Minas Gerais

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A Febre Amarela e o crime de Mariana

Riquezas naturais devem ser utilizadas em benefício do povo, mas de uma forma que não prejudique ainda mais a natureza

Belo Horizonte |
Os humanos somente serão contaminados se não tiverem sido vacinados e forem picados por um desses mosquitos ao entrarem na mata
Os humanos somente serão contaminados se não tiverem sido vacinados e forem picados por um desses mosquitos ao entrarem na mata - Reprodução

A Febre Amarela é causada por um vírus, transmitido pela picada de um mosquito. Na Febre Amarela silvestre, os mosquitos podem transmitir o vírus depois de picar um macaco contaminado. Os humanos somente serão contaminados se não tiverem sido vacinados e forem picados por um desses mosquitos ao entrarem na mata.

É mais comum na região amazônica, mas de tempos em tempos surgem casos preocupantes nas proximidades das cidades. Isso acontece quando o vírus encontra uma população de pessoas não vacinadas, desprotegidas da infecção. As regiões mineiras onde os casos estão sendo identificados coincidem com uma baixa cobertura vacinal e a doença tem atingido as populações mais próximas das matas.

A causa desse surto não tem uma resposta simples, vários fatores contribuem, além da falta de vacinação. Especialistas afirmam que a destruição das matas, a diminuição das espécies selvagens e a crescente proximidade das cidades com áreas desmatadas contribuem para que surtos assim aconteçam.

O rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, o maior desastre ambiental do país, alterou profundamente os ecossistemas ao longo da bacia do Rio Doce. A destruição de matas, rios, peixes, sapos, pássaros e outros seres vivos nessa magnitude provoca efeitos nocivos que ainda nem se pode imaginar, ao longo das centenas de anos que a lama estiver contaminando a área. O meio ambiente é uma complexa teia de relações de dependência, onde uma espécie regula o crescimento de outra e a extinção maciça de algumas delas, como causada pela lama da Samarco desequilibra uma grande área nas margens do que antes era um rio cheio de vida.

A baixa cobertura vacinal, principalmente entre as populações dos campos e florestas, deve ser enfrentada com ações que facilitem o acesso dessas comunidades às campanhas de vacinação e às Unidades de Saúde, onde a prevenção e a descoberta precoce dos problemas podem evitar surtos desta e de outras doenças.

Os outros fatores que agravam este surto relacionam-se com a forma de exploração dos nossos recursos naturais, feita de maneira desrespeitosa e gananciosa, movida pela sede de lucros, sem que as consequências para o território sejam consideradas. As riquezas naturais devem ser utilizadas em benefício do povo, mas de uma forma que não prejudique ainda mais a natureza e a população.

*José Geraldo Martins é farmacêutico e militante da saúde.

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