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Ocupação do MTST na Paulista foi muito mais do que luta por moradia, diz coordenadora

Movimento tem consciência de que é preciso permanecer nas ruas e mobilizado para garantir a efetividade do programa MCMV

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Assembleia de encerramento da ocupação, puxada somente pelas mulheres do movimento
Assembleia de encerramento da ocupação, puxada somente pelas mulheres do movimento - Midia NINJA

Após 22 dias de ocupação na região da Avenida Paulista, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MTST) conquistou a retomada do financiamento do  programa Minha Casa Minha Vida nesta quarta-feira (8). Na avaliação de Natália Szermeta, coordenadora do MTST, a vitória tem relação com o fato de a mobilização ter sido muito maior do que apenas uma luta por moradia. "O acampamento conseguiu aglutinar todo esse sentimento contra o governo Temer, sua ilegitimidade e suas políticas, logo no início do ano, de um pacote de retirada de direitos". Agora, os próximos passos do MTST, além da mobilização para que a retomada do programa de moradia seja garantida, são a luta contra a reforma da Previdência no grande ato do dia 15 e as pautas das mulheres.

No mesmo dia em que milhares de brasileiras ocupavam as ruas da cidade lutando contra a retirada de direitos sociais promovida pelo governo ilegítimo de Michel Temer (PMDB), entre outras pautas, líderes do movimento, em reunião com o Ministro das Cidades, Bruno Araújo, em Brasília, conseguiram que o governo atendesse às reivindicações em relação ao retorno do financiamento do MCMV e se comprometesse a analisar outras agendas propostas pelo movimento.

De acordo com o Ministro, "para as próximas semanas, 170 mil novas unidades habitacionais serão contratadas na Faixa 1; 100 mil no Fundo de Arrendamento Residencial; 35 mil rural e 35 mil na modalidade urbana". Em conversa com o Brasil de Fato, Szermeta, explicou que "essas 35 mil unidades estão, de fato, muito aquém do necessário". "O ideal seria uma luta para que conseguíssemos ampliar o programa e dar conta de toda a demanda por moradia, mas isso não é possível neste momento da luta real", completa.

A coordenadora aponta que, frente aos constantes ataques do governo Temer aos direitos sociais adquiridos nos governos anteriores, a luta do movimento foi para que acontecesse a retomada imediata do programa e para que o compromisso assumido no governo Dilma não retrocedesse. Agora, após a conquista de uma das principais pautas da ocupação, ela conta que o MTST tem consciência de que é necessário garantir que o compromisso divulgado pelo governo seja efetivado. "Isso depende dos movimentos sociais irem para a rua, de que a gente permaneça mobilizado", diz.

Ela também ressalta a necessidade da mobilização para que o programa não seja uma forma de "financiamento da classe média", mas sim um programa voltado para a população mais pobre. No último mês, Temer anunciou uma série de mudanças no Minha Casa Minha Vida. Ao mesmo tempo em que incluiu pessoas com rendimentos maiores, não foi anunciada nenhuma mudança ou contratação para a Faixa 1 do programa, que atende aos mais pobres, com renda de até R$1.800.

Mulheres

A conquista da retomada do financiamento do "Minha Casa Minha Vida" ter acontecido no Dia Internacional da Mulher também teve grande significado, conta a Szermeta. "Essa ocupação reafirmou o papel das mulheres. Quem passou lá e esteve presente vivenciou o papel protagonista das mulheres".

"Estamos em um momento em que o ódio que está vindo da direita fascista não é apenas de classe, mas também machista", disse. "O 8 de março mostrou uma mobilização importante e essa conquista só nos deu ânimo e reafirmou o papel importante que têm as mulheres na luta pela resistência".

Perda de espaço

Nesta quarta-feira (8), após a vitória do MTST, o líder do movimento, Guilherme Boulos, divulgou em sua página no Facebook que recebeu uma ligação da direção do jornal Folha de S.Paulo dizendo que ele não seria mais colunista no veículo. A despeito do argumento de uma "renovação natural", Boulos relaciona o gesto à força do acampamento do MTST na Avenida Paulista, "com todas as reações de hostilidade que gerou em empresários e associações sediadas naquela avenida".

Edição: José Eduardo Bernardes