Prefeitura do Rio

Secretariado de Crivella comprova relação com a velha política, diz professor da UFF

Dos 12 novos secretários municipais do Rio de Janeiro, apenas cinco não tem carreira política

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Transformar a velha política não ultrapassou de discurso da campanha eleitoral segundo avaliação do cientista político Vitor Leandro Gomes
Transformar a velha política não ultrapassou de discurso da campanha eleitoral segundo avaliação do cientista político Vitor Leandro Gomes - Fernando Frazão/Agência Brasil

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Desde a última semana, quando o novo prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB) tomou posse, 12 novos secretários também assumiram as funções administrativas. O ex-senador cumpriu com a promessa de diminuir o número de secretarias, que antes eram 24, no entanto, o compromisso de transformar a velha política não ultrapassou o discurso da campanha eleitoral segundo avaliação do cientista político e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Victor Leandro Gomes.

Para ele, a redução do número de secretarias não passa de um discurso para agradar o eleitorado. “É um enxugamento da máquina pública que não faz dela mais eficiente. Estamos tomando remédio para febre, com câncer em estado terminal. Não faz sentido. Ao mesmo tempo que promove esse corte, gasta milhões com a mudança do logo, sem a menor necessidade. Ele se apresenta como novo, mas repete os mesmos vícios dos outros políticos”, acrescenta.

Entre os indicados por Crivella está Luiz Carlos Ramos (PTN) para a Secretaria de Relações Institucionais. Conhecido no meio político como o “homem do chapéu”, é deputado federal e já foi vereador. É um aliado político do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.

Já a deputada federal Clarissa Garotinho (PRB), filha de Anthony Garotinho, assumiu a Secretaria de Desenvolvimento, Emprego e Inovação. Ao contrário do que Crivella afirmou durante a campanha, a nomeação confirma a relação do atual prefeito e o ex-governador.

A vereadora Teresa Bergher (PSDB), que foi subprefeita de Copacabana e administradora regional da Maré, foi nomeada para a Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos. Enquanto o deputado federal Índio da Costa (PSD), que disputou a prefeitura no primeiro turno, quando trocou com Crivella acusações sobre denúncias de corrupção, assume a Secretaria de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação.

“Acho que as biografias dessas figuras fazem cair por terra o pano de fundo moralista da campanha de Crivella. Ele dizia que estávamos caminhando para o novo, distante da corrupção, quando na verdade operava com as mesmas pessoas que estiveram no poder sempre. Não estou surpreso e não vejo renovação alguma para cidade e para política”, afirma o professor Victor Leandro Gomes.

Assumiu ainda a Secretaria de Educação, Esporte e Lazer o jornalista e cientista político César Benjamin. O político, que foi filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT) e ao Partido Socialismo e Liberdade (Psol), era assistente parlamentar no gabinete de Crivella no Senado. A Secretaria de Saúde, por sua vez, foi atribuída ao vereador Carlos Eduardo (SD). Cardiologista, na Câmara Municipal ocupou a presidência da Comissão de Saúde durante boa parte do mandato do ex-prefeito Eduardo Paes. Já o assessor legislativo de Crivella em Brasília, Ailton Cardoso da Silva, agora é Secretário da Casa Civil.

O cientista político Vitor Leandro Gomes questiona onde está o secretariado formado por técnicos que Crivella prometeu durante a campanha. Dos 12 indicados, apenas cinco não têm carreira política. Entre eles, a economista Maria Eduarda Gouvêa Berto, que assumiu a Secretaria de Fazenda, o engenheiro e atual vice prefeito Fernando Mac Dowell, à frente da Secretaria de Transporte, a gestora cultural Nilcemar Nogueira, que assumiu a Secretaria de Cultura, e Coronel Amêndola, criador do Bope na Polícia Militar, que assume a Secretaria de Ordem Pública.

Outro escolhido pelo atual prefeito é o pastor da Assembleia de Deus, Rubens Teixeira, para comandar a Secretaria de Conservação e Meio Ambiente. Engenheiro, foi diretor financeiro da Transpetro, durante a gestão de Sérgio Machado.

“Estamos passando por um momento tão desfavorável e deprimente do ponto de vista institucional no Brasil inteiro depois do golpe que não tem como o Rio não ser um retrato disso tudo que está acontecendo: conservadorismo, extremismos e esgarçamento das instituições”, conclui o cientista político.

PT não faz parte do governo Crivella

No início desta semana, após o ex-petista Eloi Ferreira de Araújo ter sido nomeado chefe de gabinete da Secretaria de Cultura da Prefeitura do Rio, os boatos em torno de uma aproximação do PT e o governo Crivella começaram a circular. O presidente estadual do partido, Washington Quaquá, no entanto, desmentiu essa aproximação.

“O PT não faz e nem fará parte do governo Crivella. Qualquer filiado que por desejo ou necessidade pessoal pretenda compor o governo da capital deverá se desfiliar ou pedir licença do partido”, garantiu em nota.

Edição: José Eduardo Bernardes

 

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