavier e Emily Jhéssica de Olieira Souza, da Escola Estadual de Ensino Profissional Governador Luiz Gonzaga Fonseca Mota, orientadas pelo professor de espanhol Francisco Gerbson de Oliveira.

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O aplicativo já reúne cerca de 300 palavras do cearense-espanhol e tem sido elogiado em feiras de ciência e pelos próprios médicos do programa, que têm utilizado o dicionário em suas consultas no município de Amontada, a cerca de 200km da capital Fortaleza.

“A ideia inicial era construir um dicionário com os principais termos que os turistas encontrariam aqui, mas quando os médicos cubanos começaram a chegar, ficamos pensando como eles fariam para atender em um dialeto totalmente diferente, já que eles têm um mês de curso mas só aprendem a norma padrão. Então surgiu o plano de colocar nomes de partes do corpo e doenças que só eram falados aqui. Começamos a catalogar os nomes aqui na região”, explicou Gerbson.

Segundo o professor, alguns médicos cubanos já estão entrando em contato com a equipe para elogiar a ideia. “Os médicos têm passado a ideia adiante”, contou. Segundo Leidis Devora, que vive no Brasil há um ano, o aplicativo tem facilitado bastante o trabalho dos médicos. “Para mim ele é muito importante para a compreensão. Quando cheguei não conhecia muitas palavras e o dicionário fez com que a comunicação com meus pacientes melhorasse bastante”, disse a médica.

“Alguns termos, como “fatiga”, eu não conhecia e não entendia. O maior benefício é interagir mais com meus pacientes, no atendimento diário mesmo. Agora o aplicativo foi levado a todas as comunidades do município e os médicos estão achando muito bom. Acabou de chegar uma doutora nova e vamos usá-lo em sua integração”, continuou Devora, que deve atender no Brasil até 2018, quando acaba seu contrato pelo Mais Médicos.

Feira e Prêmios

Para João Antônio de Almeida, médico da Rede Nacional de Medicas e Médicos Populares, especialista em medicina da família e comunidade, e supervisor do programa, o aplicativo é muito inovador. “É bem funcional, útil e rico culturalmente. Faço parte da preparação dos médicos em Cuba, ensinando medicina e português genérico, já que não sabemos para qual região do país eles serão enviados, e quando conheci o aplicativo achei muito interessante. Sou de São Paulo e quando vim para o Ceará também tive dificuldades com o português. Não sabia o que era “fininha”, por exemplo, uma gíria para diarreia, ou “provocar”, que significa vomitar”, contou.

Segundo Almeida, o aplicativo já ganhou prêmios em feiras de ciências municipais e regionais, e nesta semana irá concorrer em nível estadual. “Tem possibilidade de concorrer em feiras que englobem toda a região do nordeste porque é muito inovador”. O médico acrescenta ainda que a ideia é divulgar o aplicativo por todo o país, para que as traduções possam ser feitas em diferentes regiões: “Cada região tem um tipo coloquial diferente. Em janeiro vou para Cuba e colocarei essa proposta para os médicos do Ministério da Saúde”.

O município de Amontada recebia, até o final deste ano, um total de dez médicos do programa Mais Médicos, sendo seis provenientes de Cuba. Para Gerbson, o programa é aprovado pela população da cidade. “Eles gostam demais dos médicos cubanos. Acompanhamos as consultas de uma doutora para construir o aplicativo e os pacientes nos relataram que os médicos cubanos são mais atenciosos, que têm um trato diferente, como se fossem alguém da família”, disse.

O aplicativo já está disponível na loja do Google Play e pode ser baixado gratuitamente em aparelhos celulares que utilizam o sistema Android. Veja aqui.

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