Coluna

Clube Hebraica do Rio comete erro histórico ao convidar Bolsonaro

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Deputado federal Jair Bolsonaro deve participar de debate promovido pela Hebraica, clube judaico do Rio
Deputado federal Jair Bolsonaro deve participar de debate promovido pela Hebraica, clube judaico do Rio - Wilson Dias/Agência Brasil
Repetição de um erro histórico que pode ter conseqüências desastrosas

O extremista Jair Bolsonaro (PSC) está sendo convidado pela Hebraica do Rio de Janeiro a participar de um debate. É vergonhoso que isso aconteça, na prática uma afronta a tantas vítimas de atrocidades cometidas no Brasil e durante o nazismo na Alemanha. Uma afronta a figuras como Vladimir Herzog, assassinado pela mesma ditadura que Bolsonaro apoia até hoje elogiando torturadores, como aconteceu na Câmara dos Deputados quando o parlamentar homenageou a figura do assassino Brilhante Ustra na votação do impeachment de Dilma Rousseff.

É vergonhoso uma entidade judaica dar espaço a um facínora nazifascista defensor público de torturadores. Não se pode aceitar. É mais do que necessário pressionar a direção da Hebraica-RJ a voltar atrás. Se não fizer isso, sob o falso argumento de que pretende ouvir todos os lados, a Hebraica simplesmente repetirá o erro histórico proporcionado por alguns segmentos da colônia judaica na Alemanha, que chegaram no início da ascensão nazista, a apoiar Adolf Hitler, inclusive realizando entrevista com o assassino chefe dos nazistas em publicações judaicas. E deu no que deu.

Recentemente, em um programa da comunidade judaica intitulado Menorah, foi dado grande espaço à família Bolsonaro, inclusive com imagens do defensor de torturadores quando visitava Israel.

Na comunidade judaica vozes se levantaram em São Paulo contra o convite feito a Bolsonaro pela Hebraica-SP. A mobilização levou a diretoria a voltar atrás e suspender a atividade que seria uma grande vergonha se fosse realizada.

Agora, a tentativa de levar adiante a atividade vergonhosa de dar espaço a um também racista, volta à tona. É mais do que lamentável que uma comunidade que foi tão discriminada ao longo da história, repita o erro ocorrido no início da ascensão do nazismo. Se não se corta o mal pela raiz, o mal pode avançar e em breve espaço de tempo atingir exatamente quem lhe deu a mão.

Ou alguém tem dúvidas sobre o que representa Bolsonaro? Uma pergunta que deve ser feita à comunidade judaica: ter ido a Israel absolve um defensor de torturadores de alguma coisa?

O fato pode remeter também a outra discussão. Ao se criticar a política de guerra do atual governo de Israel, apoiado pelo racista Donald Trump, não é um dever de todos que pelo mundo defendem os direitos humanos? Por que o silêncio ou mesmo o apoio a um governo que comete tantas atrocidades contra os palestinos? Bolsonaro deve ser um apoiador incondicional, como Trump, desse tipo de procedimento e por isso a Hebraica deve convidá-lo para debater?

Esse raciocínio revela ignorância histórica e a vitória do senso comum, o que não pode se tolerado por quem se propõe a defender os direitos humanos em qualquer parte do mundo.

* Mário Augusto Jakobskind é jornalista, integra o Conselho Editorial do Brasil de Fato no Rio de Janeiro, escritor e autor, entre outros livros, de Parla - As entrevistas que ainda não foram feitas; Cuba, apesar do Bloqueio; Líbia - Barrados na Fronteira e Iugoslávia - Laboratório de uma nova ordem mundial.

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