Ex-primeira-dama

Boletim médico sobre Marisa Letícia gera dúvidas sobre uso do termo morte cerebral

Entenda o passo a passo do protocolo de morte encefálica

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
A família autorizou a doação de órgãos; processo deve ter início após a confirmação do protocolo
A família autorizou a doação de órgãos; processo deve ter início após a confirmação do protocolo - Roberto Stuckert Filho

O ex-presidente Lula informou, na página dele no Facebook, que Marisa Letícia deve passar por um protocolo de avaliação de morte cerebral ao longo do dia para comprovar a perda definitiva e irreversível das funções cerebrais. Os procedimentos de doação de órgãos só podem ocorrer após a conclusão e confirmação do protocolo.

"O primeiro exame deve acontecer às 12h, e o segundo pelo menos seis horas após o primeiro, às 18h, para comprovar a perda definitiva e irreversível das funções cerebrais. Os procedimentos de doação de órgãos só podem ocorrer após a conclusão do protocolo. Agradecemos mais uma vez todo o carinho dos que querem prestar suas últimas homenagens a nossa querida Dona Marisa Letícia", diz a mensagem.

Veículos de imprensa, inclusive o Brasil de Fato, confirmaram a morte cerebral da ex-primeira dama após consultar médicos que interpretaram o boletim. Havia, inclusive, a expectativa de que o sepultamento de Dona Marisa, como é carinhosamente chamada, ocorresse hoje (3).

Protocolo

De acordo com o médico da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, Thiago Henrique Silva, o protocolo de morte encefálica segue três etapas. Quando há a suspeita de morte cerebral, ou seja, quando o paciente segue respirando unicamente por meio de aparelhos, os sedativos deixam de ser ministrados. Caso a pessoa não acorde, os médicos responsáveis verificam a existência de resposta verbal, motora e abertura ocular — que definem se o paciente está ou não em coma profundo mesmo sem os sedativos.

A partir dessa avaliação — ou seja, caso se confirme o quadro de coma profundo —, a possibilidade de morte encefálica é aberta e a sequência de exames é iniciada. O primeiro exame, de caráter clínico, é feito entre 12 e 24h após o paciente estar sem receber sedativos. Se constitui em vários testes físicos e na retirada da pessoa do aparelho respiratório, na expectativa de se verificar respostas autônomas do corpo. A ausência de respostas é um indicativo de que o cérebro não recebe mais fluxo sanguíneo.

O segundo exame, tido como "complementar", busca identificar a ausência de circulação sanguínea no cérebro. Pode ser um eletroencefalograma ou ultrassom Doppler transcraniano, como no caso de Marisa Letícia. Este é o exame que indica a morte encefálica. No entanto, do ponto de vista ético e, para que se desliguem os aparelhos que mantém os órgãos funcionando, há de ser feito um terceiro exame clínico, exatamente igual ao primeiro, desta vez feito por um médico diferente do inicial.

A divulgação do boletim médico divulgado na tarde de ontem pelo Hospital Sírio-Libanês — no qual Marisa Letícia segue internada desde o dia 24 — relatou que, através do exame de Doppler transcraniano, "foi identificada ausência de fluxo cerebral". Indicou ainda que a família havia autorizado autorizado os preparativos para a doação de órgãos. Essas informações geraram uma confusão quanto o uso do termo morte cerebral, pois cabia a interpretação de que protocolo de morte encefálica tinha sido finalizado.

Como explica Thiago, não é comum que se faça o exame de Doppler transcraniano fora do protocolo de morte cerebral. Ele explica que o estranhamento causado pelo fato de que a permissão da família para que os órgãos sejam doados tenha sido divulgada antes mesmo que o protocolo fosse iniciado é comum, uma vez que o procedimento normal não é assim. "A doação só é autorizada de fato quando o terceiro exame do protocolo é concluso. O que pode ser feito, é iniciar alguns procedimentos, como a equipe responsável avaliar os órgãos e possíveis doadores", explica.

Por ora, portanto, dizer que Marisa sofreu morte cerebral, apesar da ausência de fluxo sanguíneo comprovada, não é adequado.

Quando procurado, o Hospital Sírio-Libanês informou que novas informações só serão divulgadas após a realização dos dois exames do protocolo a serem feitos  na tarde hoje.

Solidariedade

Lideranças políticas também se manifestaram publicamente. No Facebook, a presidenta eleita, Dilma Rousseff (PT), publicou uma mensagem de carinho. "Dona Marisa foi o esteio de sua família, a base para que Lula pudesse se dedicar de corpo e alma à luta pela construção de um outro Brasil, mais justo, mais solidário e menos desigual", disse.

Também prestaram solidariedade à família Lula os parlamentares Maria do Rosário (PT), Benedita da Silva (PT), Glauber Rocha (PSOL). O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez uma visita a Lula, assim como o presidente não eleito, Michel Temer, que foi recebido por protestos na entrada do Hospital Sírio-Libanês na noite de ontem (2).


 

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