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A fala do comandante do Exército e a indicação de Alexandre de Moraes para o STF

Declaração de auxiliar da República mostra que não existe governo, neste momento, no Brasil

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Comandante do Exército, o general de exército Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, com Michel Temer, em 2015
Comandante do Exército, o general de exército Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, com Michel Temer, em 2015 - Romério Cunha

O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, concedeu importante entrevista ao jornal Valor, no dia 17 de fevereiro, cuja repercussão tem sido abafada por setores da mídia tradicional e, principalmente, do meio político.

O general comentou a calamidade na área de segurança, em que "cerca de 60 mil pessoas são assassinadas por ano, cerca de 20 mil pessoas desaparecem no país por ano e 100 mulheres são estupradas por dia”.

No entanto, mesmo diante deste cenário, ele foi categórico ao afirmar que não cabe às Forças Armadas fazer o papel da polícia no combate à criminalidade, e que a sociedade brasileira não necessita ser “tutelada”, como ocorreu no passado. Outra resposta imediata aos setores que pedem intervenção militar.

Essa crise na segurança pública foi uma das tarefas entregues ao ex-ministro da Justiça Alexandre de Moraes, indicado pela Presidência da República para o Supremo Tribunal Federal (STF) em decorrência da morte do ministro Teori Zavaski. 

Moraes que, à frente do Ministério da Justiça, apresentou-se mais como uma espécie de chefe da “segurança pública” no país, fracassou na sua missão institucional, uma vez que a Polícia Federal "estima que cerca de 80% da criminalidade seja ligada direta ou indiretamente à droga”, como destacou o general Villas Bôas. 

Ou seja, ele não conseguiu se impor nem como ministro da pasta de Justiça nem como chefe da “segurança pública” capaz de enfrentar o tráfico de drogas, alinhado à imagem caricata, por ele construída, de "cortador de pés de maconha".

Ao ser indicado para o STF sem as credenciais necessárias, por ter fracassado no comandado da segurança pública, fica a sensação de que seu nome pode representar uma desestabilização para o prosseguimento das investigações contra os políticos com mandatos eletivos, que estão sob a responsabilidade do Supremo.

Em sua entrevista, o comandante do Exército manifestou, com total convicção, que “hoje somos um país que está à deriva, que não sabe o que pretende ser, o que quer ser e o que deve ser”. Vindo esta declaração de um auxiliar e importante autoridade da República, constata-se que não existe governo, neste momento, no Brasil.

Nessas bases, a aprovação pelo Senado do nome de Moraes para o STF representará a ratificação completa de que “somos um país que está à deriva”, diante de um desgoverno que trabalha sistematicamente contra os interesses do país (inclusive facilitando a aquisição de terras por estrangeiros, na faixa de fronteira, em risco à soberania nacional).

O Brasil está nas mãos de um grupo político que impõe sua sobrevivência à custa dos interesses do povo, num grande conluio contra a nação, sendo que muitos deles respondem a processos criminais no STF e têm seus nomes acobertados na “lista da Odebrechet”.

Com certeza, comandante, estamos no fundo do poço e da degradação política! 

* Jorge Folena é cientista político

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