Assassinatos

Acusados, citados na CPI das Milícias em Belém, vão a júri popular

O julgamento será nos dias 21 e 23 e os réus respondem pelo homicídio de dois jovens, mortos em novembro de 2014

Brasil de Fato |

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Famílias das vítimias fazem caminhada pela paz e justiça em bairro de Belém em 2015
Famílias das vítimias fazem caminhada pela paz e justiça em bairro de Belém em 2015 - Jean Brito / Jornal Resistênca

Em novembro de 2014, onze jovens foram assassinados em Belém do Pará, após a morte do Cabo Antônio Marcos da Silva Figueiredo (Cabo Pety), membro da Rota Ostensiva Tática Metropolitana da Polícia Militar.

Apenas duas das vítimas tiveram os inquéritos concluídos, como parte da chamada CPI - Comissão Parlamentar de Inquérito de Grupos de Extermínio e Milícias no Estado do Pará. Os acusados, o cabo reformado Otacílio José Queiroz Gonçalves, conhecido como Cilinho, e José Augusto da Silva Costa, o Zé da Moto, irão a júri popular entre os dias 21 e 23 de março. Os demais inquéritos foram arquivados com autoria indefinida.

Felipe Galucio Chaves, de 16 anos, foi uma das vítimas do que ficou conhecida como a "Chacina de Belém", e terá seu caso julgado na próxima semana. Assassinado no dia 4 de novembro de 2014, Felipe dizia que quando crescesse queria ser policial. Sua avó, Maria Auxiliadora Galucio Neves, falou à reportagem sobre suas lembranças dos momentos que tinha com o neto,  que considerava um filho.

"Eu trabalhava aqui na frente, você viu que está um pouco abandonado porque eu vendia churrasco com meu filho. Ele vinha do colégio Celso Malcher. Ele saia daqui 7 horas (19h), ele colocava a mesa, cortava os limões, arrumava tudinho. Deixava e ia para a aula, quando vinha ele tirava comigo. Eu não tenho mais vontade de fazer isso".

Paulo Fonteles Filho, membro do Instituto Paulo Fonteles de Direitos Humanos, acredita que a atuação de grupos de milícia no Brasil caracteriza uma ausência de Estado.

"Que tipo de segurança pública nós temos no Brasil hoje? Qual é a visão, qual é a mentalidade, concretamente? Então é um problema que precisamos enfrentar. E o resultado desse julgamento será decisivo, vai ser uma tragédia para a juventude de Belém e todo nós se esses caras não forem condenados, porque isso é um permisso para mais violência. 

Enquanto isso, as chacinas realizadas por milícias continuam sendo um problema grave em Belém. Em janeiro deste ano outra ronda de homicídios rondou a capital paraense. Após a morte do Policial Militar Rafael da Silva durante uma operação no dia 20, 35 pessoas foram assassinadas.

Edição: Daniela Stefano