Crise

Estudantes das três universidades estaduais do Rio estão com bolsas atrasadas

Segundo a Secretaria de Ciência e Tecnologia, os vencimentos de novembro ainda não tem previsão de quando serão pagos

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Alunos que recebem as bolsas de auxílio permanência estão sendo os mais afetados, pois não conseguem se locomover para suas universidades
Alunos que recebem as bolsas de auxílio permanência estão sendo os mais afetados, pois não conseguem se locomover para suas universidades - Divulgação

Assim como o servidores estaduais, os estudantes bolsistas das três universidades do estado do Rio de Janeiro estão com as bolsas atrasadas. De acordo com a assessoria da Secretaria de Ciência e Tecnologia do estado, na última quarta-feira (12), foram pagas as bolsas referentes ao mês de outubro, porém, os vencimentos de novembro ainda não tem previsão de quando serão quitados. A expectativa dos estudantes é que sejam pagos em janeiro, assim como algumas parcelas dos salários dos servidores estaduais.

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Essa não é a primeira vez que os estudantes recebem suas bolsas com atraso. Desde o final de 2015, o auxílio têm sido pago em intervalos cada vez mais espaçados. No início de 2016, o calendário de pagamento foi alterado, garantindo que as bolsas seriam pagas no décimo primeiro dia útil do mês, o que não aconteceu ao longo do ano.

“As universidades estaduais passam por um período de incertezas. Incerteza é o pior sentimento. Elas são universidades criadas com intuito de serem populares, mas  estão deixando de ser porque não podem ser acessadas pelos estudantes. Vale lembrar que além dos atrasos estão acontecendo cortes de bolsas. Não sabemos como ficarão os auxílios do próximo ano”, explica Leonardo Guimarães, presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE).

Diante desse contexto, os alunos que recebem as bolsas de auxílio permanência estão sendo os mais afetados, pois muitas vezes não conseguem se locomover para suas unidades acadêmicas, inclusive para fazer provas.

Na Faculdade de Educação da Baixada Fluminense, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), que fica em Duque de Caxias, a solução encontrada pelos estudantes foi ocupar o espaço universitário para continuar assistindo às aulas. Há mais de dois meses, os alunos estão dormindo na universidade porque não conseguem pagar o deslocamento de casa até a sala de aula.

“A gente tem que resistir para estar dentro de um espaço que é nosso. Não temos direito ao Bilhete Único universitário, porque não moramos no município do Rio, além disso não temos bandejão, então só temos o dinheiro das nossas bolsas para pagar a alimentação e o transporte até a universidade. Muitos moram em locais afastados e têm que pegar três ônibus, o que soma mais de 20 reais em passagem. Se com a bolsa é difícil, sem ela fica impossível estudar”, explica Jéssica Almeida de Oliveira, 21 anos, estudante de pedagogia da UERJ.

Jéssica não tem a bolsa permanência, mas é bolsista em um projeto de extensão da UERJ. Ela faz parte do grupo de 5 mil estudantes beneficiários das bolsas pagas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

Hoje, as Bolsas Permanência, concedidas aos ingressantes pelo Sistema de Reservas de Vagas (Cotas), são pagas a mais de 10 mil estudantes de graduação e educação básica. Já as bolsas concedidas pelo Programa de Bolsas Auxílio atingem mais de 2 mil alunos. Ambas são um repasse direto da Secretaria da Fazenda às universidades, que fazem a distribuição das bolsas. Além da UERJ,  o Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (UEZO) e Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) também recebem a verba para pagar o benefício.  

No caso específico dos bolsistas da UENF, a bolsa permanência tem valor menor do que é pago aos estudantes da UERJ e UEZO. Enquanto nestas duas universidades o valor mensal da bolsa é de R$ 400, na UENF é de apenas R$ 300. Ambas estão sem reajuste há mais de cinco anos.

“Parece pouco mas faz muita diferença, ainda mais com o aumento da inflação, esse valor não paga o aluguel completo. A maioria dos estudantes tem que procurar um emprego para complementar renda e se manter na universidade. O que torna tudo mais complicado pois os cursos são integrais e o estudante não consegue dar conta” acrescenta Diogo Lima, 23 anos, estudante de Ciências Sociais da UENF.

Segundo Thamyres Vianna, 22 anos, estudante de ciências biológicas da UEZO, o atraso do pagamento das bolsas não é uma novidade que veio com a crise do governo do estado.  “Não me lembro de ter recebido uma vez sequer no 10º dia útil. Esse é um dinheiro que a gente precisa muito, mas que não pode contar. Nunca sabemos quando virá. Mas isso não é de hoje. Aqui na UEZO somos sumariamente negligenciados. Estamos sem telefone, sem papel higiênico nos banheiros. A precariedade está por todos os lados”, conclui.

Edição: Vivian Virissimo

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