ELEIÇÕES

Extrema-direita europeia testa força eleitoral na Holanda nesta semana

Partido de ultradireita liderado aparece no topo das pesquisas, apesar de, nos últimos dias, ter começado a cair

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Geert Wilders: o rosto do crescimento da extrema-direita na Holanda
Geert Wilders: o rosto do crescimento da extrema-direita na Holanda - Wikimedia Commons

Cinco meses após a vitória de Donald Trump – que se elegeu presidente dos Estados Unidos baseando-se em um discurso xenófobo e protecionista –, a Holanda vai às urnas nesta quarta-feira (15) enquanto assiste, no próprio país, ao crescimento da extrema-direita, que defende posições semelhantes à do mandatário norte-americano.

O pleito é visto como o primeiro teste da ultradireita neste ano. Um resultado favorável ao partido representante deste campo, o PVV (Partido para a Liberdade), do líder Geert Wilders, pode indicar o caminho que França e Alemanha seguirão nas eleições dos próximos meses. Entre os franceses, Marine Le Pen aparece em primeiro ou segundo lugar, dependendo da pesquisa; já entre os alemães, o AfD (Alternativa para Alemanha) deve se consolidar como terceira força política.

O partido de Wilders liderava as intenções de voto até a semana passada, mas foi ultrapassado pelo VVD (Partido Popular para Liberdade e a Democracia), do atual premiê Mark Rutte. Nesta terça-feira (14), véspera da eleição, o PVV aparece disputando o segundo lugar com o CDA (Apelo Democrata-Cristão), de centro-direita, e o centro-esquerdista D66 (Democratas 66).

O que Wilders e o PVV defendem?

Geert Wilders resume o plano de seu partido em uma frase: “ao invés de financiar o mundo inteiro e as pessoas que não queremos aqui, vamos gastar nosso dinheiro nos cidadãos holandeses comuns”. Para o PVV e o político, “milhões de cidadãos holandeses já se cansaram da islamização do nosso país. Chega de imigração em massa e asilo, terror, violência e insegurança”.

O candidato propõe interromper o recebimento de asilados e imigrantes de países islâmicos, “fechando as fronteiras” – em linha com sua posição anti-União Europeia. Wilders também quer proibir o uso de véus islâmicos no serviço público, prender preventivamente “muçulmanos radicais”, fechar todas as mesquitas e escolas islâmicas e banir o Corão da Holanda. Ele já disse que gostaria de tirar do país “a ralé marroquina, que torna as nossas ruas perigosas”. No final de 2016, o político foi condenado por declarações preconceituosas contra a comunidade do país africano na Holanda.

Uma das justificativas de Wilders para ter estas posições é o que ele classifica de “ameaça” aos valores do país. Em entrevista ao jornal USA Today em fevereiro deste ano, o político disse que “os valores holandeses são baseados no cristianismo, no judaísmo, no humanismo”. “Islã e liberdade não são compatíveis", afirmou.

Na mesma entrevista, Wilders disse que não “voltaria para a garrafa” caso perdesse a eleição, e chamou de “primavera patriótica” seu crescimento na política holandesa. “As pessoas estão cheias da combinação de imigração em massa, islamização e medidas de austeridade que fazem com que nós cortemos aposentadorias e recursos para saúde e para os idosos enquanto damos dinheiro à Grécia e à zona do euro." O candidato defende a saída da Holanda da União Europeia, a exemplo do Reino Unido, em um “Nexit” (“Ne” vem de “Nederland”, nome do país em holandês).

O principal oponente de Wilders é Rutte, o atual premiê, do VVD. Em 2010, o mandatário inclusive precisou do PVV para governar, em uma coalizão finalizada em 2012 após saída abrupta dos eurocéticos.

O PVV vinha liderando as pesquisas até meados de fevereiro, quando o partido do premiê Rutte passou à frente. Desde então, nos números médios publicados pelo site Peilingwijzer (Indicador Holandês de Pesquisa), a diferença entre os dois vem aumentando.

Os institutos de pesquisa estimam o VVD conseguindo entre 23 e 27 assentos; o PVV, entre 19 e 23; o CDA, entre 18 e 20; o D66, entre 18 e 20; a Esquerda Verde, entre 15 e 17; o Partido Socialista, entre 15 e 17; e o PvdA (Partido para o Trabalho), de centro-esquerda, de 11 a 13 cadeiras. O Parlamento tem 150 assentos.

Ganha, mas não leva

Mesmo se levar a maioria dos votos, dificilmente o PVV fará o primeiro-ministro – no caso, o próprio Wilders. As pesquisas indicam que os partidos precisarão fazer coligações para governar, já que nenhum deles deve atingir maioria parlamentar (na história recente holandesa, nunca se conseguiu isso), e nenhum deles se diz disposto a se juntar ao PVV para chegar aos 75 assentos.

Isso tem o potencial dar ao governo do país uma coligação superfragmentada. Segundo o jornal The Guardian, para atingir a maioria parlamentar, seria necessário, por exemplo, que VVD, CDA, D66, Esquerda Verde e PvdA se juntassem. A título de comparação, a atual coalizão que sustenta o governo de Rutte é composta somente pelo VVD e pelo PvdA.

Para analistas, a alta fragmentação e a exclusão de Wilders da coalizão governamental, caso seu partido seja o mais votado, podem deixar a Holanda com um governo instável, que precisa lidar com múltiplos interesses dentro da administração. Isso pode causar uma eventual antecipação das eleições, previstas para 2022.

Contagem de votos

A Holanda decidiu fazer a totalização dos votos das eleições no papel, dispensando o uso de computadores na apuração. A intenção é evitar possíveis ataques de hackers na contabilidade dos votos.

Os holandeses sempre votaram em cédulas de papel, mas a contabilização é feita eletronicamente desde 2007. O que muda, agora, é que a totalização será na mão – e o governo afirma que isso não vai afetar a velocidade da apuração.

“Relatos, nos últimos dias, sobre vulnerabilidades nos nossos sistemas levantam a questão sobre se os resultados poderiam ser manipulados. Nenhuma sombra de dúvida pode ser permitida”, disse o ministro do Interior, Ronald Plasterk, em um comunicado divulgado no começo do mês. 

 

Edição: Opera Mundi