Violência

Cenas de violência do presídio Anísio Jobim circulam nas redes sociais 

Imagens do segundo maior massacre do país estão no Youtube e no Whatsapp; empresas não se pronunciaram

Brasil de Fato | Manaus (AM) |
Entrada do Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus
Entrada do Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus - Divulgação/ Governo do Amazonas

Vídeos da rebelião que ocorreu no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj) na cidade de Manaus, estão circulando nas redes sociais. As cenas são de extrema violência e mostram a barbárie do que foram as 17 horas de motim entre as duas fações rivais. 

A reportagem procurou a Defensoria Pública do Amazonas para verificar qual a responsabilidade do estado com relação a divulgação dos vídeos e o defensor público Carlos Almeida informou que até o momento desconhece quais mecanismos acionar para que os vídeos não possam ser mais divulgados, mas informa que após o término do recesso da defensoria irá tomar providências.  

“É um bom questionamento e a gente pode informar que não tem nenhuma atuação da defensoria pública discutindo essa questão da divulgação dos vídeos, até porque a gente estava discutindo coisas bem mais severas que os vídeos em si, a própria resolução dessa problemática, mas eu vou, dado o questionamento, que a gente já deveria ter tratado, evidentemente, verificar quais as providências que a defensoria geral vai tomar a respeito disso”. 

Há publicações postadas no canal do YouTube e os vídeos estão sendo compartilhados através de mensagens via Whatsapp. Procurados pela reportagem as agências que prestam assessoria ao Google - empresa proprietária do canal no YouTube - , e Whatsapp não retornaram o contato para responder quais medidas tomariam quanto a divulgação das imagens. 

A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) também foi procurada para saber quais medidas irão tomar sobre o compartilhamento dos vídeos, mas até o fechamento da matéria não responderam ao contato.

Massacre

No dia 1º, entrada de um novo ano, o Primeiro Comando da Capital (PCC), originário de São Paulo, e a Família do Norte (FDN), do Amazonas, entraram em guerra pela disputa de poder. As fações rivais eram separadas por um único pavilhão e o presídio Anísio Jobim, administrado por uma empresa privada, tinha a capacidade para 454 detentos, mas abrigava 1.229. Durante o massacre 56 pessoas, que estavam sob a custodia do estado, foram mortas em condições de extrema violência. 

Medo

Mesmo após a rebelião ter sido controlada, parentes dos detentos ainda sentem medo. É o que relata *A.N.C., que possui um parente no presidio Anísio Jobim. A.N.C. conta que o familiar preso está no Compaj há dez meses e que até o momento não teve o seu caso julgado. 

Existem no país cerca de 250 mil pessoas privadas de liberdade, mas que ainda nem sequer foram julgadas em primeira instância, isso segundo dados de dezembro de 2014 do Departamento Penitenciário Nacional (Depen).

O parente do detento ainda informa que tentou por várias vezes falar com os advogados que prestam serviço no Compaj, mas nunca conseguiu e explica que o atendimento é feito uma vez na semana, sempre às quintas-feiras. Mesmo chegando cedo, os advogados atendem duas pessoas e encerram o serviço ao meio dia. 

“É muito triste ver ele lá dentro daquela cadeia, eu nunca tinha passado por isso, é a primeira vez. Eles [governo, empresa] falam muito que eles [presos] são bem tratados, que eles comem bem, que eles vivem como se fosse num hotel. Isso é mentira, porque eles vivem lá jogados, comem porque a gente leva comida, tem uns que levam rancho [cesta básica], roupa, comida pronta no dia da vista. Quando a gente não consegue levar eles ficam com fome”. 

Na última vez que viu o parente na prisão A.N.C. relata que ele estava muito doente, bastante ferido e na época, ele havia feito um pedido: “ele falou: ‘não deixa que me transfiram daqui da cela, peça para alguém que não me transfira para o pavilhão, eu tenho medo’. Eu percebi que ele estava com medo, agora tenho certeza que ele estava sendo ameaçado”. 

Durante as visitas A.N.C. relata que a segurança no presídio era precária, observou ainda que os presos ficavam soltos e eram eles que comandavam o complexo.

“Eu gostaria de pedir não para o estado, mas para o Brasil inteiro, Presidente da República, que não façam isso com as pessoas que vão presas, que não os deixem jogados lá dentro, lá eles ficam piores. Eles [governo] dizem que vão para melhorar, mas não, eles [presos] ficam muito pior porque lá tem tudo: droga, bebida. Nós não temos dinheiro, a gente fica sofrendo porque a gente não consegue pagar um advogado para tirar ele”, conclui.

A.N.C. ainda não conseguiu falar com o parente que está preso, sabe que está bem mas só tem informações pelas notícias veiculadas na imprensa.

Edição: José Eduardo Bernardes

Edição: ---