Manipulação

Editoriais do jornal O Globo utilizam "acusações como fatos", diz professor holandês

Pesquisador Teun A. Van Dijk, redigiu artigo sobre manipulação das Organizações Globo no impeachment de Dilma Rousseff

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Ex-presidenta Dilma Rousseff durante agenda de seu governo
Ex-presidenta Dilma Rousseff durante agenda de seu governo - Agência Brasil

O professor da Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona, Teun A. Van Dijk, redigiu um artigo sobre a manipulação das Organizações Globo no processo de impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. Van Dijk analisou 18 editoriais do jornal O Globo entres os meses de março e abril de 2016, que tratavam de Dilma, Lula, o Partido dos Trabalhadores e o impeachment.

Analisando o caderno de opiniões do jornal, o professor caracteriza a organização como “o maior conglomerado midiático do país, voz da classe-média conservadora e, de maneira mais geral, representante da elite oligárquica conservadora brasileira”.

Segundo Van Dijk, que é doutor em estudos de discurso pela Universidade de Amsterdam, na Holanda, a campanha massiva que jornais como O Globo empreenderam para desgastar a imagem de Dilma perante a opinião pública, atingiu o efeito desejado pela organização, quando a avaliação da ex-presidenta despencou de 60% para cerca de 13%.

“Praticamente todos os editoriais repetem e aumentam as alegações de atividades criminosas por parte de Dilma e especialmente de Lula, referindo-se às acusações feitas pela Lava-Jato ou pelos variados delatores. Tais acusações vão desde corrupção [tríplex do Lula] e obstrução da justiça [Lava-Jato] aos esquemas financeiros de Dilma para ajuste orçamentário”, aponta o professor.

Os editoriais buscavam legitimar, segundo Van Dijk,  “como ‘constitucional” o impeachment de Dilma e tratavam “como absurdas as acusações feitas por Dilma e seus apoiadores de que o impeachment” fosse um “golpe’ parlamentar”. 

O professor também destaca como forças políticas, em conluio com setores da mídia, concederam poder aos deputados federais que julgaram o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Boa parte destes parlamentares carregavam extensas fichas criminais, como o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, preso logo após o processo de julgamento da presidenta. 

“É óbvio que, após o processo de impeachment, ele [Eduardo Cunha] deixou de ser útil e se tornou motivo de vergonha para a direita por conta de seus conhecidos atos de corrupção e lavagem de dinheiro, além de [ter mentido sobre] suas contas na Suíça”, diz o artigo.

Manipulação

Os ataques do jornal O Globo contra Dilma, Lula e o PT em suas pautas editoriais, afirma o artigo, “é esperado de um jornal de direita – até mesmo quando injustificados – e, portanto, não são verdadeiramente manipuladores, porque os leitores não iriam esperar algo diferente”, diz. 

No entanto, “os editoriais passam a ser manipuladores quando sua afirmações ou suposições dos fatos são parciais ou falsas de maneiras que os leitores não podem ou não irão perceber prontamente. Quando isso acontece, nós estamos diante de um controle sistemático-epistêmico e partidário dos modelos mentais dos leitores”, explica o professor. 

Por fim, Van Dijk aponta que os veículos de comunicação das Organizações Globo agiram “não somente com a publicação diária de relatos e editoriais sobre as alegações de conduta criminal de Dilma, Lula e do PT, mas também por meio de diferentes estratégias discursivas, como a apresentação de acusações como sendo fatos”. 

Os editoriais e manchetes de O Globo também faziam uma “celebração e legitimação do juiz Moro a despeito de sua parcialidade anti-PT”, além de “cobertura populista das manifestações, retratação, retórica do jogo de números, autoapresentação positiva e ataque à acusação de que o impeachment foi na verdade um golpe político, entre outras estratégias”, conclui.

Edição: Camila Rodrigues da Silva

Edição: ---